O público com mais de 50 anos movimenta aproximadamente R$ 2 trilhões por ano no Brasil — e esse valor pode dobrar até 2044, segundo o estudo “Mercado prateado: consumo dos brasileiros 50+ & projeções”, da consultoria Data8.
Apesar da representatividade, esse contingente segue invisível para a maior parte das companhias: mal representado nas campanhas de marketing, descartado nos processos seletivos e desconsiderado no planejamento de produtos e serviços.
“O mercado ainda olha para o envelhecimento como um problema. Mas isso é um erro estratégico. Envelhecer é uma oportunidade — para quem vive e para quem entende o potencial disso”, afirma Egídio Dórea, médico nefrologista e professor da USP, em entrevista ao programa Humanamente Possível, do NeoFeed.
Envelhecimento ativo e políticas públicas
Considerado um dos principais especialistas brasileiros no tema do envelhecimento ativo e saudável, Dórea transformou o desafio da longevidade em propósito pessoal e político. Na academia, atua orientando organizações e na formulação de políticas públicas voltadas a um país que envelhece, mas ainda não se preparou para esse público.
Segundo estimativas da ONU (Organização das Nações Unidas), os brasileiros acima de 50 anos passaram de 15,1% da população em 2000 para 27,9% em 2024. As projeções apontam que esse grupo deve superar os 50% até 2078.
“A primeira revolução da longevidade foi aumentar a expectativa de vida. A segunda precisa ser garantir que esses anos extras sejam vividos com qualidade”, defende Dórea.
Preconceito etário e consequências econômicas
Para se adaptar ao novo perfil populacional, o médico destaca que o Brasil precisa enfrentar o preconceito etário. Caso contrário, as consequências serão não apenas sociais, mas também econômicas.
“O ageísmo é um preconceito estrutural, institucionalizado. Está no RH que elimina o candidato mais velho antes mesmo da entrevista. Está no plano de saúde que não cobre o que precisa”, afirma.