Carregar o nome da deusa grega da vitória pode parecer um tanto quanto presunçoso, mas se você é a maior marca de esportes do planeta, talvez o título seja adequado. Em menos de 60 anos de existência, a Nike revolucionou a forma como tênis são feitos e usados ao redor do mundo e se tornou uma das marcas mais reconhecidas da história.
Originalmente chamada Blue Ribbon Sports, a empresa surge no interior do Oregon para atuar como uma distribuidora de Onitsuka Tigers, um dos tênis mais icônicos já produzidos. Os negócios iam bem, com grande número de vendas. Porém, eventualmente em 1971 o contrato de distribuição seria rompido, mas isso já não seria problema: a essa altura Bill Bowerman já havia criado seus primeiros tênis com solado feito em máquinas de waffles. Isso permitia que os calçados fossem mais leves e tivessem maior aderência ao solo. Em breve os modelos cairiam nas graças de milhões de atletas e praticantes de esporte ao redor do mundo.
Munido de uma tecnologia revolucionária, a companhia muda de nome para Nike e passa a adotar o “swoosh” como logo, hoje reconhecido nos quatro cantos do planeta. Cinquenta anos depois, a Nike é uma companhia com mais de 76 mil funcionários e mais de 720 lojas no mundo todo, com faturamento superior a US$12 bilhões apenas no último trimestre.
O salto
Outro grande divisor de águas na história da Nike foi o lançamento do Air Jordan em 1985. Na época a companhia patinava, tendo de lidar com concorrentes com maiores receitas como a Adidas (OTC:ADDYY) e a Converse, que era a favorita dos jogadores da NBA naquele momento. Tudo mudaria com um contrato fechado com Michael Jordan, uma das maiores estrelas do basquete de todos os tempos.
Além de US$500 mil pelo contrato, Jordan teria um tênis criado sob medida (o Air Jordan) e receberia bônus em stock options proporcionais à quantidade de tênis vendidos. Esse provavelmente seria o maior acerto da história da Nike, já que a remuneração variável fez com que Jordan se empenhasse para que o tênis fosse um sucesso. 36 anos depois, a linha Air Jordan é a principal fonte de receitas da companhia, vendendo mais do que toda a linha de futebol e de training juntas, faturando mais de US$4,7 bi apenas em 2021.
Vitórias e derrotas
Depois de conquistar o pódio dos tênis de basquete com o Air Jordan, roubando os holofotes que antes pertenciam à rival Converse, a Nike acabou adquirindo a concorrente em 2003. Até hoje a marca permanece em seu portfólio de produtos, mas nem todos os investimentos da companhia foram tão bem sucedidos assim.
Em 2002 a Nike adquiriu a fabricante de surfwear Hurley e em 2007 realizou a aquisição da marca esportiva Umbro, com grande penetração no mercado de futebol ao redor do mundo. Infelizmente a sinergia das marcas foi pouca, o que levou a companhia a realizar desinvestimentos, se desfazendo da Umbro em 2012 e da Hurley em 2020.
Jogando em equipe
Apesar de contar com mais de 76 mil funcionários e ser uma das principais marcas de calçados do planeta, a Nike não é dona nem administradora de absolutamente nenhuma fábrica. Todas as 515 fábricas fornecedoras da companhia são terceirizadas, o que permite que a empresa foque no design e desenvolvimento de novos produtos, sem se preocupar com gestão industrial.
Ao pensar em fornecedores da Nike, muito provavelmente a primeira imagem que lhe vem à cabeça são de condições precárias de trabalho em fábricas chinesas, mas esse cenário está mudando. Não apenas a companhia vem estabelecendo metas de melhorias de condições de trabalho para contratar fornecedores, mas também a própria localização deles vem mudando. Com o enriquecimento do gigante asiático nas últimas décadas, as indústrias foram forçadas a se mudarem para o sudeste asiático. Hoje 51% das fábricas fornecedoras da Nike ficam no Vietnã e outros 24% ficam na Indonésia.
Por isso mesmo a companhia vem sofrendo com os efeitos dos lockdowns realizados no Vietnã para conter o avanço da pandemia da Covid-19. Como qualquer varejista, a Nike foi muito impactada com os efeitos da crise causada pela pandemia, porém a baixa alavancagem financeira acabou permitindo à empresa atravessar o cenário conturbado relativamente inabalada: se hoje a dívida total da companhia é de US$12,8 bi, o caixa da companhia cobre com folga, somando US$13,7 bilhões.
Medalha de ouro
À exceção dos mercados de luxo, o varejo de moda não é conhecido por ter margens de lucro muito elevadas. Esse não é o caso da Nike. Com uma margem de lucro bruta de 46%, a fabricante de artigos esportivos daria inveja a Bernard Arnault e à turma da Louis Vuitton (OTC:LVMUY). E não se engane pensando que isso é comum: a média do setor é de 35%.
As receitas também vêm crescendo, somando US$12,2 bilhões no último trimestre, crescimento de 16% em relação a 2020, que foi um ano atípico. A companhia aproveitou o momento de isolamento social para expandir suas vendas diretas por ecommerce, que subiram 29%, totalizando US$4,7 bilhões. O maior crescimento veio no setor de roupas e equipamentos esportivos, que cresceram 20% e 25% respectivamente. No entanto, o volume principal segue sendo de calçados, responsáveis por US$7,7 bi em faturamento.
Entre os desafios enfrentados pela companhia estão o aumento das despesas administrativas, que cresceram 20% no último trimestre, causado principalmente pelo aumento nos salários, somando US$ 3,6 bilhões. Além disso, a Nike ainda sofre com uma alta concentração geográfica: das suas 1.048 lojas, 325 estão localizadas nos EUA. E a empresa sofre para crescer no mercado chinês, sendo o mercado de menor crescimento da companhia, mesmo tendo mais de um bilhão de consumidores potenciais.
Nos últimos três anos a receita da companhia vem crescendo a uma média de 7,41% ao ano. Com esse ritmo de crescimento, em menos de dez anos o faturamento da empresa dobraria, porém esse pode ser um feito difícil de ser realizado para uma companhia que fatura dezenas de bilhões de dólares anualmente. O desafio pode ser difícil, mas certamente os investidores esperam que a Nike seja fiel ao seu slogan: just do it.