Tesla (TSLA34) deve (continuar a) desacelerar em 2023

Mercado enxerga cenário difícil para setor automotivo americano e companhias de tecnologia

O setor de tecnologia tem demonstrado falta de resiliência em momentos difíceis da economia global. Não à toa, grandes empresas estão realizando demissões em massa. Nos últimos meses, Meta, Twitter e Amazon foram algumas das gigantes do setor que realizaram corte de pessoal. Segundo a “Reuters”, a Tesla será a próxima da fila. Para especialistas ouvidos pelo BP Money, a companhia, apesar de ser uma empresa robusta, deve pisar no freio em 2023, com um cenário que pode ser ainda mais desafiador para a companhia, que se encaixa no setor de tecnologia e automóveis (duas frentes que têm sofrido com a crise global). 

Segundo João Piccione, analista da Empiricus, com o acúmulo de veículos em estoque pela Tesla e a queda na demanda, a companhia deve desacelerar em 2023.

“Nos últimos trimestres, a Tesla formou um estoque. Produziu mais do que entrou. Além disso, a empresa também teve problemas na fábrica de Xangai, da China, por conta do lockdown, e essa fábrica é importante porque distribui veículos para outros países. Nesses últimos meses, tiveram vários recalls de veículos da empresa, sinalizando que o processo fabril tem um pouco de dificuldade para entregar todos os veículos que pretendiam”, disse Piccione.

O analista da Empiricus também destacou que o setor automotivo americano vem se deteriorando nos últimos meses e, além do cenário macro ruim para uma companhia de “crescimento” e os juros altos, que influenciam no custo de financiamento, a queda nos preços de carros usados também piora o cenário para a Tesla. 

“A queda dos carros usados é bastante importante, porque trava o segmento de veículos novos. A Tesla encontra dificuldade no financiamento e na venda de veículos, que começou a ficar mais difícil por conta da renda do americano, que está diminuindo com a inflação”, explicou Piccione.

Para além da capacidade de entrega de produtos e a menor renda do americano e do europeu também, a Tesla também deve passar a enfrentar um ambiente com maior competição. 

“Tudo isso tem dificultado e vai dificultar vendas para o ano que vem e, de olho nessas questões, a Tesla deve desacelerar. O mercado começou a rever as expectativas para o ano que vem, de cerca de 40% de crescimento da empresa para 30%, com diversas revisões de preço da ação”, disse Piccione.

O analista explicou que existem diversas montadoras investindo em carros elétricos. “Até a GM disse, mais recentemente, que deve fazer breakeven no setor elétrico. Essa competição vai desacelerar a Tesla e Musk vai precisar fazer alguma coisa”, disse Piccione.

De acordo com Omar Ajame, sócio do TC, um dos principais riscos para a empresa é a forte diminuição da demanda. 

“Uma empresa que vende carros é afetada pelos juros duas vezes. Afeta em relação ao valuation e também porque os clientes financiam esses carros e esses financiamentos estão ficando mais caros. Isso gera naturalmente uma redução na demanda”, disse Ajame. 

O sócio e especialista do TC também destaca que a Tesla é uma empresa de crescimento, mas que também gera lucro. Para Ajame, a Tesla deve realizar cortes no ano que vem por “necessidade” ou “para manter a rentabilidade” da companhia. 

Ajame também lembra que a Tesla é uma companhia de energia, além de uma empresa do setor de tecnologia e automotivo, e demonstra otimismo com a empresa para 2023.

“As linhas de baterias e células fotovoltaicas, tanto para casas, quanto para indústrias e aplicações comerciais, estão a todo vapor. É uma empresa extremamente bem gerida. O mais difícil já passou. É uma das maiores empresas do mundo em faturamento e lucro. Sou bem otimista em relação a 2023”, afirmou Ajame. 

O que esperar das ações da Tesla para 2023? 

Em 2022, as ações da Tesla acumulam queda de 57,19%. O analista da Avenue, Guilherme Zanin, afirma que essa foi a maior queda da companhia na história, o que faz o mercado ficar atento aos próximos passos da empresa.

“Quando paramos para olhar a Tesla em 2022, a gente teve a maior queda da empresa na história, um dos maiores drawdowns [queda em relação ao seu maior patamar], ela nunca havia caído tanto em um único ano como dessa vez”, disse Zanin. 

Zanin destaca que a companhia do bilionário Elon Musk tem a vantagem de sua robustez em relação aos seus concorrentes.

“Quando paramos para ver outros pares, a gente vê que a Tesla até sofreu menos do que as concorrentes Lucid Group e Rivian Automotive. São outras duas empresas montadoras de carros elétricos, que abriram capital recentemente, e caíram mais do que a Tesla”, analisou Zanin.

“O motivo principal disso é que, diferente das concorrentes, a Tesla já conseguiu passar do linear na sua geração de caixa, tem lucro líquido e possui uma certa estabilidade, além de margens mais elevadas do que montadoras tradicionais. Então a Tesla consegue, com suas margens, garantir uma receita maior, um lucro líquido maior, apresentar resultado melhor e, por isso, as ações caem menos do que o setor no geral”, destacou o analista da Avenue.

Para o ano que vem, o analista acredita que a Tesla, mesmo estando com dívida baixa, e boa geração de caixa, deve sofrer em maior ou menor magnitude. 

“Não temos Tesla na nossa carteira, acreditamos que os múltiplos dela estão elevados, ficaram mais atrativos, mas achamos que é um setor bastante desafiador, difícil de acertar quais serão os players do futuro. Mesmo depois dessa queda, ela ainda negocia em valuation que acreditamos que faz mais sentido alocar em outros setores, em outras empresas da economia”, finalizou Zanin.