A Petrobras (PETR4) manterá sua política de preços inalterada, mesmo com as mudanças “injustificadas” dos presidentes da companhia, afirmou Marcelo Mesquita, membro do Conselho de Administração.
Segundo Mesquita, o estatuto da Petrobras e a Lei das Estatais, aprovada em 2016, asseguram que a estatal possa ter autonomia sobre sua política de preços, e não seja obrigada a ceder às pressões e intromissões do governo federal.
“A única interferência foi a troca contínua e injustificada de CEOs […] Infelizmente, o acionista controlador não se importa com a continuidade da empresa.”, disse o conselheiro.
O estatuto a qual Mesquita se refere exige que caso o governo federal force mudanças na política de preços ao ponto de deixar o valor do combustível abaixo da comparação do mercado, deve haver, de alguma forma, compensações para a empresa.
“Se a Petrobras fosse privatizada não passaria por essa loucura toda”, afirmou Mesquita. O conselheiro foi eleito através da indicação de acionistas minoritários, e não enxerga riscos para novas mudanças na política de preços da petroleira.
Governo federal tenta impedir um novo aumento do preço dos combustíveis por parte da Petrobras
O presidente da república, Jair Bolsonaro (PL), afirmou que não quer que sejam realizados mais ajustes na gasolina, diesel e gás de cozinha até as eleições deste ano, que serão realizadas no mês de outubro, de acordo com fontes do “G1”.
Bolsonaro, que já vem demonstrando insatisfação com a política de preços aplicada pela estatal há alguns meses, agora avalia, juntamente com seu conselho, a criação de mecanismos para fazer com que a petroleira evite reajustar os preços dos combustíveis, após a terceira troca de comando da empresa desde o início de 2019.
De acordo com apuração da “Folha de S.Paulo”, um desses mecanismos iria estabelecer faixas para o preço internacional do petróleo, considerando que, caso o preço do barril varie dentro do que foi delimitado, a empresa não poderia fazer reajustes.
Ações da estatal já sentem impacto das recentes mudanças
As ações da companhia abriram em queda de 3% no pregão da última terça-feira (24) na B3. A queda foi uma sinalização negativa do mercado em relação à troca de comando da estatal. Enquanto isso, nos EUA, os ADRs da Petrobras caíram cerca de 2% na abertura da Bolsa.
Ainda, ao longo do dia, os papéis da empresa caíram até 5,8% em São Paulo, desempenho inferior aos pares globais.
Entretanto, ainda será necessário aguardar as próximas decisões e declarações do governo federal e da estatal para descobrir os rumos da política de preços. De acordo com Pedro Kolar, analista da Reach Asset, em entrevista ao BP Money, os preços dos combustíveis devem seguir no mesmo patamar que estão hoje até as eleições, que ocorrem em outubro. O problema, porém, é a possibilidade da escassez de combustíveis.
“Se a gente assumir que hoje está na paridade, o que temos ouvido é que não vai ter mais nenhum reajuste, nem pra cima nem pra baixo, até a eleição. O risco disso é você ter um desabastecimento. Se o dólar subir ou os combustíveis no exterior subirem muito, a Petrobras não vai importar porque não pode ter prejuízo e você pode ter desabastecimento. Assim como a Petrobras, ninguém vai querer importar com prejuízo, e aí o mercado fica desabastecido. Esse é o principal risco. Mas eu acho que no cenário atual isso não deve acontecer”, disse Kolar.