Um fundo administrado pela Pátria Investimentos enfrenta uma situação desafiadora ao registrar o valor de sua cota com um resultado extremamente negativo, tornando-se o foco de atenção na área financeira de São Paulo, desde ontem, quarta-feira (27), e gerando questionamentos sobre o histórico da gestora semanas após a polêmica envolvendo a marcação de ativos pelo setor de análise e distribuição de investimentos.
O Pátria Special Opportunities II – FIP Multiestratégia necessitará de um aporte adicional após sua cota despencar de R$ 10,55 para um valor negativo de R$ 301,04. As informações foram relatadas pelo Brazil Journal.
Essa cota negativa reflete a situação do investimento realizado pelo Pátria na Tenco, uma rede de 13 shopping centers com foco em cidades de médio porte. Embora a gestora tenha se desfeito do problema, terá que lidar com danos em sua reputação ao ter que solicitar um novo aporte dos cotistas.
Segundo informações obtidas por fontes próximas à gestora, relatadas ao Brazil Journal, um total de seis fundos possuíam exposição aos ativos da Tenco. Para custear as despesas relacionadas à venda dos ativos, que incluem gastos com assessores e contingências de curto prazo, o Pátria utilizou os recursos disponíveis nos caixas desses seis fundos. No entanto, o Special Opportunities II não dispunha de caixa suficiente para lidar com essa situação.
Os sócios do Pátria, sendo eles importantes cotistas do Special Opportunities II, já estão em contato com outros cotistas para discutir a maneira como será realizada a capitalização. Apesar de os detalhes sobre o montante e as condições não serem públicos, os sócios do Pátria estão se comprometendo a aportar recursos para resolver a situação.
“Depois de conhecer os detalhes do negócio, os cotistas vão tender a concordar em pagar ‘x’ para se livrar de um problema de ‘10x’ por conta das contingências que foram na ‘porteira fechada’,” resumiu uma fonte próxima à gestora.
A transação, o Pátria disse numa nota, foi realizada na modalidade “porteira fechada”, com a transferência de todos os ativos, passivos e obrigações da holding e de seus shoppings para o comprador, o nome não foi revelado. De acordo com o fundo, o comprador “tem expertise em reestruturação de negócios e empresas do setor imobiliário”.
Em 2020, quando investia na Tenco, operadora de Shoppings, através do Pátria Special Opportunities I, a Pátria não teria comunicado aos cotistas que a gestora de shoppings passava por dificuldades, com uma dívida de R$ 1,1 bilhão. Mas, o elefante na sala começou a aparecer quando o Pátria trocou a empresa que avaliava os shoppings.
A empresa contratada derrubou o valor dos ativos em 38%, ainda assim o fundo tentou negociar com os bancos credores, na expectativa de ainda obter lucro. Ideia essa que foi completamente aniquilada pela crise da Covid-19, que os shoppings tiveram que fechar as portas.
Na metade do ano, houve uma nova avaliação do fundo e foi quando os investidores perceberam que quase 100% do capital investido virou “pó”. A cota do fundo, que começou valendo R$ 1.000, e chegou a bater R$ 1.500, tava valendo R$ 4,00. Além disso, os cotistas também viram o tamanho do buraco na Tenco, que só em 2020 teve um prejuízo de R$ 126 milhões.
Uma consultoria foi contratada pela Pátria, que ofereceu duas opções para o caso da Tenco: capitalização ou recuperação judicial. Tendo a primeira opção como escolhida, a gestora de fundos apresentou uma “nova” oportunidade de investimento aos cotistas, tendo início o Pátria Special Opportunities II.
O Special Opportunities II levantou cerca de R$ 106 milhões e cerca de 70% dos recursos vieram dos próprios sócios do Pátria.
No início de 2021, o Brasil enfrentou uma segunda onda da covid-19, que mais uma vez resultou no fechamento dos shoppings. Diante dessa situação desafiadora, o Pátria Investimentos tomou uma decisão drástica: informou aos cotistas que, ao invés de tentar recuperar o “principal” investido, optaria por vender os shoppings para quitar as dívidas e minimizar as contingências que afetavam o fundo e os cotistas.
Esse processo doloroso está chegando ao fim agora, com a conclusão da venda dos últimos quatro shoppings.
Pátria Investimentos capta R$ 1 bi no varejo da XP
A Pátria Investimentos captou R$ 1,8 bilhão com investidores de varejo da XP Investimentos para seu novo fundo de private equity, o Pátria Private Equity VII Advisory FIP Multiestratégia, voltado para saúde, educação, alimentos e serviços.
Essa foi a primeira investida da gestora Pátria no varejo brasileiro em seu principal segmento de atuação. Até então, estava restrito a investidores de maior porte e institucionais de presença global.
“Em linha com as nossas estratégias, os recursos captados pelo Pátria Private Equity VII Advisory serão investidos em setores resilientes, que geram impacto positivo na vida das pessoas e são relevantes para a economia”, comentou, em nota, José Augusto Teixeira, sócio e head de marketing e produtos do Pátria no Brasil.