Os “bons olhos” do mercado têm guiado as petroleiras brasileiras a um patamar positivo este ano. No desempenho acumulado até aqui, todas as principais ações do setor tiveram ganhos, mesmo que pequenos, mas essa perspectiva também lança as “juniores” à necessidade constante de aprimorar seus atrativos em meio à concorrência.
A ampliação de negócios no setor segue a todo vapor, com o acordo de fusão entre a 3R Petroleum (RRRP3) e a Enauta (ENAT3) finalizado e os avanços da Petrobras (PETR4) em novos ativos de exploração no exterior.
Enquanto isso, mesmo com a tentativa de fusão com a 3R não dando certo, a PetroReconcavo (RECV3) firmou acordo com a companhia para compartilhamento de um ativo no Rio Grande do Norte. Já no caso da Prio (PRIO3) o mercado segue esperando crescimento de produção, como indicou análise recente do banco Safra.
O desempenho das ações do setor na B3 se mostrou positivo até o momento, com a Petrobras, maior petroleira do Brasil, despontando com ganhos de 19,09% no ano. Logo atrás, a Enauta valorizou 7,75% – porém já não está mais listada na Bolsa – e a 3R Petroleum 3,08% nesse período.
A PetroReconcavo não foi tão favorecida, subindo 1,86% no acumulado de 2024, enquanto a Prio segue na “lanterna” do ranking, com ganhos de apenas 0,32%.
Como fica a batalha por atratividade entre as petroleiras ‘juniores’ no médio prazo?
- A relação entre as empresas menores do setor de petróleo viveu um enredo digno de novela no início deste ano. A 3R Petroleum e a PetroReconcavo, já em janeiro, começaram as negociações para firmar um acordo de fusão. O mercado esperava que dali surgisse uma nova empresa estrategicamente bem posicionada para buscar crescimento e controlar as operações, o que não aconteceu. A conversa esfriou e a Enauta entrou na pauta, propondo uma fusão à 3R no início de abril, proposta que foi aceita poucos dias depois e recebeu aprovação do Cade no início de julho.
“A fusão entre 3R Petroleum e Enauta, embora ainda não tenha sido concluída, promete criar uma nova gigante entre as juniores do setor. A empresa resultante deve se posicionar como uma das líderes em produção e exploração em campos maduros, com uma vantagem competitiva significativa devido à sinergia entre os ativos das duas companhias”, comentou Alex Andrade, CEO da Swiss Capital Invest, em resposta ao BP Money.
“O foco em eficiência operacional e a possibilidade de maior acesso a capital também são fatores que devem tornar essa nova entidade uma das mais atrativas para investidores que buscam exposição ao setor de petróleo no Brasil”, continuou.
- Por um breve momento, ainda no começo do processo de fusão com a 3R, a Enauta indicou interesse em manter conversas com a PetroReconcavo para seguir com novos negócios, quem sabe ter a rival como sócia no futuro, essa ideia estava “contemplada nos planos futuros da [nova] companhia”, disse o CEO da empresa, Décio Oddone, na época. Mas a divergência de sinergias entre as companhias não permitiu que a intenção se concretizasse.
“Para o setor, esse tipo de negócio conjunto seria visto como uma jogada estratégica para consolidar forças, reduzir custos e aumentar a competitividade em um mercado altamente volátil. Isso também poderia sinalizar uma tendência de consolidação entre as juniores do setor, buscando formas de se proteger contra a volatilidade dos preços e otimizar suas operações”, analisou Anderson Santos, especialista em mercado de capitais e sócio da Matriz Capital.
- Entrando no território da Prio, o papel foi escolhido como o preferido do Safra no setor, visando às expectativas de crescimento de produção junto a um histórico sólido de alocação de capital. O banco recomenda a compra da ação, esperando que a empresa tenha um forte fluxo de caixa livre, considerando que a produção da petroleira chegue a 86 mil e 128 mil barris de petróleo por dia em 2024 e 2025, respectivamente.
“A Prio, conhecida por sua estratégia agressiva de aquisições, deve continuar expandindo seu portfólio de ativos, o que pode levar a um aumento significativo de produção no médio prazo”, reforçou o CEO da Swiss Capital Invest.
“Para Prio, a expectativa é que continue focando na melhoria da eficiência e na exploração de novas oportunidades, possivelmente buscando aquisições estratégicas”, frisou Santos.
- O aumento da capacidade de produção é a meta das petroleiras. Nos resultados do segundo trimestre de 2024 (2TRI24), a Petrobras reportou uma alta de 2,4% em sua produção de petróleo e gás natural em 12 meses, com média de 2,7 milhões de boed (barris de óleo equivalente por dia).
- A PetroReconcavo produziu em média 26,9 mil boed em junho, no mesmo mês, a produção média consolidada de 3R e Enauta somou 51,8 mil boed. Já a Prio registrou uma produção média de 88,2 mil boepd em junho.
“Em um ambiente de volatilidade nos preços do petróleo, as petroleiras juniores devem adotar estratégias que assegurem a atratividade de seus ativos. Isso inclui a diversificação de suas operações, a busca por eficiência operacional, a redução de custos e a manutenção de uma estrutura de capital saudável”, afirmou Andrade.
“É essencial que essas empresas invistam em tecnologia para melhorar a eficiência de extração e produção, bem como na gestão de riscos para mitigar os impactos da volatilidade dos preços do petróleo”, disse o sócio da Matriz Capital.
- Pegando um aparato dos balanços das petroleiras brasileiras no 2TRI24, os resultados foram mistos. A Petrobras (PETR4) registrou prejuízo de R$ 2,6 bilhões, revertendo o lucro anterior, a PetroReconcavo teve retração de 23% no lucro, a Prio, por outro lado, viu seu lucro crescer 48%, enquanto a 3R Petroleum reverteu seu prejuízo anterior e lucrou R$ 79,4 milhões no período.
“A Petrobras apresentou números sólidos, beneficiada pela recuperação dos preços do petróleo e pela manutenção de sua política de dividendos generosos, o que agradou os investidores. Por outro lado, a Prio (ex-PetroRio) e a PetroReconcavo mostraram certa resiliência, mas com variações em suas produções, o que gerou algumas incertezas no mercado”, afirmou Andrade.
O destaque para a 3R foi sua consistência na entrega de projetos, porém com desafios com a integração de ativos adquiridos, ressaltou Andrade.
Apesar de reforçar a visão sobre a Petrobras, Anderson Santos, analisou que as petroleiras menores foram mais desafiadas pelos preços do petróleo e “questões operacionais específicas”.
“No geral, o mercado reagiu de forma cautelosa, com uma maior ênfase nos desafios que essas empresas enfrentarão no segundo semestre, especialmente em relação à gestão de custos e à eficiência operacional”, finalizou o sócio da Matriz Capital.