Sanar promove demissões em massa semanas após aquisição da Cetrus por R$ 166 mi

Startup entra em um grupo de mais de 20 empresas que fizeram cortes no quadro de funcionários desde março. Só nesta semana, Grupo Primo e Empiricus demitiram em torno de 130 pessoas

A startup de educação e especialização médica Sanar promoveu demissões em massa nesta quinta-feira (9). Segundo relatos do LinkedIn, a empresa teria sinalizado uma virada de cenário para os negócios uma semana antes, quando emitiu comunicado de demissão somente para alguns funcionários. Mas voltou atrás, logo em seguida, alegando um “erro” da equipe de gestão. Passados menos de sete dias desse episódio curioso – para dizer o mínimo, o anúncio era oficial. O corte no quadro de funcionários da Sanar atingiu dezenas de profissionais, principalmente das áreas de marketing e tecnologia. 

Em resposta ao contato da reportagem, a Sanar explicou que, ante a volatilidade dos mercados públicos e a incerteza do cenário macroeconômico, “optou por buscar mais eficiência e sinergias internas. Este é um movimento que afetou 13% do nosso quadro de pessoas”, disse a empresa por meio de posicionamento.

Na planilha da plataforma Layoffs Brasil, criada para ajudar as pessoas afetadas a se recolocar no mercado, o documento de ex-funcionários da startup baiana somava 30 nomes até o fechamento desta matéria. Mas as informações que circulam no mercado e internamente na companhia é que os cortes teriam atingido ao menos 60 pessoas. 

Uma das pessoas que estava entre as afetadas pela reestruração da Sanar relatou ao BP Money que os cortes atingiram dezenas de colegas só na sua área, embora não saiba precisar um número. 

Há pouco mais de duas semanas, a Sanar anunciou a aquisição do centro de formação médica Cetrus por R$ 166 milhões. Os recursos vieram de investimentos dos fundos Valor, Vox, DNA, Península e Green Rock. A proposta, segundo informado pela startup em documento divulgado à imprensa, era ampliar o ensino especializado para acompanhar a formação do médico desde a graduação até a subespecialidade. A operação representou a maior aquisição do segmento de educação continuada no Brasil. 

De acordo com a página da empresa no LinkedIn, a Sanar teria em torno de 540 funcionários. Já a página da Cetrus indica uma equipe total de 160 pessoas na empresa. Cabe lembrar que os números somam todos os perfis de usuários que alegam cargos nas companhias.

Segundo fontes ouvidas pela reportagem, as demissões teriam sido motivadas pela revisão no plano de negócios da startup. Uma pessoa, que topou falar na condição de anonimato, comenta que o clima era de tristeza e surpresa com o anúncio. Outra ex-funcionária reitera, em depoimento sobre o seu processo demissão, que o argumento da Sanar para as reduções no quadro de pessoal não estavam ligadas à performance, mas a questões financeiras:  “quando recebi a notícia, minha ex-chefe reforçou: ‘isso não tem nada a ver com a sua performance, ok?'”, escreveu em post nas redes sociais.

“Se o motivo foi grana, por que o clima era de tanto pesar? Minha sensação é que as relações na Sanar foram construídas com uma base em que a amizade estruturava uma espécie de confiança corporativa […] Depois de uns anos, obviamente a Sanar teve que mudar. Era inevitável. A empresa cresceu demais”, continuou a usuária do LinkedIn, que foi afetada pelas demissões desta quinta-feira (9).  

Sanar entra no grupo de mais de 20 empresas que realizaram demissões em massa desde abril

O cenário é, infelizmente, cada vez mais comum no mercado de trabalho. Não só no Brasil, diga-se de passagem, como também em países centrais para as empresas de tecnologias, caso dos Estados Unidos. Com a queda de liquidez no mercado de capitais e uma brusca virada de cenário para os investimentos, as empresas precisaram apertar os cintos.

Só nesta semana, Empiricus e Grupo Primo demitiram, ao todo, em torno de 130 pessoas. Ambas alegam ter realizado os cortes em função de revisões nos negócios. No caso da empresa de Thiago Nigro, o Primo Rico, a acelerada expansão nos últimos meses causou sobreposição de funções em diversas áreas, o que teria trazido a necessidade de reestruturação da equipe. 

No universo das startups, o cenário vai de mal a pior. Funcionários relatam receio com a instabilidade do mercado e a repentina mudança de humor entre as lideranças. Desde abril, mais de 1,8 mil pessoas foram demitidas das empresas de tecnologia só aqui no País. O que está por trás da guinada no mundo que antes vivia do crescimento a todo custo é que os fundos de private equity não estão mais dispostos a pagar o preço dessa expansão. 

Com a crise global, aumento de volatilidade nas bolsas, fuga dos investidores para a renda fixa e juros altos (o que torna o capital caro), as empresas precisaram entregar mais rentabilidade – ou alguma, pelo menos. Então os anos de ritmo veloz de aquisições e grandes investimentos em marketing nas empresas devem ficar para trás. 

Além de menos espaço para o consumo, graças à inflação alta, as investidas precisam entregar o que o investidor de risco pede hoje: um retorno à altura do preço que está sendo pago. 

No caso da Sanar, com a compra da Cetrus e um cenário adverso para investimentos desde fevereiro, é possível que as demissões já estivessem no plano de reestruturação há algum tempo – como sinalizam os relatos de que a empresa teria comunicado demissões de forma equivocada uma semana antes desta fatídica quinta-feira (9). 

Leia na íntegra o posicionamento da Sanar sobre as demissões:

Com a volatilidade dos mercados públicos e a incerteza do cenário macroeconômico, a Sanar optou por buscar mais eficiência e sinergias internas. Este é um movimento que afetou 13% do nosso quadro de pessoas. Agradecemos o comprometimento desses colaboradores e nos empenharemos para ajudá-los nesse processo. Continuaremos focados em nossa missão de evoluir e ajudar o médico ao longo da sua jornada.

*Este texto foi atualizado no dia 13 de junho para incluir o posicionamento da companhia.

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