Após declarações polêmicas de Tallis Gomes, CEO e fundador da G4 Educação, durante uma interação nas redes sociais, diversas mulheres que atuam no mercado financeiro questionaram o posicionamento das empresas onde o mesmo atua como conselheiro, defendendo a importância da liderança feminina no mundo corporativo.
Tallis, que também ocupou cargos nos conselhos da Espaçolaser, Grupo HOPE e TRANSPES, foi criticado por suas falas, que sugerem que mulheres em cargos de liderança “masculinizam-se” e que isso impactaria negativamente a família.
Enquanto respondia perguntas em seu Instagram, Tallis Gomes foi questionado se estaria noivo da sua mulher caso ela fosse CEO de uma grande companhia. Em resposta, afirmou: “Deus me livre de mulher CEO”.
De acordo com apuração do BP Money, as falas rapidamente geraram reações no mercado, principalmente de mulheres líderes, que questionaram a manutenção de Gomes como conselheiro de empresas voltadas para o público feminino.
Manifestações e pedidos de boicote
Muitas das críticas focaram na falta de um posicionamento das empresas onde Tallis Gomes atuou como conselheiro. “Então a Espaçolaser deveria exigir que ele não permaneça no conselho até o momento”, disse uma das profissionais em uma das mensagens que o BP Money teve acesso, enfatizando que a marca precisa se posicionar para evitar perda de confiança de suas consumidoras.
“Privilégio masculino: atacar empresárias mulheres e ainda se manter como conselheiro de empresas voltadas para o mundo feminino”, questionou outra importante líder feminina no mercado financeiro.
“Se não tomarem medidas para retirar o sujeito, não compro mais nessas marcas”, declarou uma consumidora, reforçando a importância de alinhar as práticas empresariais com os valores defendidos pelo capitalismo de stakeholders.
“Estamos em um momento de agir e demonstrar o que as empresas realmente valorizam. Não faz sentido comprar de marcas que apoiam alguém com esse tipo de visão sobre seu principal público”, completou.
Além disso, muitas mulheres expressaram choque ao saber que Tallis Gomes ocupou posições de liderança em empresas com foco no público feminino. “Me apavora ver as empresas que ele representa! G4 Educação e duas super femininas como HOPE e Espaçolaser! Assustador isso!!”, afirmou uma executiva.
Reação de lideranças femininas
Luiza Helena Trajano, Presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza e uma das maiores vozes no debate sobre diversidade e inclusão no Brasil, também se manifestou sobre o caso.
“Sempre acreditando e fazendo valer o poder das mulheres. O Magalu fez uma parceria pontual com o G4 para oferecer um curso a pedido dos sellers do nosso marketplace. Não concordo em nada com o posicionamento de um dos sócios da empresa a respeito das mulheres”, declarou Trajano, reafirmando seu compromisso com a valorização da liderança feminina em relação à declaração de Tallis.
Outro depoimento no Linkedin veio de uma analista do setor: “A visão de mundo apresentada por este indivíduo é um retrocesso perigoso e insustentável no século XXI. A ideia de que mulheres não deveriam ocupar cargos de liderança por ‘não aguentarem a pressão’ ou que se ‘masculinizam’ ao assumir o poder só revela o quanto esse pensamento está desatualizado. As mulheres já provaram inúmeras vezes sua capacidade de liderar com sucesso, gerando impacto positivo em empresas e sociedades e ainda construindo famílias exemplares.”
Maira Habimorad, CEO do Inteli, também se pronunciou. Ao BP Money a executiva declarou: “sSempre trabalhei em posições que demandavam horas longas, lidar com pressão e viagens frequentes. Para dar conta, criei uma rede de apoio, e passei a ser muito melhor em priorizar, dizer não e focar no que realmente importa. Desde 2018 atuo com Educação. Também em posições de Liderança. Tenho a chance de formar estudantes, desenvolver talentos da minha equipe, ser uma referência para troca e acolhimento com minhas filhas, enteados, alunos e alunas. Realmente não dá para ser perfeita em tudo. Essa é a única forma de dar conta de tudo. Tem horas que fico devendo como esposa, outras como mãe. As vezes como profissional”.
O Inteli é a primeira faculdade de tecnologia e engenharia do Brasil 100% focada em projetos.
“Tenho ao meu lado, um marido que me admira, me entende, me apoia, e hoje um líder excepcional que está comigo pro que der e vier e entende com empatia meus diferentes papéis. E mais importante, quando minhas filhas olham para mim e apesar de sentir a minha falta em alguns momentos, elas pensam e falam: um dia quero ser que nem minha mãe”, acrescentou, Habimorad.
Já Paula Ponzi, fundadora do Grupo Ovo, destacou: “Uma empresa eficiente deve ser diversa em todos os seus níveis gestão, há inúmeras provas empíricas e científicas que comprovam esta minha afirmação. Me surpreende que a essa altura do estado civilizatório ainda tenhamos que lidar com esse tipo de declaração misógina e acéfala proferida por uma dita liderança no meio empresarial. É urgente que a gente eleve o nível de discussão para evoluirmos como sociedade”.
Empresas sob pressão
Diante das manifestações, as empresas em que Tallis Gomes participou dos conselhos – Espaçolaser, Grupo HOPE e TRANSPES – estão sob pressão para se posicionarem. Até o momento, não houve um comunicado oficial dessas marcas, mas o silêncio pode intensificar as críticas e, eventualmente, levar a ações mais drásticas por parte das consumidoras e do mercado.
O caso de Tallis Gomes ilustra o quanto o debate sobre diversidade e inclusão nas empresas ainda é necessário, especialmente quando líderes expõem visões que entram em choque com os valores de igualdade e representatividade que têm sido defendidos globalmente. A liderança feminina não apenas é uma realidade, como também se mostra fundamental para o crescimento sustentável e o sucesso das companhias no século XXI.
Posicionamento da G4 Educação, empresa de Tallis Gomes
Diante das críticas, a G4 Educação divulgou um comunicado oficial: “O G4 Educação não compactua com as palavras do CEO Tallis Gomes no Instagram ontem sobre as mulheres executivas. Essas palavras não representam o pensamento do G4 e muito menos a história da nossa empresa. O próprio Tallis entendeu o seu erro e pediu desculpas públicas. O G4 se orgulha de ter contribuído para a formação de centenas de mulheres executivas de sucesso. Continuaremos comprometidos com essa causa.”