Foto: pixabay
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O ano de 2025 tem se mostrado um período de tensões sem precedentes para executivos no Brasil e no mundo. Tarifas instáveis, novas regulamentações federais, mudanças no código tributário, avanços rápidos em inteligência artificial, crises geopolíticas, violência contra líderes empresariais, juros ainda elevados e baixa confiança do consumidor compõem um cenário de pressão contínua. Até julho, 1.358 CEOs deixaram seus cargos — número que já supera o total de 2022 — segundo relatório da Challenger, Gray & Christmas. Entre os que permanecem, dois terços relatam aumento significativo do estresse, com a incerteza econômica e os problemas na cadeia de suprimentos entre os principais fatores, de acordo com pesquisa da seguradora Sentry.

Esse ambiente exige que líderes empresariais combinem habilidade estratégica com gestão intensa da própria energia física e emocional. David Astorino, sócio sênior da RHR International, observa que CEOs enfrentam hoje crises múltiplas — geopolíticas, tecnológicas, econômicas, sociais e ambientais — que transformam decisões rotineiras em dilemas complexos e, muitas vezes, existenciais. O efeito é sobrecarga mental e emocional, comprometendo clareza e capacidade decisória.

Há três perfis de reação à pressão: cerca de 15% dos executivos se tornam “otimizadores de saúde”, intensificando treinos como triatlos ou musculação; metade adota comportamentos prejudiciais, como sono irregular, má alimentação e instabilidade emocional; e o restante mantém hábitos intermediários, mas sem suporte psicológico estruturado. Astorino destaca que, mesmo altamente preparados, muitos líderes podem desenvolver síndrome do impostor diante de problemas inéditos, especialmente em um cenário de complexidade crescente.

A recuperação do bem-estar físico é o ponto de partida. Avaliações médicas, monitoramento do sono, ajustes na dieta e na rotina são estratégias fundamentais. Reduzir álcool e cafeína, além de manter exercícios regulares, favorece a saúde metabólica e prepara o corpo para demandas cognitivas intensas. Para executivos que já buscam desempenho extremo, a analogia com atletas é direta: performance só se sustenta quando equilibrada com recuperação — sem ela, cognição e foco entram em declínio.

A saúde emocional é igualmente estratégica. O acompanhamento de coaches ou conselheiros permite que líderes reflitam sobre reações a crises, decisões e interações, reduzindo impactos negativos em cascata sobre equipes e operações. Astorino argumenta que CEOs precisam aceitar limites e incertezas, delegar responsabilidades e confiar em times que complementem suas habilidades — reconhecendo que o sucesso não depende apenas de esforço individual.

O cenário global indica que os desafios tendem a se intensificar. Mudanças em políticas públicas, relações internacionais, tecnologia e economia devem acelerar a complexidade. Experiências históricas mostram que líderes que aceitam essa realidade e concentram energia no que podem de fato influenciar são mais resilientes, preservando saúde física e emocional. Essa transformação, porém, não ocorre de imediato: requer educação, implementação gradual de hábitos e ajustes contínuos na forma de liderar.

Em meio a pressões extremas, a liderança sustentável depende da combinação entre performance e autocuidado, decisões baseadas em dados, delegação inteligente e suporte emocional estruturado. A analogia com hospitais é ilustrativa: preparação constante, protocolos claros e priorização da recuperação são indispensáveis. Como lembra Emily Austen em Smarter, não é necessário exibir esforço incessante para impressionar o mercado; eficácia e impacto residem em equilibrar responsabilidade, autocuidado e visão estratégica.

O CEO moderno enfrenta um trabalho impossível, não por falta de capacidade, mas pela simultaneidade de variáveis externas. Aceitar limitações, investir em saúde física e emocional, delegar com inteligência e focar no que realmente pode ser controlado deixou de ser estratégia de sobrevivência — tornou-se um imperativo para garantir performance sustentável, crescimento corporativo e longevidade profissional.

* Fernando Nery é CEO da Portão 3 (P3), fintech que já transacionou mais de R$10 bilhões e apoia mais de 5.000 empresas na América Latina com cartões corporativos e gestão de pagamentos.