A guerra na Ucrânia completou uma semana com as forças de Vladimir Putin aparentemente moderando a intensidade de seus ataques contra a infraestrutura do vizinho enquanto iniciativas diplomáticas ganhavam tração.
Enquanto a quarta (2) está sendo considerada o dia mais violento do conflito até aqui, por ora a quinta registrou movimentos mais lentos. O bombardeamento da capital Kiev e de Kharkiv, segunda maior cidade do país, seguiu, mas menos intenso do que na véspera. Houve, contudo, ataques a áreas civis.
Não houve relato da aproximação da temida coluna blindada que está a nordeste de Kiev. Alguns analistas especulam se há problemas logísticos, como a falta de combustível que atingiu alguns blindados em outros pontos do país, e outros sugerem uma pausa tática antes do cerco final da cidade.
Também houve uma consolidação da situação na estratégica cidade de Kherson, tomada na quarta pelos russos. Ela estabelece uma cabeça de ponte ao norte da Crimeia, a península ucraniana anexada por Putin em 2014 na crise que deu origem à guerra atual.
A partir dali, rumo a leste, os russos deverão tentar conquistar Mariupol e, com isso, estabelecer uma conexão por terra entre a Crimeia e o Donbass, a área do leste do país que também desde 2014 estava em mãos de rebeldes separatistas pró-Kremlin.
Este é um aparente objetivo estratégico secundário da campanha, que visa anular qualquer chance de a Ucrânia entrar na Otan (aliança militar ocidental) ou na União Europeia, embora só o objetivo militar seja explicitado por Putin. O político implicaria evitar fazer do vizinho uma vitrine democráticas para a oposição em seu próprio país.
Seja qual for a resposta sobre o ritmo da ofensiva, ela obedece à lógica política do dia. Uma delegação ucraniana voou de helicóptero para a Belarus para se encontrar com um grupo russo que havia chegado na véspera.
Na segunda (28), a conversa entre eles não deu em nada. Havia uma expectativa vazada pelo Ministério das Relações Exteriores russo de que um cessar-fogo pudesse ser negociado, mas o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, já disse que as demandas russas de rendição são inaceitáveis.
Um dos negociadores ucranianos, David Arajamia, postou no Facebook que no cardápio da conversa está o estabelecimento de “corredores humanitários” para a retirada segura de civis de áreas de conflito. “No mais, serão circunstâncias [que ditarão o rumo da reunião]”, disse.
E Putin também falou nesta quinta com o presidente Emmanuel Macron, da França, que vem adotando uma retórica aguda depois de ter tentado evitar a guerra em visitas a Moscou e Kiev que resultaram em trapalhadas diplomáticas para Paris. O francês também conversou ao telefone com Zelenski.
Cresce na Europa o temor de que a guerra ultrapasse as fronteiras ucranianas. Dia sim, dia sim alguma autoridade russa ou ocidental fala do temor de um conflito mundial, nuclear. O fato de que Putin tem usado essa ameaça desde o dia em que decretou a invasão e, no domingo (27), colocou suas forças estratégicas em alerta máximo só piorou o clima.
Nesta quinta, o chanceler russo, Serguei Lavrov, voltou a falar sobre o tema. “O pensamento sobre [guerra] nuclear está constantemente na cabeça dos políticos ocidentais, mas não na dos russos”, disse, ignorando o que seu chefe tem feito desde o começo do conflito.
Uma das formas com que a situação poderia escalar é a interpretação do Kremlin da ajuda militar de países da Otan à Ucrânia. Milhares de mísseis antitanque e antiaéreos estão sendo prometidos, e é incerto quantos já chegaram –não parece ter havido ainda um impacto decisivo na capacidade de deter os russos, mas isso pode mudar ou instigar mais violência.
Os Estados Unidos repetem insistentemente que a Otan, que lideram, não irá lugar contra os russos. Mas se houver leitura de que armas ocidentais estão matando mais soldados de Putin, há o risco de Moscou achar que está sendo alvo de um ataque direto, para não falar nas brutais sanções econômicas a que vem sido submetida.