Shein: plano de nacionalizar produção conta com 164 fábricas

Marcelo Claure revelou que o plano da varejista nacionalizar a produção de peças no Brasil conta com 164 fábricas parceiras locais

O presidente do conselho da Shein para América Latina, Marcelo Claure, rebateu as críticas de varejistas brasileiros de que a isenção de impostos sobre produtos importados de até US$ 50 seja uma vantagem desleal para a varejista chinesa.

“Para os varejistas a vantagem competitiva da Shein é imposto, mas isso é completamente equivocado, pois o diferencial é o modelo de negócios”, comentou o executivo, referindo-se ao modelo de produção sob demanda da empresa. “Temos somente 2% de inventário”, frisou Claure em entrevista para o jornal “Valor Econômico”.

Claure revelou que o plano da varejista on-line de moda chinesa de nacionalizar a produção de peças no Brasil conta com 164 fábricas parceiras locais, sendo que 114 estão produzindo (algumas desde janeiro). Até 2026, a empresa espera nacionalizar 85% da produção — atualmente a proporção é de 15% de produtos locais. Claure 

Na ocasião, o  executivo ressaltou que a adesão da Shein ao programa “Remessa Conforme”, que entra em vigor em 1º de agosto, é uma forma de trazer regras mais claras ao setor de varejo on-line. “É ótimo que o governo acelere tudo isso”, comentou Claure.

Em abril ao anunciar um investimento de R$ 750 milhões na operação brasileira, incluindo parcerias com 2 mil fábricas locais até 2026, o executivo lembrou que pediu ao ministro da fazenda Fernando Haddad, a criação de um grupo de trabalho para uniformizar as regras dos varejistas on-line. “Pedi ao ministro regras claras para todo mundo”, disse.

Shein: mistério por trás dos benefícios concedidos pelo governo

O setor varejista segue tentando desvendar o mistério por trás dos benefícios concedidos pelo Governo Federal à Shein. Na última semana, esta pauta está em destaque entre os conselhos da maiores varejistas, Renner (LREN3), Guararapes (GUAR3), C&A (CEAB3) e Marisa (AMAR3) e de entidades que representam o varejo e a indústria da moda, de acordo com o Brazil Journal.

Nesse contexto, o setor mostrou indignação quando o Ministério da Fazenda publicou uma portaria isentando do imposto de importação qualquer compra na Shein de até US$ 50. Visto que, até então, só estavam isentos desse imposto remessas feitas por pessoas físicas até esse valor.

“O Lula faz uma reunião com a Shein na quinta e no dia seguinte o Governo publica uma portaria contrariando tudo que já havia sido combinado com o varejo?”, disse o conselheiro de uma varejista listada ao Brazil Journal. “A Shein já burlava a lei mandando as remessas como pessoa física. Agora, eles simplesmente legalizaram isso. Nem isso mais eles vão precisar fazer!”, acrescentou.

Em contrapartida, a portaria publicada pelo Governo exige que as empresas se adequem ao programa Remessa Conforme, e passem a pagar o ICMS de 17% sobre as vendas. 

Sendo assim, no programa anunciado pelo governo, as varejistas vão recolher o imposto na venda e repassar para o Governo. Desse modo, ao fazer isso, as varejistas também terão um tratamento mais ágil na Aduana, passando pelo chamado ‘canal verde.’ No entanto, o setor não digeriu a proposta de contrapartida para balancear a isenção de impostos. 

“Isso não existe na legislação. Eles vão ter essa regalia só porque estão em conformidade com a lei?” questionou Fernando Pimentel, o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT).

De acordo com Pimentel, a medida gera “uma quebra da isonomia tributária que vai afetar profundamente o aspecto concorrencial de todo o setor”. 

Contudo, Pimentel pondera que a medida, na sua visão, vai contra os próprios interesses do Governo, que tem uma agenda declarada de gerar renda, emprego e de aumentar a arrecadação.

“Não dá para entender essa mudança radical de postura. Um governo que está buscando recursos para investir na área social está abrindo mão de uma arrecadação importante que seria devida e que traria isonomia concorrencial e tributária,” disse o presidente da ABIT. 

Conselheiros das grandes varejistas

Desse modo, o CEO das Lojas Marisa, João Pinheiro Nogueira Batista, disse ao Broadcast que não consegue compreender “como um governo, ainda mais do PT, seja capaz do absurdo de legalizar o contrabando contra os interesses da indústria nacional.”

O Mercado Livre (MELI34), por sua vez, criticou a isenção do imposto em entrevista ao Brazil Journal, e afirmou que o País está “na contramão do mundo”.

“A Índia proibiu essas empresas chinesas de venderem lá. Nos Estados Unidos, esse tema está no departamento antitruste e estão processando e vai ter consequência. Na Europa, também estão criando barreiras pelas práticas que muitas dessas empresas têm,” disse country manager do Mercado Livre no Brasil, Fernando Yunes.