Especialistas avaliam

Carrefour: europeias podem ficar mais cautelosas após boicote

Ao mesmo tempo, especialistas divergem. Alguns falam que movimento deve servir de incentivo

Outras empresas europeias podem ter atitudes parecidas com boicote do Carrefour
Foto: Divulgação/Carrefour

Os desdobramentos do boicote do Carrefour à carne do Mercosul sugerem que outras empresas europeias com vínculos com a América do Sul devem adotar uma postura mais cautelosa, avalia o advogado especialista em Políticas Públicas Marcello Rodante.

O Carrefour anunciou que ia parar de comprar carnes do Mercosul no dia 20 de novembro. A decisão do grupo foi tomada em solidariedade ao agronegócio francês, que é contrário ao acordo comercial entre Mercosul e UE (União Europeia).

Junto com a decisão, o CEO da companhia, Alexandre Bompard, afirmou que o acordo traria “risco da produção de carne que não cumpre com seus requisitos e padrões se espalhar pelo mercado francês”, colocando em dúvida o padrão de qualidade das proteínas da organização sul-americana.

Bompard teve que pedir desculpas por suas declarações, após a interrupção do fornecimento de carne bovina às lojas do grupo Carrefour no Brasil, como resposta ao boicote francês.

De acordo com Rodante, essas consequências negativas devem fazer empresas europeias pensarem duas vezes antes de anunciar boicotes ou interrupções drásticas.

Em vez disso, elas devem optar por buscar engajamento mais direto com seus fornecedores, para promover melhorias em práticas ambientais e sociais, sem comprometer suas cadeias de suprimento.

“O exemplo do Carrefour demonstrou que soluções simplistas para problemas complexos como o desmatamento ou questões ambientais podem ser contraproducentes“, afirma o especialista.

“O caminho mais eficaz parece ser o da colaboração entre empresas, governos e organizações da sociedade civil para garantir maior sustentabilidade nas cadeias produtivas, sem adotar medidas unilaterais que possam comprometer a confiança e os negócios em mercados estratégicos”, sugere Rodante.

Por sua vez, o especialista em mercado de capitais e planejador financeiro Idean Alves afirma que o boicote do Carrefour à carne do Mercosul representa um “ruído momentâneo” e não coloca o acordo entre Mercosul e UE em risco.

“O mundo e a economia mudaram. Se antes a Europa era mais impositiva em relação aos seus acordos, hoje há uma necessidade de ambos os lados de fazer negócio. A economia europeia desacelerou, o euro enfraqueceu frente ao dólar, os players mais relevantes estão em outros países fora do bloco, então um acordo visa aumentar a força comercial da União Europeia, que perdeu força nos últimos anos”, explica o especialista.

Outros especialistas divergem sobre consequências do boicote do Carrefour

Já para o economista e professor da Unit (Universidade Tiradentes) Josenito Oliveira, o boicote do Carrefour à carne do Mercosul serve de incentivo para outras empresas europeias tomarem atitudes parecidas, mesmo com as consequências negativas observadas pela rede de supermercados.

“O contexto político, incluindo a resistência de países como a França ao acordo (entre Mercosul e UE), reforça a possibilidade de um movimento coordenado entre empresas e organizações contrárias ao acordo”, comenta Oliveira. O próprio Carrefour expressou publicamente o desejo de que outras empresas adotem ações semelhantes.

Junto com a empresa, outro grupo varejista francês, o Les Mousquetaires, também anunciou boicote às carnes bovina, suína e de aves do Mercosul. O grupo é proprietário da rede Intermarché, uma das mais populares da França.

“Essas decisões refletem essa crescente pressão dos sindicatos agrícolas e preocupações com a competição desleal”, explica George Sales, professor FIPECAFI (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras).

Mesmo assim, ele reconhece que a pressão dos pecuaristas brasileiros surtiu efeito. “As cartas estão na mesa“, diz o professor.

Acesse a versão completa
Sair da versão mobile