
O Grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, deu um passo definitivo no setor de papel e celulose ao fechar a compra da participação da Paper Excellence na Eldorado Brasil. O acordo, avaliado em US$ 2,7 bilhões (cerca de R$ 15 bilhões), põe fim à mais longa e complexa disputa societária já registrada no país.
Dessa forma, a negociação encerra um impasse que durava desde 2018 e devolve à J&F o controle integral de uma das maiores fabricantes de celulose de eucalipto do Brasil.
A briga teve início em 2017, quando a J&F anunciou a venda total da Eldorado como parte de sua estratégia para levantar recursos após o acordo de leniência no âmbito da Lava Jato. A Paper Excellence, controlada pelo empresário indonésio Jackson Wijaya, chegou a comprar 49,41% da empresa, mas o negócio empacou.
Em 2018, o conflito explodiu: acusações mútuas tomaram os tribunais e envolveram arbitragens internacionais, o Supremo Tribunal Federal e até questionamentos sobre compra de terras por estrangeiros. O Cade, nos últimos meses, chegou a suspender os direitos políticos da Paper na empresa.
Apesar da derrota societária, a Paper Excellence saiu com um saldo financeiro positivo. A empresa havia investido US$ 1,2 bilhão em sua fatia da Eldorado e agora vende por mais que o dobro do valor inicial — com o dólar bem mais valorizado do que em 2017.
Fontes próximas à negociação apontam que Wijaya decidiu ser pragmático: prefere concentrar esforços na expansão da companhia em outros mercados, especialmente na América do Norte, onde já vem consolidando sua presença.
Disputa trava investimentos e freia crescimento da Eldorado
Durante os anos de incerteza, a Eldorado Brasil teve seu potencial de expansão fortemente comprometido. O projeto de construção de uma nova linha industrial, que poderia dobrar sua capacidade produtiva para mais de 3 milhões de toneladas anuais, ficou congelado.
Estima-se que mais de R$ 10 bilhões em investimentos deixaram de ser aplicados no setor por conta da indefinição societária. Porém, agora, com o novo cenário, a expectativa é que a Eldorado recupere seu protagonismo. Além disso, espera-se que ela volte a liderar projetos estratégicos no polo de Três Lagoas (MS).
Dessa forma, com o fim da batalha jurídica, a família Batista assume novamente o comando total da Eldorado Brasil. Fundada em 2010, a companhia é vista como um trunfo estratégico para a J&F em sua atuação no agronegócio e na bioeconomia.
Em suma, a tendência é que, nos próximos meses, a empresa volte a captar recursos. Assim ela pode executar o plano de expansão industrial interrompido há quase uma década — agora sem ruídos de governança ou insegurança jurídica.