Especialistas analisam

Varejistas brasileiras podem se unir para enfrentar Magalu?

Há possibilidade de uma "frente brasileira" para enfrentar a Magalu e sua nova parceira? Especialistas divergem

Foto: Pexels
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O anúncio do acordo entre a Magalu (MGLU3) e a Aliexpress – uma das gigantes do e-commerce chinês – pegou a todos de surpresa. Mas o choque maior deve ser sentido pelas demais varejistas brasileiras, que precisam forçar cada vez mais resultados para não perder espaço na briga.

Com a concorrência mais intensa após o acordo, economistas avaliam que rivais como as Casas Bahia (BHIA3) e a Americanas (AMER3) devem sentir o peso em suas vendas e margens de lucros. 

Para Marlon Glaciano, gestor financeiro e especialista em investimentos, ambas precisarão investir em inovação e melhorias para se manterem competitivas no e-commerce brasileiro.

Mas, ainda assim, a crença de que essas companhias podem vir a criar uma “frente brasileira” para enfrentar a Magalu e sua nova empreitada com a plataforma chinesa não tocou os analistas.

“Como são todas as empresas concorrentes, com capitais distintos, com diferentes filosofias e diferentes marcas, eu acredito que isso seria impossível. Além do que, as maiores ineficiências estão relacionadas a todas elas serem brasileiras”, avaliou Bruno Corano, economista e investidor da Corano Capital.

Além disso, frisou ele, mesmo ficando para trás, inclusive por não priorizarem seus serviços de e-commerce tanto quanto a Magalu, as Casas Bahia e Americanas estão em condições muito desfavoráveis neste momento, seja pelo seu comprometimento financeiro ou por seu perfil de negócio.

Já o professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) em direito empresarial, Matheus Martins, caracterizou uma possível aliança entre as Casas Bahia e a Americanas como uma “estratégia viável”. 

“Uma “frente brasileira” robusta poderia otimizar logística e marketing, oferecendo uma experiência de compra mais competitiva e atraente para os consumidores”, indicou.

A Casas Bahia, que pertence à Via Varejo, iniciou o processo de recuperação extrajudicial, que já foi aprovado pela Justiça, para resolver uma dívida de R$ 4,1 bilhões. 

Enquanto, o caso da Americanas, muito conhecido pelo mercado, iniciou com uma fraude contábil no valor de R$ 25,2 bilhões. A empresa entrou em recuperação judicial por uma dívida total de R$ 42,5 bilhões.

Glaciano ressalta que para tentar manter seu lugar no mercado, ambas precisam focar em sua reestruturação interna. 

Entre as diversas estratégias para otimizar custos e melhorar a experiência dos clientes, disse ele, fortalecer suas plataformas de marketplace e focar no e-commerce mobile são movimentos para seguir competindo com os rivais.

Varejistas interncaionais: como ficam os outros e-commerces no Brasil?

Uma “frente brasileira” robusta, como apontou Martins, poderia exigir mais não apenas das varejistas brasileiras, como também dos marketplaces internacionais, como Amazon (AMZO34) e Mercado Livre (MELI34).

“Tal movimento agitaria o mercado e exigiria que empresas como Amazon e Mercado Livre ajustassem suas estratégias, investindo em logística, diversificação de serviços e tecnologias avançadas para manter suas posições no mercado brasileiro”, reforçou.

Por parte do Mercado Livre, um movimento que já pode ser percebido são as tentativas de despertar o consumidor para a venda de roupas em sua plataforma, já que, ao contrário do que ocorre com a Shein e Shoppe, a procura dos consumidores está mais concentrada em outras categorias, como eletrônicos e bens de consumo.

Campanhas para atrair maior visibilidade à categoria de vestuário da empresa já circulam nos meios de comunicação há um tempo, uma delas, inclusive, com a cantora e ex-BBB Manu Gavassi.

Mas, na visão de Corano o acordo firmado entre a Magalu e a Aliexpress não significa uma ameaça para as atividades dessas duas companhias norte-americanas no Brasil. 

“Elas não têm perdas, pois seu modelo de negócio é distinto. A Amazon é um Marketplace, mas o Brasil, para ela, não é um mercado ainda relevante, ela tem como como fundamento uma base de fornecedores muito mais ampla. E o Mercado Livre, em última instância, também é um Marketplace de pessoa para pessoa. Então eles não se equiparam”, explicou.

Além disso, os produtos que a Magalu e a Aliexpress pretendem intercambiar são de uma linha “bem limitada”, lembrou o economista.