Para além de seus bordões como comentarista e grandes feitos como árbitro profissional de futebol – como ser o primeiro árbitro não europeu a apitar uma final de Copa do Mundo em 1982 – Arnaldo Cezar Coelho, 79, tem uma regra clara para os investimentos: diversificar e investir pensando no futuro, sem pensar na velocidade do retorno do montante investido.
“Minha carreira nunca foi de velocidade, sempre foi de resistência. Comecei apitando futebol de areia, na praia. Eu saía a nado, de Copacabana, Ipanema, depois dos jogos, para não apanhar dos torcedores, e chegava em casa e eu falava para o meu pai que estava investindo para o futuro. Foi um investimento e deu certo. Mesma coisa o mercado financeiro. Você não pode pensar em dar tacada, em comprar uma ação que está a R$ 0,30 e esperar que ela passe a valer R$ 20, não tem isso, isso acontece raramente”, disse Arnaldo.
“Então a corrida é de resistência, não de velocidade. Essa é a analogia que eu faço”, complementou o ex-árbitro.
Arnaldo Cézar Coelho foi, além de um investidor, um profissional do mercado financeiro. E tudo isso durante sua carreira como árbitro de futebol. Ao BP Money, Arnaldo contou que quando começou a apitar futebol passou a ganhar um dinheiro a mais do que precisava, e assim começou a fazer uma poupança.
“Quando comecei a fazer minha poupança, minha mãe me sugeriu que eu comprasse um apartamento em Botafogo, aqui no Rio de Janeiro, e eu fui lá e comprei o apartamento, mas de seis em seis meses tinha uma parcela intermediária que era muito alta, e eu falei pra ela. Aí ela sugeriu que o que sobrasse era pra eu aplicar e seis meses depois pagaria a parcela intermediária, e ali eu descobri naquela época que tinha um título de renda fixa, que se chamava letra de câmbio, que vencia de seis em seis meses”, explicou Arnaldo sobre seu começo no mundo dos investimentos.
O ex-árbitro explicou que começou a “casar o pagamento das parcelas intermediárias” de seu apartamento com a poupança, para poder pagar aquela parcela semestral e, dessa forma, Arnaldo teve o primeiro contato com o mercado financeiro.
“Na terceira vez que fui ao banco Safra, o gerente me convidou para ser uma espécie de agente autônomo, era um corretor de valores, eu tirei minha carteirinha e comecei a angariar clientes para o Safra, para comprar letras de câmbio”, disse o ex-árbitro.
Segundo ele, tanto para entrar para o banco quanto para angariar clientes, posteriormente, para sua corretora própria, sua carreira no futebol foi muito importante para o seu início no mercado financeiro, já que seu nome e sua imagem eram conhecidos por muitos clientes.
“Essa letra de câmbio virou um produto que eu vendia pros meus amigos, para os meus clientes e eu virei um corretor do banco Safra. Nesse meio tempo, começaram a surgir clientes para bolsa de valores. Meu irmão era auxiliar de pregão de uma corretora no Rio e eu entrei para essa corretora como agente autônomo também, então eu vendia letra de câmbio no Safra e renda variável pela corretora Multiplique, na época, e aí, em 1972, comecei a atender clientes em renda variável e renda fixa. Assim eu comecei no mercado”, contou Arnaldo.
A carreira de Arnaldo Cezar Coelho fora das quatro linhas
Após entrar para o mercado financeiro, Arnaldo passou a conciliar seu emprego de agente autônomo com as suas arbitragens no futebol. Segundo ele, essa tarefa não foi nada fácil.
“Tive muita dificuldade para conciliar as profissões. Eu dava aula de educação física. Eu tinha uma motocicleta na corretora. As aulas não eram seguidas, então eu ia dar aula das 7h às 8h, voltava pra corretora de moto e depois voltava pra dar aula na escola às 12h. E quando eu apitava futebol, eu viajava, almoçava com um cliente, visitava outro à tarde, e à noite eu apitava o jogo. Quando comecei a sentir que o mercado financeiro estava me atrapalhando em campo, eu larguei o futebol, depois de conquistar tudo”, disse Arnaldo.
Após entrar no banco Safra e virar gerente comercial de uma corretora, Arnaldo fundou sua própria empresa do mercado financeiro, que se chamava “Liquidez”.
“Em 1985 eu criei minha própria instituição financeira, que foi uma distribuidora de Valores, que tinha oito funcionários. Chamava “Liquidez”, compramos o título da BM&F, viramos corretores de mercado futuro e fui durante mais de 20 anos dono de uma corretora da BM&F que era segunda colocada no ranking da BM&F de mercado futuro. A gente não operava bolsa de valores, operava no mercado futuro. E assim eu fiquei até 2009 quando vendemos a corretora para um grupo estrangeiro, e aí virei cliente”, contou Arnaldo.
O ex-árbitro de futebol destacou que nunca teve conhecimento técnico sobre mercado financeiro, mesmo trabalhando na área por muitos anos.
“Eu sabia o que o cliente queria e sabia o que era o mercado, conhecia os produtos, mas eu sou formado em educação física. O que eu fiz foi fazer cursos. Participei de seminários, mas nunca fui um técnico. Se precisasse de alguém para analisar um balanço de uma empresa, por exemplo, eu levava um técnico do meu lado e escutava ele”, confessou Arnaldo.
Segundo o ex-comentarista da TV Globo, a arbitragem servia de vitrine para o seu negócio.
“A arbitragem servia de vitrine para o meu negócio. O futebol é uma paixão nacional e quando eu ia visitar um cliente, que geralmente eram bancos, fundos, era conhecido do futebol e eu tinha bons serviços e bons produtos para oferecer e com isso conseguia muitos clientes”, disse Arnaldo.
O ex-árbitro afirmou que a clientela de sua empresa (Liquidez) era muito grande.“A gente fazia 13% do mercado BM&F no Brasil, era a segunda colocada. Era um movimento muito grande”, contou.
Comprar a ação e esquecer? Pode isso, Arnaldo?
Para Arnaldo Cezar Coelho, a renda variável é investimento a longo prazo. “A corrida não é de velocidade, a corrida é de resistência. O investimento em renda variável não é para amanhã, é para o futuro. Compra e esquece, porque vai ter altos e baixos”, disse o ex-árbitro.