Três parlamentares, dos Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia, divulgaram um comunicado nesta terça-feira (4) no qual pedem que os governos investiguem a empresa brasileira JBS por suas práticas comerciais e possível relação com o desmatamento da Amazônia.
O pedido foi feito por Bob Menendez (democrata), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado dos EUA, Ian Liddell-Grainger (conservador), membro do Parlamento Britânico, e Norbert Lins (alemão, ligado ao partido dos democratas cristãos), eurodeputado e presidente da Comissão de Agricultura e Desenvolvimento Rural do Parlamento Europeu (braço legislativo da União Europeia).
“Como legisladores da Europa e dos Estados Unidos, temos observado com preocupação crescente as problemáticas práticas de negócio da companhia brasileira JBS, de sua matriz, a J&F Investimentos, e de suas subsidiárias”, diz o pedido.
“Estamos unidos em pedir à Justiça e às agências de segurança de nossos respectivos governos que conduzam investigações coordenadas sobre as práticas de negócios da JBS, de modo a garantir que a companhia seja forçada a operar sob as normas financeiras e ambientais exigidas de todos os negócios. Também encorajamos nossos governos a escrutinar as práticas anticompetitivas da JBS e avaliar se os abusos da companhia podem danificar as cadeias de produção de comida de forma permanente”, pedem os parlamentares.
“Permanecemos profundamente preocupados pelo incômodo histórico ambiental da JBS na América do Sul e com o dano que a companhia tem causado na floresta amazônica, por obter gado de fazendas que contribuem para o desmatamento”, acusam.
“Na última década, a JBS ganhou notoriedade global por seu envolvimento em um amplo espectro de atividades criminais, tendo assumido a culpa de 1.500 casos de propina no Brasil, assim como de violações para fixar preços. A companhia também assumiu a culpa por violar a lei americana sobre corrupção estrangeira, e ainda tem de pagar bilhões de dólares em multas criminais”, prossegue o documento.
Os parlamentares apontam que Wesley e Joesley Batista permanecem como acionistas majoritários da empresa, apesar de terem sido alvo de vários processos. Os dois, no entanto, não estão em postos oficiais de comando.
Em 2016, a Polícia Federal descobriu indícios de corrupção praticada pelo grupo JBS. Em maio de 2017, Joesley e Wesley decidiram se antecipar às investigações e fechar um acordo de delação com a PGR (Procuradoria-Geral da República) e fazer uma leniência (delação feita por empresas) com o MPF (Ministério Público Federal). Eles também fizeram acertos com autoridades americanas. No total, abriram mão de cerca de R$ 12,4 bilhões, considerando ativos próprios e da J&F, mas, em quatro anos, viram as ações da JBS triplicarem de valor.
Em dezembro, seis redes europeias de supermercados, incluindo uma subsidiária do Carrefour, disseram que não venderiam mais alguns derivados de carne bovina do Brasil devido a laços do setor com o desmatamento da floresta amazônica. Muitos dos produtos afetados são da JBS, a maior processadora de carne do mundo, e uma das maiores do setor nos EUA.
Os boicotes europeus foram uma reação a uma investigação da entidade Repórter Brasil, que alegou que a JBS utilizou carne de vacas de pastos em áreas desmatadas ilegalmente, em um esquema conhecido como “lavagem de gado”. O esquema ocorre quando o gado criado em um lote de terra desmatado ilegalmente é vendido a uma fazenda legítima antes da venda para um abatedouro para ocultar sua origem.
Procura pela reportagem, a JBS não comentou.
O preço da carne teve forte alta nos EUA em 2021, e o governo Biden culpa a concentração de mercado entre poucas empresas produtoras como uma das razões para isso. Em julho, o governo Biden lançou um plano de US$ 1 bilhão para incentivar o avanço de pequenos produtores, como forma de combater a concentração de mercado. O presidente teve uma reunião com fazendeiros e produtores de carne na segunda (3), para debater o andamento do plano.
O senador Menendez já havia feito um pedido similar de investigação contra a JBS, em agosto de 2021. Na época, ele pediu ao Departamento do Tesouro que investigasse se a empresa teria usado recursos ilícitos para bancar sua expansão nos EUA. A empresa fez grandes aquisições no mercado americano nas últimas décadas.
O senador democrata também tem feito pressão contra o governo de Jair Bolsonaro. Em setembro, ele enviou uma carta ao governo Biden pedindo que o presidente americano deixasse claro ao Brasil que uma ruptura democrática teria sérias consequências.