Rússia faz cessar-fogo para montar corredores humanitários

O movimento pode facilitar a eventual ocupação militar de territórios

A Rússia faz neste sábado (5) um cessar-fogo parcial na Ucrânia para que sejam estabelecidos os chamados corredores humanitários e permitir a fuga de civis. É a primeira vez que os ataques são interrompidos desde o início dos conflitos, em 24 de fevereiro.

O acordo teve início às 10h no horário de Moscou (4h em Brasília) e vale somente para as cidades de Mariupol e Volnovakha, que estavam cercadas pelas forças de Vladimir Putin.

Mais cedo, o prefeito de Mariupol, Vadim Boichenko, disse que a cidade era alvo de “ataques implacáveis” e que estava “bloqueada” pelos militares russos. Os moradores da região estão sem água e eletricidade desde quinta (3).

“Por enquanto estamos procurando soluções para os problemas humanitários e todas as formas possíveis de tirar Mariupol do bloqueio”, disse Boichenko. Além da retirada de civis, autoridades também planejam levar remédios e outros suprimentos básicos à cidade.

Já há relatos, porém, de ataques. O Legislativo de Mariupol relatou que forças russas não estão cumprindo o acordo em toda a extensão do corredor humanitário. “Estamos negociando com o lado russo para confirmar o cessar-fogo em toda a rota de evacuação”, disse em comunicado.

O governo ucraniano planeja auxiliar a retirada cerca de 200 mil pessoas em Mariupol e de outras 15 mil em Volnovakha. Segundo a RIA, agência russa de notícias, os civis terão cinco horas para cruzarem os corredores humanitários enquanto os disparos estiverem interrompidos.

Considerada estratégica por Moscou, Mariupol é uma cidade portuária no sudeste da Ucrânia localizada a 150 km de Rostov-do-Don, a principal cidade do sul da Rússia. Ela foi atacada desde o primeiro dia da guerra e é um porto importante no mar de Azov, uma divisão secundária do mar Negro. Quase 90% da produção mundial de gás neon passa por ali.

A cidade também é considerada o último ponto de resistência a evitar o estabelecimento de uma ponte terrestre unindo a região de Rostov russa à Crimeia anexada em 2014 por Putin, já que Kherson também está tomada, segundo as tropas de Moscou.

Rússia e Ucrânia concordaram em estabelecer os corredores humanitários na quinta (3), durante encontro de delegações dos dois países para negociações na Belarus.

Neste sábado, o conselheiro do Ministério do Interior ucraniano, Anton Heraschenko, disse que mais acordos devem ser estabelecidos com Moscou para a implementação de novas rotas de saída, como as de Mariupol e Volnovakha, em outros territórios do país.

O chanceler russo, Serguei Lavrov, também disse ter discutido com seu contraparte belarusso, Vladimir Makei, o estabelecimento de outras rotas, segundo a agência RIA.

Corredores humanitários ou zonas de segurança implicam cessar-fogo, algo que, como visto na guerra da Bósnia nos anos 1990, é um instrumento muito precário. Além disso, podem ser utilizados para desocupar áreas de civis potencialmente hostis a invasores, sem garantias de que um dia voltarão para suas casas.

O movimento pode facilitar a eventual ocupação militar de territórios e favorecer o plano presumido de Putin de remover a área da soberania ucraniana.

Embora ataques tenham sido interrompidos em Mariupol e Volnovakha neste sábado, forças de Moscou continuaram com suas ofensivas durante a madrugada, com bombardeios sobre Kiev.

Autoridades pediram que os moradores da capital permaneçam em abrigos e alertaram para o risco de confrontos nas ruas da cidade.

Na cidade de Bucha, próxima a Kiev, forças russas foram acusadas de abrir fogo contra veículo de civis, segundo a mídia local. Duas pessoas teriam morrido no ataque, incluindo uma jovem de 17 anos, e outras quatro teriam sido feridas.

As tropas de Putin ocuparam ainda o prédio da Câmara Municipal de Energodar, segundo divulgou o líder da cidade, Dmitro Orlov, que garante que a cidade –onde fica a usina de Zaporíjia, tomada por russos nesta sexta (4)– continua sob controle ucraniano.

Em outra planta nuclear, a de Tchernóbil, o mesmo grupo de funcionários trabalha há dez dias em turnos, desde que os militares de Moscou tomaram o local, segundo a mídia ucraniana. Eles estão “cansados mentalmente e fisicamente”, relatou o prefeito de Slavutich, Iuri Fomichev.

Igor Konashenkov, porta-voz do Ministério da Defesa russo, disse que mais de 2.000 equipamentos da infraestrutura militar ucraniana foram atingidos desde o início da guerra, segundo a agência Interfax.

Segundo ele, foram destruídos 66 aviões da Ucrânia em solo e outros 16 no ar, 708 tanques de guerra e outros tipos de blindados, 74 lançadores de foguetes, 261 armas de artilharia, 505 veículos militares especiais e 56 drones. Os números, porém, não podem ser confirmados de maneira independente.

Konashenkov disse ainda que as forças da Rússia fazem uma “ofensiva ampla” na Ucrânia.

Forças de defesa ucraniana, por sua vez, afirmaram que derrubaram um helicóptero russo. O vídeo da ação foi divulgado pelo perfil oficial do Ministério da Defesa ucraniano. Nas imagens, a aeronave é atingida por um míssil e explode. O local e a data do ataque, porém, não foram informados.

Até esta sexta, mais de 1,2 milhão de pessoas já tinham fugido da Ucrânia desde o início da invasão russa, segundo dados do Acnur (Alto Comissariado da ONU para Refugiados). A Polônia é de longe o país que mais vem acolhendo refugiados do conflito.

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