Jorge Castello Branco e Felipe Tersi, ex-analistas de M&A do Itaú BBA (ITUB4), abriram mão de suas carreiras na Faria Lima para investir no mercado de roupas e acessórios de tênis, criando a marca Slyce.
Numa empreitada desafiadora em um segmento dominado por marcas internacionais, como as gigantes Adidas e Nike, a Slyce vem como uma marca brasileira com o objetivo de apoiar atletas nacionais, além de oferecer produtos de qualidade e altamente tecnológicos.
Segundo Jorge Castello, o empreendimento quer elevar o tênis brasileiro, oferecendo um produto de qualidade desenvolvido no Brasil.
Além disso, em entrevista ao BP Money, Felipe Tersi e Jorge Castello Branco comentaram como foi mudar o foco da carreira e sair do mercado de investimentos.
Confira a entrevista na íntegra:
Com surgiu a ideia de desenvolver a Slyce?
Jorge Castello Branco:
Nós trabalhávamos juntos no Itaú BBA, assessorando companhias em esportes como tênis e futebol.
Sempre fui muito apaixonado por esporte e sempre quis viver uma vida acadêmica. Então, achei um meio-termo e fui jogar futebol na Universidade de Chicago, mais pelo lado acadêmico do que pelo futebol em si. Queria me formar em economia.
Quando voltei, conheci o Felipe e começamos a trabalhar juntos. Sempre quis empreender. Tenho um irmão que empreende, com uma companhia chamada Z2, e muita da ideia do nosso posicionamento veio da empresa dele. Meu pai também é empreendedor, sendo um dos sócios fundadores do Patria Investimentos.
Entre julho e agosto do ano passado, decidi finalmente sair do banco para começar a empreender. Ainda não sabia exatamente o que faria, mas sabia que queria algo relacionado ao esporte.
Foi aí que comecei a conversar com o Felipe sobre a ideia e vimos uma grande oportunidade no mercado de tênis. Embora haja muitos competidores grandes, poucos investidores estrangeiros focam nesse nicho no Brasil.
Como não captamos investimento, estruturamos a companhia 100% com nosso capital próprio, percebendo que poderia ser um investimento muito alto.
Os patrocínios serão significativamente mais baixos do que os praticados nos Estados Unidos, Europa, Ásia, etc. Conseguimos, desde o início do projeto, pagamentos mensais, bonificações, resultados e entregas de vestuário.
Conseguimos trazer dois dos quatro principais tenistas brasileiros. Em paralelo, começamos a desenvolver todos os produtos da marca, visando atingir principalmente o público classe A.
Tênis é um esporte elitizado, principalmente no Brasil, onde tudo é importado: raquetes, quadras, etc. 90% das quadras no Brasil são privadas, e não públicas. As aulas e locações de quadra são caras.
Felipe Tersi:
Complementando, começamos 100% no digital, que, por enquanto, é nosso único canal.
Em breve, queremos iniciar outras iniciativas físicas para estar presentes nos principais grupos, condomínios e, eventualmente, em nossa própria loja física. Em shoppings de alto poder aquisitivo, que é o nosso público-alvo.
Como está sendo a experiência de sair do mercado financeiro para atuar no ramo da moda esportiva com a Slyce?
Felipe Tersi:
É uma mudança bastante relevante. Acho que o Jorge saiu alguns meses antes de mim, mas nós que viemos de investimentos temos uma rotina um pouco turbulenta e longa. Então, minha rotina era, basicamente, dormir de madrugada todos os dias. Na média, ia dormir por volta de duas, três da manhã. Precisava parar uma noite, parava em casa e dormia.
Trabalhava também todos os dias da semana. E, obviamente, eu não saí para trabalhar menos. Então, às vezes, o Jorge até briga comigo. Mas é muito gratificante trabalhar para algo seu, com potencial. Quando fazemos as coisas da maneira certa, com o propósito em que acreditamos, é legal ter a sensação de construir algo novo.
É diferente de se sentir parte de uma grande “fábrica de salsicha”, que é um bancão. Sou muito grato por ter estado lá dentro e por tudo o que me proporcionou, mas gosto de desafios. E trabalhar assim, com esse friozinho na barriga de tentar fazer algo novo, me motiva bastante.
