O microchip de pagamento implantável já está disponível no mercado. Denominado “chip Walletmor”, o produto é injetado sob a pele e permite pagar contas como um cartão de débito ou crédito por aproximação. A tecnologia é oferecida pela anglo-polonesa Walletmor.
Pesando menos de um grama e um pouco maior que um grão de arroz, o microchip não precisa de bateria ou outra fonte para funcionar. Em entrevista para a “BBC News”, o fundador e CEO (Diretor Executivo, na sigla em inglês) da Walletmor, Wojtek Paprota, informa que o produto pode ser usado em qualquer tipo de estabelecimento, desde que sejam permitidos pagamentos sem contato. “O implante pode ser usado para pagar uma bebida na praia do Rio, um café em Nova York, um corte de cabelo em Paris — ou no supermercado local”, constata.
Muito embora o microchip possa facilitar e agilizar o pagamento de contas, essa nova tecnologia deve ser vista com desconfiança, especialmente em meio ao contexto de controle de dados. Segundo a especialista em Tecnologia Financeira, Theodora Lau, o produto deve ser ponderado com os riscos, tendo em vista que os chips podem carregar informações pessoais.
Além disso, Lau constata que os chips de pagamento implantados são apenas “uma extensão da internet das coisas”. Isto é, trata-se apenas de uma forma diferente de efetuar a conexão e troca dos dados acessíveis.
“Quanto estamos dispostos a pagar por conveniência?”, questiona, em entrevista para a “BBC News”. “Onde traçamos a linha quando se trata de privacidade e segurança? Quem protegerá a infraestrutura crítica e os humanos que fazem parte dela?”, alerta.
A tecnologia utilizada pela Walletmor, diferentemente da utilizada em cartões de débito e crédito, é a comunicação de campo próximo, ou NFC (Near Field Communication). Trata-se do mesmo sistema de pagamento por aproximação empregado em smartphones. Os outros implantes de pagamento por aproximação baseiam-se na tecnologia em identificação por radiofrequência (RFID).
Composto por um minúsculo microchip, o chip Walletmor possui uma antena envolta em um biopolímero, material de origem natural semelhante ao plástico. Segundo Paprota, trata-se de uma tecnologia totalmente segura, tem aprovação regulatória e funciona imediatamente após ser implantado. A empresa diz que já vendeu mais de 500 chips.
Nada Kakabadse, professora de Política, Governança e Ética na Henley Business School da Reading University, também se mostrou cautelosa com relação ao futuro de chips mais avançados. Em depoimento para a BBC News, a estudiosa adverte que a tecnologia pode ser “o desempoderamento de muitos para o benefício de poucos”.
Kakabadse também se mantém cética quanto ao microchip. “Existe um lado sombrio da tecnologia que tem potencial para abuso”, diz para a BBC News. “Para aqueles que não amam a liberdade individual, abre novas e sedutoras visões de controle, manipulação e opressão. E quem é o dono dos dados? Quem tem acesso aos dados? E é ético colocar chip em pessoas como fazemos com animais de estimação?”, reflete.