XP: troca do dólar por moeda dos Brics depende de aceitação

Para Caio Megale, da XP, proposta carece de detalhes e da adesão de empresas que atuam no comércio internacional

 

A possibilidade defendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de trocar o dólar por uma moeda alternativa para as transações entre os países que compõem o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) é importante, mas carece de detalhes e da adesão dos vários agentes envolvidos, dentre eles, as empresas que atuam no comércio internacional.

A opinião é do economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale. Segundo ele, embora a importância do dólar seja um tema debatido há décadas, com várias divisas surgindo como opção à americana, essa é uma proposta que endereça uma necessidade das empresas que fazem negócios com outros países. Além disso, difere do que o Brasil discutiu com a Argentina no passado.

“Precisamos entender mais os detalhes, que tipo de proposta é essa”, avaliou Megale, em conversa com o Broadcast, no âmbito das reuniões de Primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI). “O Brasil é um país mais para [um comércio fechado] do que aberto, mas ainda assim é um país grande, importante e é uma sinalização [da proposta] nessa direção”, avaliou.

Megale lembra que existem razões para a dominância do dólar como a sua confiabilidade no comércio internacional, sua aceitação e profundidade no sistema financeiro global. Uma empresa que faz negócios com a China e recebe yuan não necessariamente vai conseguir utilizá-lo em relações com outros países como o dólar, exemplifica. Ou seja, o uso de outra moeda depende da aceitação também por parte do setor corporativo, afirma.

“O negócio sem a intermediação do dólar é um negócio que não facilita tanto. Pode ser uma possibilidade do comércio bilateral, mas, não necessariamente, é com outros países”, avaliou o economista da XP, acrescentando que o tema é importante.

Lula defende moeda alternativa ao dólar para Brics

A fala de Lula em defesa de uma nova moeda para trocas comerciais entre os Brics ocorreu nesta quinta-feira (13), em Xangai (China), durante discurso na cerimônia de posse de Dilma Rousseff como presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), segundo o InfoMoney.

“Quem decidiu que era o dólar a moeda depois que desapareceu o ouro como paridade? Hoje um país precisa correr atrás de dólar para poder exportar, quando poderia exportar com sua própria moeda e os bancos centrais poderiam cuidar disso. Todo mundo depende de uma única moeda, e tem muita gente mal acostumada”, questionou Lula.

Fundado por Brasil, Índia, China e África do Sul no final da década de 2000, os Brics nasceram como um bloco alternativo para promover a aproximação entre as nações e estimular a realização de acordos comerciais. O Novo Banco de Desenvolvimento foi criado para financiar projetos de infraestrutura e oficializado em encontro realizado entre os representantes dos países em 2014, no Brasil. Essa instituição tem também como sócios o Egito, Uruguai, Emirados Árabes e Bangladesh.

Recentemente, Brasil e China têm avançado em conversas para a realização de trocas comerciais sem a necessidade de conversão para o dólar, mas não há previsão sobre quando esse novo arranjo poderia entrar em vigor. A padronização do dólar para as relações comerciais entre países com moedas diferentes foi estabelecida após o  Acordo de Bretton Woods, em 1944, que lastreou a moeda norte-americana ao ouro.

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