A Oracle, uma das maiores empresas de tecnologia do país, virou alvo de uma ação judicial após um contrato de implementação de seu software no valor de R$ 1 milhão ter sido encerrado devido a uma denúncia de racismo. O caso envolveu uma fornecedora homologada de seus serviços e um dos clientes desta prestadora.
O diretor-técnico da Proz Educação, Juliano Pereira dos Santos, afirma ter sido chamado de “negão” por Matheus Mason Adorno, representante da Optat Consulting, durante uma videoconferência para tratar da revisão de um contrato. Por encarar como racismo, o executivo entrou com um processo na Justiça contra Adorno na sexta-feira (24), na comarca de Campinas (SP), e contra a Oracle do Brasil Sistemas Ltda. na segunda-feira (27), no Foro Regional de Santo Amaro, na capital paulista.
Com o episódio, a parceria entre Proz e Optat para implementação de um software de gestão financeira na nuvem da Oracle foi encerrada. O projeto, orçado em R$ 1 milhão, foi repleto de trocas mútuas de acusações, uma guerra de notificações extrajudiciais e, agora, culmina em duas ações indenizatórias por danos morais no valor de R$ 50 mil cada.
Projeto cheio de problemas
Santos aponta que, após seis meses de trabalho conjunto, o projeto não andava e apresentava erros básicos de implementação por parte da Optat. Durante uma reunião em outubro de 2021, a Optat propôs cobrar R$ 230 mil pelo retrabalho, que demandaria 1.800 horas. Ofereceu um desconto de 8% sobre o valor.
Juliano Pereira dos Santos, diretor-técnico da Proz Educação | Foto: Divulgação
No entanto, o executivo da Proz não gostou. Esperava que a Optat arcasse com metade do prejuízo, uma vez que a implementação inicial levaria só 200 horas. Sem sucesso, disse que havia indicado a parceira a outras empresas e, diante do novo cenário, teria perdido a confiança na Optat.
Segundo Santos, a resposta de Adorno foi a seguinte: “Aí não, negão. Aí você quer me foder”. Até aquele momento, ambos só tinham conversado uma vez. Para Santos, o tratamento dispensado por uma pessoa que mal conhecia e durante uma reunião de trabalho só tinha uma explicação: racismo.
Com isso, explodiu e respondeu: “‘Negão, o caralho’. Disse que não tinha desculpa, que não negocio com racista, que aquilo era crime e que não ia ficar assim”, explicou.
“Se viesse de um amigo, negro, e se a gente estivesse conversando num ambiente familiar, não teria problema. Mas num contexto de uma pessoa branca que eu não conheço, com quem não tenho intimidade, discutindo comigo uma soma de dinheiro considerável, é claramente agir de forma a me desmoralizar, e isso é inaceitável. É muito simples separar uma coisa da outra”, destacou Santos, segundo o Uol Economia.
Caso ganhe a ação, Santos afirmou que não pretende ficar com a indenização, mas sim doar para bolsas de estudos em cursos de tecnologia. “Esse dinheiro precisa ser revertido pra incluir e formar novas lideranças negras na área de tecnologia, que hoje é uma área majoritariamente de homens brancos”, salientou.
A Proz informa ter contabilizado um prejuízo de R$ 400 mil para contratar outro fornecedor homologado pela Oracle para reiniciar o projeto. Mesmo assim, decidiu apoiar o funcionário.
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Em nota enviada ao Uol, a empresa afirma que a companhia rescindiu o contrato assim que recebeu o relato do episódio de racismo, notificou a organização e tomou outras medidas cabíveis. “Apoiamos e apoiaremos sempre nossos colaboradores em qualquer situação de discriminação vivida no ambiente empresarial”, contou.