Na sexta-feira (24), o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Apesar de atingir o menor valor desde o início do plano Real para o mês de janeiro, o resultado decepcionou especialistas que previam uma deflação.
O cenário se consolidou com a divulgação do boletim Focus pelo BC na segunda-feira (27) indicando um aumento da inflação para 2025. Apesar da desaceleração da economia e esforços da autarquia monetária, os saldos negativos foram marcados pelo aumento no preço dos alimentos e transportes.
A alta significativa dos juros previstos para as próximas duas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária) demonstram uma cautela do mercado e a necessidade de evitar medidas de curto-prazo em um cenário de muita instabilidade macroeconômica. O investidor precisa se preparar para navegar em um cenário de baixas repentinas e garantia de renda a longo prazo.
Inflação espalhada
Dos nove grupos analisados pelo IPCA, apenas habitação e alimentação figuraram em queda. Esses setores são os mais ligados à dinâmica interna de uma economia, como salários e demandas que tendem a variar. Para Ricardo Rodil, líder de Mercado de Capitais da Crowe Macro Brasil, os índices espelham contextos que não podem ser tratados como tragédias. O crescimento da pressão inflacionária nacional remonta, segundo ele, há pelo menos um ano.
“Uma das principais foi a mudança de patamar da cotação do US$, que tem dois efeitos de pressão sobre a oferta de um modo geral e de alimentos em particular. Primeiro: dólar valorizado aumenta a competitividade das exportações brasileiras; portanto, é de se esperar um aumento das exportações com a consequente baixa da oferta interna de produtos. Segundo: aumenta o custo das importações, muitas delas relacionadas com a produção de alimentos (…) Portanto, o Brasil já tem ‘contratada’ uma pressão inflacionária de peso”, explica.
Para Josias Bento, sócio da GT Capital, o cenário ainda deve perdurar “A sensação de “inflação espalhada” persiste devido à chamada inflação de serviços e bens duráveis, que é mais resistente.” “A estratégia de desaceleração da economia via elevação dos juros (Selic) tem efeitos defasados, ou seja, demora a impactar totalmente os preços.”
Selic elevada
Com uma perspectiva de manutenção do dólar em relação ao real mais valorizado, o comportamento da inflação tende a ser pressionado ao longo do primeiro semestre de 2025. A previsão é de que empresas e famílias enfrentarão uma deterioração ao longo do ano e as condições de crédito estarão mais arrefecidas.
André Ramos, conselheiro do Corecon- SP destaca a previsibilidade no comportamento do investidor: “Diante desse contexto, que é agravado pela maior percepção de risco fiscal, muitos investimentos tendem a ser postergados, assim como um comportamento econômico-financeiro mais conservador tende a ser adotado por muitas empresas e famílias.”
A incerteza parece ditar intenções de investimentos nacionais, o resultado previsível é um esvaziamento das receitas de capital internacional, principalmente para países em desenvolvimento.
Bento avalia que uma abordagem moderada é o principal ativo nesse cenário: “Dado o cenário atual, uma estratégia conservadora continua sendo uma boa escolha, especialmente com a Selic em patamares elevados. Títulos públicos, como o Tesouro Selic, oferecem segurança e retornos atraentes em comparação a ativos de maior risco.”
“No entanto, é importante diversificar a carteira, incorporando investimentos atrelados à inflação (Tesouro IPCA+) para proteger o poder de compra no longo prazo”, salientou.