Mais uma semana, mais notícias de demissões em startups. Desta vez, foram os unicórnios Olist e Vtex que promoveram cortes nos seus quadros de funcionários. Nesta quinta-feira (26), a Vtex foi a última a integrar o grupo que soma nove empresas no setor que fizeram desligamentos em massa só nos últimos 30 dias. A companhia confirma o número de 193 profissionais atingidos no processo. Somadas, somente as duas startups citadas teriam demitido cerca de 340 pessoas num intervalo de quatro dias.
Na segunda-feira 23 de maio, a Olist, especializada em comércio eletrônico, fez uma rodada de demissões. Internamente, falava-se em 150 desligamentos, mas o CEO e fundador da startup curitibana, Tiago Dalvi, disse em entrevista ao “Estadão” se tratar de um número menor. Em posicionamento enviado ao BP Money, a empresa não endereça o questionamento sobre a quantidade de pessoas demitidas, mas alega que o “ambiente macroeconômico desafiador catalisou movimentos já planejados de ajustes no quadro e ganhos de eficiência na operação como forma de sustentar uma agenda positiva de crescimento”.
No texto, a companhia ainda reafirmou o guidance de negócio para seguir investindo em expansão e diz ter “dezenas de posições abertas no Brasil e México.”
A queda dos mercados globais e o aperto das condições para investimentos no País vêm provocando revisões nas empresas de tecnologias, que após anos de acelerado crescimento, precisam agora pisar no freio dos gastos. A crise atingiu em cheio o setor, por isso startups de médio e grande porte (caso dos unicórnios) vêm promovendo demissões em massa. O pessimismo no horizonte do venture capital ganha espaço no noticiário e as análises de mercado numa base quase diária.
No posicionamento, a Olist lembra que cresceu acima da média de mercado, motivada pela evolução do seu ecossistema de produtos, de uma agenda estruturada e positiva de M&As, investimento direto em inteligência e malha logística, além do fortalecimento da sua presença e posição de liderança nos maiores marketplaces do Brasil. “Tais movimentos geraram uma expansão de 3,5x da receita, enquanto o seu quadro de colaboradores triplicou, colocando a empresa em uma posição de destaque entre startups brasileiras”, traz o texto.
Empresas entram na extensa lista de startups que fizeram desligamentos em massa
Olist e Vtex são, respectivamente, as oitava e nona empresas brasileiras de tecnologia a entrarem no grupo – até onde se sabe. O ritmo de demissões segue o período de apresentações de resultados do primeiro trimestre, quando as companhias precisam sentar com investidores para definir os rumos do negócio. Corre o boato no mercado que o endurecimento do tom nessas conversas levaram às decisões de desacelerar o crescimento e, principalmente, de fazer bruscos e grandes cortes nas equipes das operações.
Por meio de posicionamento, a Vtex alegou que a decisão de reduzir a força de trabalho “foi tomada como um julgamento estratégico sobre qual estrutura organizacional pode entregar nossas prioridades ajustadas e alinhadas a esse ciclo orientado a crescimento com eficiência”. Ambas as notas podem ser lidas na íntegra ao fim desta reportagem.
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Nas redes sociais, ex-funcionários da startup associam os desligamentos desta quinta-feira (26) a uma passada de crescimento maior do que a operação conseguiria sustentar, o que teria levado ao grande número de cortes. Segundo fontes ouvidas pelo BP Money em condição de anonimato, há cerca de duas semanas o co-CEO da Vtex Geraldo Thomaz assinou uma carta aos funcionários em que dizia que a companhia estava “ajustando as velas do barco para surfar uma nova onda, porque o mercado estava atravessando algumas tempestades.”
Já estava claro o que aconteceria em seguida, só que poucos esperavam a quantidade alta de funcionários que acabaram indo para o sacrifício “para que o barco continuasse navegando”. Muitos projetos já vinham sendo engavetados e suspensos nas últimas semanas, segundo um dos entrevistados. “Acredito que a empresa pode estar com dificuldades para levantar novos investimentos, o que levou aos enxugamentos”, disse uma das fontes.
Na reunião geral de equipe, procedimento comum nas empresas desse setor, após a carta, os gestores foram questionados sobre a decisão na sequência dos investimentos com o Vtex Day, evento tradicional no mercado de inovação. Entre os palestrantes, a startup contratou o piloto de Fórmula 1 Lewis Hamilton. Além de refutar a associação dos cortes de pessoal com a agenda, um dos líderes reforçou que seria mesmo preciso “fazer mais com menos”, algo que já vinha acontecendo no time dos Estados Unidos. Ali, estava claro a todos o que aconteceria nos próximos dias.
As pessoas ouvidas pela reportagem do BP Money acreditam que a operação da Vtex estava inflada, com sobreposição de funções e pessoas demais em algumas áreas. Na planilha que circula nas redes sociais, nomes de ex-funcionários das equipes de produtos, marketing, vendas e tecnologia. Entre os que foram poupados dos cortes, os entrevistados vêm um ponto comum: a empresa priorizou aqueles dedicados aos produtos “da casa” e deve focar no core business daqui para frente. E essa tripulação terá bastante trabalho para ajudar a startup atravessar o mar revolto neste ano.
Leia as notas da Vtex e da Olist sobre os desligamentos:
Vtex – Hoje, anunciamos uma nova etapa em nosso ciclo de expansão eficiente. Este passo vem com decisões difíceis, que impactam diretamente 193 profissionais. Valorizamos muito nossa equipe excepcional, apreciamos profundamente e agradecemos a todos por seu compromisso e trabalho duro. No geral, a decisão de deixar as pessoas irem não foi especificamente sobre o potencial ou o desempenho de cada indivíduo. A decisão de reduzir nossa força de trabalho foi tomada como um julgamento estratégico sobre qual estrutura organizacional pode entregar nossas prioridades ajustadas e alinhadas a esse ciclo orientado a crescimento com eficiência. Todas as nossas iniciativas, incluindo qualquer redução e reestruturação da força de trabalho, sempre foram e serão tratadas com transparência, respeito e responsabilidade. Estamos comprometidos em ajudar os funcionários impactados com recursos necessários para sua transição.
Olist – Em 2021, o Olist cresceu de forma acelerada e acima da média de mercado, motivado pela evolução do seu ecossistema de produtos, de uma agenda estruturada e positiva de M&As, investimento direto em inteligência e malha logística, além do fortalecimento da sua presença e posição de liderança nos maiores marketplaces do Brasil. Tais movimentos geraram uma expansão de 3,5x da receita, enquanto o seu quadro de colaboradores triplicou, colocando a empresa em uma posição de destaque entre startups brasileiras. O ambiente macroeconômico desafiador catalisou movimentos já planejados de ajustes no quadro e ganhos de eficiência na operação como forma de sustentar uma agenda positiva de crescimento. O Olist seguirá investindo na expansão do negócio de forma estratégica, com dezenas de posições abertas no Brasil e México e criando soluções para transformar a realidade das pequenas e médias empresas.
