A Shein faturou R$ 8 bilhões no Brasil em 2022, um salto de 300% em relação a 2021. Ou seja, a empresa chinesa, nos últimos dois anos, já ultrapassou a projeção anual para todo o Grupo Soma, de acordo com analistas do BTG Pactual (BPAC11), em relatório divulgado na segunda-feira (30).
Em um cenário econômico ainda bastante incerto, com os efeitos da inflação persistindo no bolso do consumidor, o banco aponta que a Shein não deve parar tão cedo. Uma dor de cabeça e tanto para quem compete no mesmo nicho, mas uma bem menor para quem está direcionando seu olhar para a alta renda.
O banco aponta que as principais escolhas no setor ficam com Arezzo, Grupo Soma e Track&Field, expostas a um público que pode gastar mais e que tem carregado os resultados do setor, sendo que a maior parte do crescimento do varejo de moda foi sustentada por marcas voltadas para os consumidores mais abastados, comportamento que também deve permanecer em 2023.
“A indústria global da moda se recuperou de forma acentuada nos últimos dois anos. Mas, em um mercado frágil como o de hoje, as expectativas de uma recuperação contínua podem desaparecer rapidamente”, afirmam os analistas, segundo a “Exame”.
“Como a economia continua a mostrar sinais contraditórios [menor desemprego, mas ainda alto endividamento das famílias e erosão do poder de compra], a desaceleração deve permanecer heterogênea, como foi o caso há cerca de dois anos, quando o segmento começou a se recuperar”, completaram.
De olho no cenário macroeconômico mais duro para as varejistas locais, levando em consideração todos esses fatores e o custo de capital mais caro com os juros em patamares elevados por mais tempo, o banco refez as estimativas de ganhos para sete dessas companhias para os próximos quatro anos.
Na média, as estimativas de receita desse grupo ficaram 3,5% menores, seguidas por um Ebitda reduzido em 10%. Por fim, o lucro líquido ficou 17% menor. As empresas analisadas foram: Arezzo, Renner, Grupo Soma, Track&Field, Vulcabras, Marisa e C&A.
O relatório mostra que a maior receita anual, nas estimativas de 2022, fica para a Renner, com R$ 11,6 bilhões, resultado 22% maior do que o registrado em 2021. A menor, dentro dessa análise, fica com a Marisa, com R$ 2,2 bilhões, crescimento de 11% na mesma base de comparação.
Nenhuma das empresas analisadas, nem mesmo as que vendem para a alta renda, estão no mesmo patamar de crescimento do que a Shein. Para direcionar a atenção a quem compete por um nicho similar, a primeira linha do balanço da varejista chinesa equivale à soma de C&A e Marisa.
De acordo com dados da SimilarWeb compilados pelo BTG, em novembro do ano passado, 45% do tráfego da empresa vem de mecanismos de busca (Google) e o tráfego direto é de 43%, indicando uma alta proporção de consumidores leais.
Shein lança milhares de produtos por mês
A empresa chinesa lança 10 mil produtos por mês, o que dá, em dois meses, o equivalente da produção da Zara em um ano. Além disso, ainda dispõe de um local em que possa encontrar roupas que sirvam ao seu tamanho. Dois pontos atendidos pela varejista chinesa, mesmo que os “looks” ainda demorem por volta de 20 dias para chegarem à casa dos consumidores.
Por todo esse conjunto, os analistas continuam vendo a Shein como um destino importante de compras no Brasil, com potencial de se tornar ainda maior em breve. Para uma empresa que cresceu 300% em um ano no país, a mensagem já ficou clara: a varejista chinesa veio para ficar.