Nova febre? Ozempic vira "fórmula de emagrecimento" na Faria Lima

Indicado para o tratamento de diabetes tipo 2, o Ozempic tem feito sucesso, mas por outro motivo: ajudar no emagrecimento

Indicado para o tratamento de diabetes tipo 2, o Ozempic tem feito sucesso, mas por outro motivo: ajudar no emagrecimento. Segundo estudos, o medicamento pode ser um aliado contra a obesidade, o que fez com que a marca viralizasse como a solução para emagrecer, após celebridades norte-americanas “indicarem” o uso. 

O Ozempic logo fez sucesso em uma região específica do Brasil: a Faria Lima. O medicamento se tornou febre entre profissionais liberais e agentes do mercado financeiro. 

Com a rotina apertada e a falta de tempo para se dedicar a uma vida mais saudável, o medicamento passou a ser a solução na região da avenida Faria Lima, centro corporativo e financeiro de São Paulo. 

Uma pessoa que trabalha em um grande escritório de investimentos na Faria Lima falou com o BP Money sobre o uso do Ozempic, mas preferiu manter o anonimato. De acordo com ele, o medicamento não fez efeito, tendo tido, inclusive, enjôos devido a utilização. 

Apesar de não ter feito bem, o especialista de mercado garantiu que procurou um médico que o indicou a medicação. No entanto, ele resolveu procurá-lo justamente após ter visto resultados positivos em colegas de trabalho. 

“Pessoas se deram muito bem com o uso do remédio. Um amigo, por exemplo, conseguiu emagrecer e não foi algo passageiro, então é um remédio que pode ser utilizado de forma positiva, mas com risco de também ser negativo, dependendo muito do médico”, salientou.  

Farmacêutica dispara com vendas de Ozempic

O grande sucesso do remédio fez a farmacêutica Novo Nordisk ultrapassar a Nestlé e se tornar a segunda maior empresa da Europa, atrás apenas da LVMH, dona das marcas Louis Vuitton, Christian Dior. 

O crescimento, de mais de 50% em seis meses, veio a partir da venda expressiva dos medicamentos para emagrecimento como o Ozempic e Wegovy, que tornaram-se extremamente populares. 

A empresa também passou a faturar por meio da rede social “TikTok”, com a “trend” de gravar vídeos mostrando ter feito uso da medicação. Nele, mulheres e homens dançam em frente ao espelho mostrando seus corpos.

Somente no início de janeiro deste ano, segundo o “NeoFeed”, a #ozempic acumulava mais de 385 milhões de visualizações. A #wegovy também viralizou na rede, acumulando mais de 150 milhões de views. Tendo, inclusive, o bilionário e dono do Twitter, Elon Musk, como uma das celebridades que ajudaram a fazer a fama dos remédios. 

O sucesso logo foi refletido nos cofres da farmacêutica. Até agosto de 2022, as vendas de Ozempic movimentaram US$ 6,1 bilhões, um aumento de 86% em relação ao ano anterior. No mesmo período, o Wegovy chegou a US$ 536 milhões. 

Já o lucro operacional da novo Nordisk cresceu a taxas de câmbio constantes de 13% a 16% acima da meta prevista anteriormente, estimada entre 11% e 15%. 

No terceiro trimestre de 2022, o aumento foi de quase um terço, para US$ 2,7 bilhões acima dos US$ 2,6 bilhões esperados. 

O BP Money entrou em contato com a farmacêutica. A Novo Nordisk, no entanto, afirmou que não comenta números isolados, mas garantiu que analisaria a possibilidade de responder aos questionamentos. Até o presente momento, o site ainda não obteve retorno. 

Conheça o Ozempic e como ele age 

O Ozempic é o nome comercial da semaglutida, uma das substâncias que atua no tratamento do diabetes tipo 2, sendo a versão sintética de uma substância do organismo chamada de GLP-1, responsável por melhorar a liberação de insulina pelo pâncreas, induzir o estômago a esvaziar mais devagar e controlar as sensações de fome e saciedade no cérebro.

O medicamento é aplicado uma vez por semana, pois não há versão em cápsulas. Para usá-lo no tratamento da obesidade, é preciso ter o IMC (índice de massa corporal) acima de 30, ou acima de 27 com comorbidades associadas. 

No início deste ano, foi aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o uso do primeiro medicamento injetável para o tratamento de sobrepeso e obesidade: o Wegovy (semaglutida 2,4 mg), da farmacêutica Novo Nordisk.

O composto já era utilizado no país para o tratamento do diabetes tipo 2, com o Ozempic, e aplicado para obesidade de forma off-label, sem orientação da bula, como explicou o Dr. Fabio Trujilho, diretor do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.

“É importante a gente diferenciar que o Wegovy tem uma dosagem maior, que foi a que se mostrou nos estudos com os melhores resultados para o tratamento da obesidade. Muitos profissionais que trabalham com Ozempic, sendo importante frisar que, em bula, ele tem indicação apenas para o diabetes, então o médico usa em forma off-label uma dose maior para que se aproxime do que o Wegovy tem para o tratamento da obesidade”, afirmou Trujilho ao BP Money.

Há efeitos colaterais?

Como o medicamento serve, inicialmente, para o tratamento do diabetes tipo 2, recorrer ao seu uso sem critério pode provocar efeitos colaterais indesejados, e até uma piora no quadro da obesidade. Porém, segundo Trujilho, se bem prescrito, o perfil de segurança é positivo.

“Esse medicamento virou febre, pois é um dos medicamentos que apresentam bons resultados em relação a perda de peso, geralmente com poucos efeitos colaterais quando bem prescrito, e apresenta um perfil de segurança muito grande”, salientou o especialista.

“O uso desse medicamento sem um acompanhamento de um profissional pode ser muito perigoso. Primeiro que o ajuste da dose pode ser individualizado, e só um médico com experiência nesses casos poderá fazer esse ajuste de forma adequada. Além disso, existem algumas contra-indicações, dentre elas o tumor medular de tireóide e pessoas que tiveram histórico de carcinoma de pancreas”, completou Trujilho.

Ainda de acordo com o diretor do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, é preciso diferenciar o emagrecimento da obesidade, pois muitas pessoas que não são obesas também estão utilizando o remédio, aumentando o risco do uso. 

“Mas é importante salientar que devemos sempre diferenciar a palavra emagrecimento de obesidade. A semaglutida (2,4 mg) é um medicamento utilizado para a obesidade, então quando usamos para emagrecimento estamos usando para pequenas perdas de peso, que não teriam o critério de indicação, o que acabaria podendo incorrer em mais riscos”, destacou.  

Redes de farmácias confirmam alta procura

O BP Money entrou em contato com as principais farmácias e drogarias da região da Faria Lima, e todas confirmaram o alto número de procura pelo medicamento, que chega a custar mais de mil reais. 

Uma funcionária de uma grande drogaria afirmou que o produto “sai bastante”, tendo sido, inclusive, interrompido o recebimento do Ozempic de 1mg em decorrência da alta procura.