Varejistas: 1º trimestre sinaliza 2023 difícil

Os balanços do período divulgados ao longo de maio revelaram prejuízos milionários dessas companhias

As principais representantes do varejo de moda do Brasil não tiveram o que comemorar no primeiro trimestre de 2023. Os balanços do período divulgados ao longo de maio revelaram prejuízos milionários dessas companhias.

Renner (LREN3), Guararapes (GUAR3), dona da Riachuelo e C&A (CEAB3) mostraram resultados ruins no início de 2023. A Renner teve queda de 75% no lucro, enquanto a Riachuelo registrou decréscimo de 119% e a C&A reportou recuo de 17%.

A Marisa (AMAR3), outra gigante do setor, publicou seu resultado na segunda-feira (15) e também marcou prejuízo líquido de R$ 149 milhões, número 64,2% maior do que os R$ 90,7 milhões registrados no mesmo período do ano passado.

Especialistas ouvidos pelo BP Money mostraram pessimismo em relação ao desempenho das empresas varejistas para 2023. Os principais fatores que podem explicar as baixas expectativas estão na macroeconomia. 

“Em relação ao desempenho das empresas, podemos dizer que o varejo está mais fraco. As expectativas serão ótimas quando o juros começarem a cair. No momento o que a gente vê é o seguinte: população endividada, renda curta, gasto limitado e isso faz com que as vendas sejam mais fracas. Acho que no segundo tri a gente deve esperar mais ou menos igual ou pior. No primeiro a gente ainda tinha resquício de 13º, mas no segundo eu acho que a situação das empresas será um pouco pior”, disse o analista de investimentos do Andbank, Fernando Bresciani.

“Será um ano apertado para o setor de varejo de baixa renda, porque esse sofre mais com o juro alto. Mas mesmo que a gente siga com esse desempenho e o juro comece a cair em setembro, as empresas vão andar com uma perspectiva de que 2024 e 2025 sejam anos melhores”, acrescentou. 

Fator Americanas (AMER3)

A gravidade da crise fiscal nas Lojas Americanas (AMER3) pegou mercado de surpresa no início do ano, mas de acordo com o fundador da Gava Investimentos e analista financeiro, Ricardo Brasil, o rombo de cerca de R$ 20 bilhões deixado na companhia não impactou nos desempenho destas varejistas. 

 “O caso Americanas não vai atingir o desempenho delas. Se fosse atingir seria para melhor, porque a Americanas daria mercado para outras varejistas. O que pode influenciar é que o mercado agora está fazendo pente-fino. Então, as empresas serão mais auditadas e conseguir empréstimo será mais complicado “, avaliou Brasil. 

O especialista concorda que este será um ano de muitos desafios para o setor. “A inflação alta deixa os juros altos. Com inflação alta as pessoas também não compram e acaba virando uma bola de neve. 2023 não é nada animador para essas empresas. Só teremos um cenário mais otimista quando a Selic cair”, prevê.

Marisa 

Uma situação que merece atenção especial é a da Marisa. A tradicional varejista vem passando por momentos delicados nos últimos meses e, segundo avaliação de analistas, não será surpresa se a companhia decidir entrar com pedido de recuperação judicial nos próximos dias. 

Na semana passada, a empresa teve dois pedidos de falência solicitados por credores na Justiça de São Paulo. A primeira ação tramita desde o dia 3 de maio na 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais da Capital, no valor de R$ 363,5 mil, requerida pela MGM Comércio de Acessório de Modas.

O segundo pedido, da fabricante de calçados Oneflip Indústria e Comércio, distribuído também para a 2º Vara de Falências, refere-se a uma dívida de R$ 345,7 mil.

“A Marisa está quase pedindo recuperação judicial, fechando lojas e trocando CEOs. A Marisa tenta recuperar as margens há bastante tempo mas não consegue, então tem um futuro catastrófico se não mudar nada”, pontuou Ricardo Brasil.

No resultado do 1T23 a companhia, apesar do prejuízo de quase R$ 150 milhões, melhorou alguns índices. Nas lojas físicas, o faturamento cresceu 5% no ano, para R$ 548,1 milhões, já o lucro bruto cresceu 6% no ano, chegando a R$ 218 milhões, com expansão de 2,2 pontos percentuais da margem bruta, que chegou a 49,5%. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) do varejo cresceu 42,9% no ano – mas ainda ficou negativo em R$ 36,1 milhões.