A gigante do setor de cosméticos Revlon está se preparando para entrar com pedido de falência nesta semana. A empresa, que já amargava o aumento da concorrência no setor, vem enfrentando uma série de problemas na cadeia de suprimentos durante a pandemia, além de carregar uma pesada carga de dívida. Desde que a informação chegou ao mercado, nesta sexta-feira (10), as ações da companhia despencaram 53%, a maior queda da Bolsa de Nova York (NYSE) no dia, encerrando negociadas a US$ 2,05.
A Revlon deve recorrer ao Capítulo 11 (Chapter 11), que trata da lei de falências nos Estados Unidos. O dispositivo legal é análogo à recuperação judicial no Brasil, porque permite às empresas com dificuldades financeiras apresentar um plano de negócios aos credores para negociar um prazo para restabelecer sua operação e pagar suas dívidas.
A marca Revlon é controlada pela holding MacAndrews & Forbes, do bilionário norte-americano Ronald Perelman. Segundo fontes ouvidas pelo “The Wall Street Journal”, a alta concorrência no setor, além da pressão inflacionária sobre os custos operacionais, teve grande influência na decisão pelo pedido de falência.
Com sede em Nova York, a Revlon disputa mercado com a Estée Lauder, L’Óreal, Clinique, Maybelline e diversas empresas menores que cresceram com as redes sociais.
Apesar da leve recuperação das vendas no primeiro trimestre deste ano, que aumentaram 7,8% na base anual, o consumo de produtos da marca está baixo. As vendas já vinham caindo mesmo antes de 2020 e foram bastante afetadas pelo cenário da pandemia. O crescimento, portanto, não foi suficiente para repor as perdas, e a Revlon fechou o período com prejuízo líquido de US$ 67 milhões.
A CEO da companhia, Debra Perelman, nega a queda de relevância da marca no mercado. Na teleconferência de apresentação dos resultados trimestrais, a executiva alegou que a demanda pelos produtos da empresa é forte, mas os desafios da cadeia de suprimentos prejudicaram a capacidade de atender a demanda, e a inflação corroeu as margens.
Em 2020, a companhia já escapou de um pedido de falência após negociação com investidores. À época, os acionistas concordaram em trocar cerca de 70% da dívida de US$ 343 milhões que venceria em 2021.
Hoje, a dívida da companhia com vencimentos nos próximos dois a três anos soma US$ 3,3 bilhões. A Revlon enfrenta ainda um percalço após o Citibank liquidar uma dívida por engano, segundo a empresa. O banco teria transferido o valor integral da dívida a um dos credores, no montante de US$ 866 milhões, quando a intenção da empresa era pagar apenas parte da quantia. O banco entrou na Justiça para reaver o dinheiro, mas o pedido foi negado no ano passado.
A despesa anual da empresa com juros da dívida foi de quase US$ 248 milhões no ano passado. Diante da perspectiva de reestruturação, a companhia já estaria conversando com credores e há rumores de que deve alterar sua participação acionária, informaram fontes ligadas ao grupo. A Revlon tem mais de 15 marcas comercializadas em 150 países, incluindo o Brasil.