Antes de assumir a presidência do Brasil, Jair Bolsonaro (PL) já dizia que, se eleito, um de seus planos era privatizar a Petrobras (PETR3;PETR4). O presidente chegou a dizer que, “se a empresa não tivesse solução”, iria sugerir uma privatização para “acabar com o monopólio da estatal”. A pauta nunca saiu da agenda durante seu governo, mas voltou a ganhar mais força recentemente, com o aumento dos preços dos combustíveis.
Mesmo acreditando ser bastante improvável que a privatização da petroleira venha a acontecer – por falta de consenso até dentro da própria base de apoio do governo – o economista da Guide Investimentos Victor Beyruti destaca que a companhia seguiria, a princípio, implementando a política de paridade com os preços internacionais, o que não culminaria em uma queda dos preços do diesel e da gasolina para o consumidor final.
“Em um cenário hipotético que a privatização aconteça, como a Petrobras ainda segue a paridade de preço internacional, em primeiro lugar, os preços dos combustíveis não mudariam para o consumidor. Até porque o que o governo está fazendo para tentar conter esses preços é o que a empresa já iria fazer: a contenção do ICMS e a mudança de alguns impostos”, disse Beyruti.
Na última sexta-feira (3), o Itaú BBA informou ao mercado que a inclusão da Petrobras na carteira do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) do Ministério da Economia era um “mero passo formal” para iniciar “um longo e árduo caminho para o processo de privatização” da estatal petroleira.
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Bolsonaro sempre utilizou como premissa a ideia de que a privatização da Petrobras geraria mais concorrência no mercado por quebrar o monopólio da petroleira no Brasil, o que, de certa forma, pressionaria a empresa a diminuir preços ao consumidor final.
Para Beyruti, da Guide, o raciocínio faz sentido, visto que a privatização atrairia investimentos no setor de combustíveis do País.
“Na ponta positiva, o que poderia ajudar a reduzir o preço mais pra frente é a maior atratividade do investimento nesse setor dentro do Brasil. Acabaria gerando maior interesse das empresas de fora em postos aqui, que não existe muito, já que a Petrobras é praticamente um monopólio e é controlada pelo governo. Ou seja, abriria mais espaço para a competitividade, e provocaria maior eficiência da empresa. Eventualmente, poderia ajudar nessa questão dos preços ao consumidor final”, afirmou o economista.
Para Sidney Lima, analista da Top Gain, a privatização é bem-vinda, principalmente por atrair novos investimentos. “Espera-se que, com o processo, inclusive, tenhamos uma melhor eficiência entre receita e despesa da empresa, tendo em vista que ela passaria a focar com maior intensidade nos segmentos mais lucrativos e rentáveis”, disse.
Bolsonaro diz que privatização da Petrobras “é muito difícil”
Apesar das tentativas e do discurso proclamado pelo governo, nesta segunda-feira (6), o presidente Jair Bolsonaro admitiu, durante entrevista ao canal Agro+, que “a privatização da Petrobras é muito difícil”.
“Conversei com o ministro das Minas e Energia. Ele tem essa intenção (de privatizar a Petrobras), deu o pontapé inicial, mas dificilmente vai para frente. Correndo tudo certo, vai levar uns quatro anos. E você tem que modular isso aí, não pode ser simplesmente ‘quem pagar mais leva’”, declarou o presidente.
Na última divulgação de resultados da Petrobras, há cerca de um mês, a estatal anunciou o seu terceiro maior lucro trimestral da história, de R$ 44,5 bilhões. O fator foi preponderante para que Bolsonaro voltasse a dizer que os lucros da companhia são “exagerados” e estão ligados diretamente aos preços dos combustíveis.
Vale destacar, entretanto, que a União é a maior acionista da petroleira. Ou seja, quanto maior o lucro da empresa, mais dividendos o cofre recebe. Em 2021, o Governo Federal recebeu R$ 37 bilhões em dividendos da companhia, após um lucro recorde da Petrobras de R$ 106,668 bilhões.
De acordo com Victor Beyruti, da Guide, o governo, de fato, perderia essa fonte de recursos, no caso de uma privatização da petroleira. “Por outro lado, com uma maior competitividade no mercado, a Petrobras poderia ganhar com arrecadação. Mas é um cenário hipotético”, avaliou o analista.