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Plataforma de tokens do grupo Ambipar impulsiona mercado de crédito de carbono

Plataforma de tokens do grupo Ambipar impulsiona mercado de crédito de carbono

Divulgação

No fim do ano passado, o grupo Ambipar (AMBP3) lançou a Ambify, uma plataforma para compra de tokens de crédito de carbono. O novo aplicativo consolidou o canal direto da companhia com a pessoa física.

“O que fizemos foi democratizar esse ativo, fracionando o crédito de carbono, antes disponível apenas em tonelada, para um segmento de varejo”, explicou João Valente, diretor de ativos digitais da Ambipar. A presença ainda incipiente, de 2% do mercado potencial, motivou o grupo a traçar perspectivas para estender as soluções da Ambify a pequenas e médias empresas.

Valente explica que a plataforma foi pensada para a pessoa física, mas a procura por integrar a cadeia B2B2C (isto é, a solução de negócio para negócio que pode então ser oferecida para o consumidor final) existia na Ambipar mesmo antes. Há e-commerces integrados à Ambify que já oferecem a compensação da pegada de carbono da entrega para o comprador, mas a ideia é ampliar esse alcance, como uma maneira de estimular o avanço do mercado de crédito de carbono no País.

“Temos projetos rodando e alguns em desenvolvimento para dar acesso a empresas menores que não queiram compensar somente a sua pegada de carbono, mas também a do seu cliente”, explicou o executivo ao BP Money. O interesse desse grupo pelo segmento cresceu atrelado ao trabalho educativo da plataforma, que visa fechar lacunas no setor. 

Além de disseminar a informação sobre essa economia verde, ao integrar a solução à rede blockchain – neste caso, a Binance Smart Chain (BSC) – a Ambify defende ter promovido sinergias para lidar com questões nos dois mercados: o de criptoativos e o de créditos de carbono.

Enquanto a tecnologia imprime transparência ao processo, ajudando a combater o greenwashing (uso da causa para mascarar uma prática que não está devidamente alinhada à agenda ambiental), o crédito de carbono traz lastro para o criptoativo.

A operação do grupo Ambipar é baseada na gestão de projetos ambientais para empresas, e a Ambify se tornou seu braço de varejo. O crédito de carbono funciona como uma espécie de moeda, cuja unidade equivale à redução de uma tonelada de dióxido de carbono (gás que provoca desequilíbrios no efeito estufa) da atmosfera. Pelo volume, era uma solução dificilmente escalável para agentes menores.

O que a Ambipar fez foi tokenizar esse crédito de carbono, ou seja, transformá-lo em um ativo digital, o que permitiu dividi-lo. Cada Ambify corresponde a um quilo de carbono compensado na atmosfera. Assim, o usuário do varejo pode comprar a compensação para a pegada de carbono qualquer atividade na sua rotina, do almoço pelo delivery ao banho. O crédito de carbono do tradicional cafezinho, por exemplo, fica na casa dos centavos. 

Valor comercial do token impulsiona mercado mercado secundário do Ambify

Gestora de projetos ambientais, a Ambipar é uma geradora de crédito de carbono e um elo entre empresas e esse mercado verde. As oportunidades que surgem da integração das soluções com o mercado de criptoativos avançam além do varejo. “Estamos conseguindo enxergar uma revolução. Agora, a empresa não precisa mais finalizar o período de exercício fiscal para compensar a pegada de carbono da operação”, contou Valente. 

Como um bem escasso, o crédito de carbono está sujeito à dinâmica de mercado, ou seja, pode se valorizar (e desvalorizar) com o tempo. Portanto, as empresas poderiam passar a investir no ativo. Conforme esse mercado se consolida globalmente, multiplicam-se os fundos de investimentos em créditos de carbono e gestoras que buscam esses ativos para diversificar a carteira.

Já que a BSC é uma rede pública, as corretoras passaram a listar o Ambify, o que impulsiona um mercado secundário de comercialização do token. Um fenômeno que acontece sem intervenção da companhia, pontua o diretor de ativos digitais da Ambipar. 

“Entregamos um token de utilidade, que nada mais é do que a representação do crédito de carbono. O dono desse ativo pode aposentá-lo (quando o crédito foi compensado) hoje ou no ano seguinte e até negociar na rede, mas não ganhamos nada nesse mercado, que é um efeito colateral”, explicou.

A escolha pela BSC vem da avaliação da equipe Ambify de que era uma solução economicamente viável, ágil e alinhada com o propósito da plataforma, que se propõe a escalar o mercado para mitigar o impacto sobre o aquecimento global. 

“A rede mostrou ter a robustez necessária, por ser Proof-of-Stake-Authority (PoSA) e ser de baixo custo”, contou Valente. O PoSA é baseado em um algoritmo híbrido entre o Proof-of-Stake e o Proof-of-Authority. 

Esse mecanismo de consenso, em oposição ao Proof-of-Work (PoW), demanda um poder computacional mais baixo para minerar o ativo, o que se reflete não só no preço da validação como na sua pegada ambiental. 

Afinal, a estrutura do PoW, que exige um poder computacional alto, puxa também mais energia para operar. A diferença para validar um bloco entre redes PoW e PoSA já chegou a ser de 50 dólares na Ethereum contra 1 centavo de dólar na BSC, conta Valente.

“Aí teríamos um app inviável, já que a proposta é validar a pegada de carbono para compensar até um café, o que custa 30 centavos ao usuário, uma operação que, na Ethereum, teria uma validação custando 30 dólares”, explicou. Por isso, mesmo mais disseminada que a BSC no universo de criptoativos, a rede saiu de cena. 

Ambify fomenta mercado do grupo Ambipar, mesmo que de forma indireta

A Ambify atrai mais público para impulsionar o mercado de crédito de carbono, que é um pilar da operação do grupo Ambipar. O propósito da plataforma é a causa ambiental, mas, mesmo que de forma indireta, fomenta as frentes de projetos e de acreditação de iniciativas verdes.

Em julho de 2021, seis meses antes do lançamento da plataforma, a companhia adquiriu o controle da Biofílica, pioneira no desenvolvimento de projetos florestais para geração de créditos de carbono no País. O projeto para a Ambify vinha sendo desenhado pelo menos um ano e meio antes da conclusão do negócio, mas se tornou um novo canal estratégico para essas soluções.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, o mercado regulado responde pela maior fatia do carbono negociado no mundo, com um volume estimado em US$ 832 bilhões no ano passado. O País tem capacidade de gerar até R$ 100 bilhões em receitas com créditos de carbono até 2030 nos setores de agronegócio, florestas e energia, de acordo com o levantamento da WayCarbon e da International Chamber of Commerce Brasil.

A demanda do mercado mundial por compensações de carbono é de 127 milhões de toneladas, mas pode crescer pelo menos 30 vezes nos próximos 30 anos. As emissões globais correspondem a 51 bilhões de toneladas por ano, e as compensações por meio de transações do crédito de carbono apontam um caminho para a redução do impacto da economia global sobre o ambiente.

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