Nubank (NUBR33) vê desafio de rentabilização crescer com juros e taxas

Analistas consultados pelo BP Money explicam porque o Nubank pode ter dificuldades para driblar riscos citados em comunicado

O famoso cartão roxinho do Nubank (NUBR33) parece já não ter tantos motivos para que empresários e sócios da fintech comemorem. Apesar do grande sucesso em número de clientes nos últimos anos, no 4T21 as taxas de intercâmbio e os juros relacionados aos cartões de crédito responderam por 27,8% e 22,1% da receita do banco, respectivamente, ante 34,5% e 28,5% em 31 de dezembro de 2020. Essas quedas, segundo o próprio banco, podem afetar adversamente os negócios e resultados operacionais da fintech. 

De acordo com analistas consultados pelo BP Money, o desafio do Nubank não mudou e o banco precisa driblar riscos padrões e específicos de seu setor para monetizar sua base de clientes. 

“O grande desafio do Nubank é como eles irão monetizar a base de clientes deles. Eles surgiram com uma proposta clara de ser um banco sem tarifas e uma plataforma sem custo nenhum. Isso fez com que, obviamente, houvesse um boom de clientes, mas clientes que foram para fugir das taxas, principalmente do cartão de crédito”, disse Thomas Pedrinelli, analista CNPI, responsável pela plataforma MundoInvest.

Na última semana, a fintech informou que o sucesso comercial de sua plataforma de tecnologia dependeu e pode continuar a depender, em partes, do sucesso da frente de cartão de crédito. O problema é que, em meio ao atual cenário da economia, isso pode não ser tão fácil para o Nubank. Isso porque muitas pessoas estão deixando de usar o cartão de crédito com tanta rotatividade, devido ao cenário de alta da inflação e pelo alto nível de desemprego.

Grande parte da receita da fintech é obtida das taxas de intercâmbio que o banco cobra quando um cliente usa um cartão de crédito Nu para fazer uma compra. Outra fatia relevante provém das taxas de juros que o banco recebe do financiamento ou do rotativo de faturas de cartão de crédito Nu dos clientes.

“É importante ressaltar que a Nubank não apresenta uma receita consistente, além do alto custo que tem dentro da própria marca. Isso, em um resumo rápido, reflete nos prejuízos constatados nos últimos relatórios apresentados pela própria empresa”, disse Pedrinelli. 

“O Nubank é um caso de sucesso em todas as pontas quando se trata de analisar um case de Fintech. Mas ela, assim como todas as empresas, precisa faturar para sobreviver”, acrescentou o analista.

Perspectivas de mercado para o Nubank

O Nubank informou que os seus resultados operacionais podem sofrer oscilações e, dessa forma, suas ações e BDRs podem cair. “Nossos resultados operacionais e métricas operacionais podem flutuar e nós geramos e podemos continuar a gerar perdas, o que pode fazer com que o preço de mercado de nossas ações ordinárias Classe A e BDRs caia”, comunicou o Nubank. 

Esse tipo de comunicação não é tão comum de se ver no cenário doméstico. Entretanto, Pedrinelli explica que isso é normal para empresas que têm em seu cerne a governança nos moldes mais claros do ESG. 

“Não é pelo fato de ela estar listada nos EUA que ela tem essa transparência com seus investidores (por mais que isso de aquela “forcinha”), mas sim pelos pilares que a empresa foi construída”, disse o analista.

Em relação às ações e aos BDRs do Nubank, a sócia da Nord Research, Danielle Lopes, destaca que, além do risco padrão de mercado, como taxas de juros e inflação, o Nubank conta com um outro desafio na empresa: sua gestão. 

“Mais de 80% das classes das ações votantes pertencem a David Vélez, então ele pode mudar todo controle da empresa. No caso do Nubank, que passa por muitas mudanças, ter uma cabeça só que pode tomar uma decisão pode ser um pouco complicado lá na frente e uma hora vai acontecer um descasamento dos resultados da companhia com as despesas de remuneração para gestão”, disse Lopes.

Segundo a especialista, com a gestão mais voltada a uma pessoa, em algum momento o banco poderá aumentar salários, benefícios e tornar o negócio desequilibrado. 

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“Isso não necessariamente vai acontecer quando a empresa passar a dar lucros. Ou seja, ter custos minimamente equilibrados com suas receitas, e isso é muito preocupante para uma empresa que praticamente não dá lucro ainda, que ainda tem que cortar muitas pontas de custos ou minimamente ter entrega de receitas”, afirmou Lopes. 

A analista explicou que para investidores pessoa física o investimento no Nubank não é uma boa ideia. “Principalmente para pessoa física, não é interessante fazer um investimento em uma empresa que acontece isso (poder mais centralizado em uma pessoa), dado todas as opções de empresas que já dão lucro e que não devem sofrer com o cenário econômico”, disse a analista da Nord.