Análise

Caged: após dados, especialistas divergem sobre cortes na Selic

Fontes ouvidas pelo BP Money analisam força do mercado de trabalho e destacam os impactos na trajetória de cortes de juros

Corte nas taxas de juros
Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil

O Brasil criou, em março deste ano, 244.315 postos de trabalho, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). O valor veio acima da expecativa do consenso, que projetava 193 mil vagas, e abaixo do resultado de fevereiro, quando foram criados 300 mil postos de trabalho.

Ao BP Money, o CEO da Multiplike, Volnei Eyng, disse que resultado é “remédio amargo, mas positivo”. “Apesar de ser um número menor [comparado ao de fevereiro], é considerado positivo, pois oferece espaço para o BC (Banco Central) reduzir a taxa Selic sem estar tão pressionado por dados robustos de geração de emprego”, afirma Eyng.

Andre Colares, CEO da Smart House Investments, afirma que o resultado referente ao mês de março indica uma desaceleração na recuperaçao do mercado de trabalho, devido ao número menor quando comparado ao mês anterior.

Entretanto, ele ressalta que “embora ainda represente um dado positivo, essa diminuição pode ser interpretada como uma normalização após uma rápida recuperação”.

Já André Meirelles, Diretor de Alocação e Distribuição da InvestSmart, pontua que os dados do Caged sobre a criação de vagas de emprego em março evidenciam um mercado de trabalho aquecido.

“Mesmo com a esperado aumento do nível de desemprego no trimestre, pela sazonalidade negativa do início do ano, o dado surpreendeu positivamente e veio 7,9%, de acordo com a PNAD. Em termos dessazonalizados, a taxa caiu de 7,5% para 7,4%, mostrando que ainda temos um mercado de trabalho aquecido”, afirma Meirelles.

O indicativo de mercado de trabalho forte e o ganho real na média salarial podem gerar, portanto, alguma pressão adicional nas estimativas inflacionárias futuras e, consequentemente, afetar a trajetória de corte de juros.

André, porém, não enxerga mudanças na expectativa para o curto prazo, diante dos dados de IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), principal medidor da inflação no Brasil, vindo abaixo das expectativas.

“Acreditamos que as expectativas de trajetória na taxa de juros dos EUA tenham até um peso mais relevante na percepção do BC sobre a trajetória da taxa de juros local”, destaca Meirelles.

No Boletim Focus divulgado nesta terça-feira (30), o BC manteve as projeções para a inflação, Selic e PIB.

Na última semana, as projeções de 2024 para o IPCA, medidor da inflação no país, permaneceram em 3,73%. Já a estimativa para a Selic foi mantida em 9,50%.

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