Jorge Castello Branco:
Eu saí do banco para empreender, ciente de que a minha ansiedade já era grande no banco, mas quando você coloca o seu dinheiro na linha e está tentando fazer algo que ninguém nunca fez no Brasil, algo nacional, nichando, diminuindo o tamanho do seu mercado, o tanto de ansiedade que você passa é uma coisa maravilhosa.
Agora, em relação à saúde, tudo isso obviamente melhorou. Mas, se nós não tivéssemos feito o que fizemos, não teríamos a capacidade, nem financeira, nem em termos de habilidades, para fazer um negócio desse.
Vocês pretender fazer captação de investimento para a Slyce?
Jorge Castello Branco:
Ainda não capturamos investimento, mas, até dezembro, deve acontecer uma rodada de captação com family and friends. Na sequência, queremos abrir para o mercado futuro.
Vocês poderiam falar dos atletas que chegaram a patrocinar?
Jorge Castello Branco:
No momento, temos uma atleta que vai entrar agora, cujo nome não podemos divulgar, mas é bem conhecida dentro dos grupos do nosso nicho e é uma das melhores do Brasil. Ela está no top 5 entre as atletas femininas.
Felipe Tersi:
Além disso, nosso propósito como marca é não só apoiar os nossos atletas com patrocínio, mas também trabalhar a imagem deles. Fazemos isso no masculino, já temos o Felipe Meligeni e outro atleta.
Vamos divulgar um terceiro em breve e pretendemos fazer o mesmo para o feminino. Então, nossa estratégia de marketing para a consolidação da marca foi começar pelo masculino.
Justamente para conquistar o nicho do tênis, que é mais masculino do que feminino. Contudo, o feminino vem crescendo muito, principalmente por conta das influências da performance no Brasil.
Como a marca pode elevar o tênis brasileiro?
Jorge Castello Branco:
Primeiro, o produto e a representação dos atletas nos maiores torneios: você tem orgulho de falar que é brasileiro. Segundo, é o apoio aos atletas jovens brasileiros. Já o terceiro é o apoio e o investimento em eventos que fazem o tênis se desenvolver no Brasil. E o quarto, e mais gratificante e legal, é o apoio a organizações sociais.
Nós começamos com uma só, que é a que temos capacidade de ajudar atualmente. Ao longo do tempo, vamos deixando isso mais claro. Obviamente, no começo, a empresa fatura pouco. É muito difícil conseguirmos atacar tudo isso de uma maneira que faça realmente diferença.
Então, temos interesse em ajudar carreiras de jovens que precisam de apoio. Jogar tênis é muito caro e, se você não tem patrocinador de apoio, é muito difícil virar “alguma coisa”.
Considerando a concorrência internacional, qual vocês diriam ser o diferencial da Slyce?
Jorge Castello Branco:
Primeiro, a qualidade dos produtos. Nós sentimos que foi uma decisão muito consciente investir 100% na qualidade tecnológica dos produtos. Eu acho que foi muito legal ver as reações dos clientes recebendo nossos produtos.
É muito caro fazer isso e, consequentemente, se você fizer, precisa ser corajoso ao precificar sua marca onde ela deveria estar. E você vai ter que se diferenciar dos players internacionais.
A segunda grande questão, além de ser nacional, é o apoio, de fato, do investimento nos atletas brasileiros. Por exemplo, por que jogador de futebol é celebridade no Brasil? Porque há investimento. Obviamente, o futebol é um esporte que traz muito mais dinheiro. Só que ele também é movido pela imprensa e por empresas de clubes gigantescos de futebol. Isso é algo que queremos fazer, obviamente em uma escala menor, em torneios brasileiros, e fazemos isso com nossos atletas.
A terceira, eu diria, é a força da marca que estamos tentando criar. Obviamente, sabemos que a força da marca vem com o tempo. Só que estamos investindo em marca, em branding, em identidade visual, em coisas que não dão retorno a curto prazo.
Nós queremos criar algo que gere desejo não só pelo produto, mas também pela marca.
Felipe Tersi:
Nós decidimos produzir nossos principais produtos aqui no Brasil. Quando falamos de camiseta, etc., esses produtos são tecnológicos e são desenvolvidos aqui no Brasil.
A carga tributária é super agressiva. Para os fornecedores, o desenvolvimento de um novo estilo e a produção são bem mais caros do que na China, Bangladesh, enfim, outras regiões.
Basicamente, os nossos acessórios vêm de fora e o resto é produzido aqui no Brasil, apesar de todas as dificuldades e preços mais elevados.