
Em um cenário de juros globais elevados, reprecificação de ativos e maior aversão ao risco devido a tensões geopolíticas, é natural que investidores adotem posturas mais cautelosas. Segundo Marcelo Zenkner, managing director da FTI Consulting, esse ambiente tem impacto direto na desaceleração de investimentos corporativos.
“Hoje, no mapa de riscos, quando você tem essas questões muito afloradas, colocando efetivamente o próprio negócio em risco, as empresas acabam segurando um pouco os investimentos, deixando para fazer isso em um momento futuro”, afirmou Zenkner ao BP Money.
Nesse contexto, o especialista destaca a importância de avaliar impacto e probabilidade de eventos — como juros altos, conflitos, tarifas e questões climáticas — antes de alocar capital. “É exatamente com base nesse mapa de riscos, no cenário que se apresenta, que as decisões no âmbito corporativo vão ser adotadas.”
Zenkner acredita que geopolítica, macroeconomia e investimento se interligam nesse processo. “Todos esses fatores são colocados na mesa, a partir do mapeamento de riscos, para que os gestores e empresários decidam de que maneira vão alocar recursos”, explicou. Se o cenário está pouco favorável, a tendência é adiar investimentos para um momento mais propício.
Especialista vê postura ‘reativa’ nas empresas brasileiras
Marcelo Zenkner avalia que empresas brasileiras tendem a se posicionar de forma mais reativa do que preventiva em relação ao ambiente externo. Frequentemente, aguardam que os efeitos adversos se materializem para somente então tomar medidas de contenção.
“Se você pensar na cultura de outros países, ela é muito mais de natureza preventiva. Nos Estados Unidos, o cidadão médio não celebra um contrato sem consultar um advogado antes. Já aqui, as empresas normalmente esperam uma crise se estabelecer para só então adotarem providências”, afirmou.
Esse comportamento, segundo ele, eleva custos, sobretudo quando há pouco tempo para resposta. “As empresas brasileiras só começam a adotar providências quando percebem que ‘a água está subindo’ e que isso começa a impactar seus resultados financeiros.”
Guerra Rússia-Ucrânia pode acelerar transição energética
Ainda sobre decisões preventivas, o conflito entre Rússia e Ucrânia, que já dura mais de três anos, pode acelerar o processo de transição energética para fontes renováveis. “A guerra da Rússia com a Ucrânia chama atenção para o fato de a Rússia ser a maior exportadora de gás para a Europa”, afirmou Zenkner.
Antes da guerra, a maior parte do gás consumido no continente era de origem russa. Atualmente, segundo dados citados pelo G1, a Rússia consegue suprir entre 20% e 25% das necessidades da União Europeia, ante cerca de 40% no período pré-guerra.
“A gente sabe que existe um frio intenso na Europa, e agora estamos nos aproximando do inverno europeu. Sem o gás, não há aquecimento nas próprias casas. Então essa transição para uma energia verde pode ser acelerada”, explicou.
Segundo ele, esse cenário pode abrir uma série de oportunidades para o Brasil. “Você deixa de utilizar o gás da Rússia, mas ainda precisa suprir essa demanda energética. E aí o Brasil, como um grande exportador de petróleo, produtor de gás e um país com enorme potencial para desenvolvimento e oferta de energia verde, pode se beneficiar. Podem surgir várias oportunidades nesse sentido”, concluiu.