“Manter a inflação sob controle, ao redor da meta” é descrito como o “objetivo fundamental” do Banco Central do Brasil (Bacen); ou seja, a instituição financeira vai tomar decisões para, obviamente, alcançar essa meta. A grande questão é que outros bancos centrais também vão fazer o mesmo visando melhorar a economia das suas nações e, no caso de dois deles em específico, as escolhas podem influenciar não apenas a estabilidade dos preços no território brasileiro, como em todo o mundo.
Estamos falando do Federal Reserve (FED), dos Estados Unidos, e o Banco Central Europeu (BCE). As políticas monetárias das entidades impactam diretamente e constantemente as taxas de câmbio. E, já que as moedas em questão se tratam do dólar e do euro, as mais importantes do planeta, todas as outras sofrem consequências da situação cambial das mesmas.
Por esse motivo, precisamos ficar atentos para os momentos em que as instituições financeiras norte-americana e europeia aumentam os juros. Quando isso acontece, os ativos denominados na respectiva moeda se tornam mais atraentes para os investidores globais e, como resultado, tanto a demanda por ela quanto a sua valorização crescem quase que instantaneamente.
Quando o movimento é oposto e algum desses dois bancos centrais reduz as taxas, o dólar ou o euro tendem a se depreciar, já que o investidor pode ter apetite por oportunidades mais lucrativas em outros lugares. Em suma, é uma decisão que afeta, literalmente, a dinâmica de oferta e demanda mundial.
Para fins de ilustração, vamos pegar um exemplo do FED aumentando os juros. Uma das projeções mais básicas com a movimentação da instituição financeira pendendo para esse lado é o encarecimento das exportações e a diminuição do preço das importações, visto que o dólar fica mais valorizado. Em outras palavras, a economia dos Estados Unidos passa a se fortalecer e os outros países que proporcionaram esse aquecimento pagam mais caro pelos produtos e serviços norte-americanos.
Quando os bancos centrais intervêm no câmbio?
As intervenções cambiais ocorrem quando os governos e os bancos centrais em questão compram ou vendem moedas no mercado de câmbio para influenciar pontualmente as taxas. Desse modo, são usadas para suavizar flutuações excessivas ou reverter tendências consideradas prejudiciais para a economia.
É claro que isso não é uma receita de bolo e, assim como qualquer escolha, elas nem sempre são bem-sucedidas a longo prazo, inclusive podendo ser até dispendiosas. O poder de aumentar ou diminuir os juros é uma ferramenta adicional, utilizada ocasionalmente como forma de apoio ou ajuste.
Como não ser surpreendido pelas intervenções cambiais?
Os investidores e até executivos de empresas que mantêm negócios internacionais e que desejam antecipar e reagir às mudanças na política monetária devem acompanhar de perto os comunicados dos bancos centrais e os discursos de seus líderes. Além disso, é essencial que estejam atentos a indicadores econômicos, como taxas de inflação, crescimento e emprego, que podem influenciar as decisões das instituições financeiras.
A análise fundamental e técnica também desempenha um papel importante na previsão das tendências cambiais. Nesse sentido, uma ótima dica, seja para quem está começando a realizar um investimento no exterior ou para os veteranos do mercado financeiro, é recorrer a empresas especializadas; hoje, muitas companhias, especialmente fintechs, auxiliam nas transações internacionais e prestam um atendimento direto e humanizado ao cliente, que o deixa completamente ciente do que fazer diante dessas oscilações.
Vale frisar que, uma vez que estamos tratando das maiores potências econômicas mundiais, é totalmente recomendável que mesmo aqueles que não realizam esses investimentos ou dependam diretamente das oscilações de mercado, que fiquem a par das políticas monetárias do FED e BCE. São movimentos que, a princípio, parecem distantes da nossa realidade, mas impactam as escolhas do Bacen e, posteriormente, naquelas que fazemos no dia a dia, desde pequenas compras até mudanças financeiras completas.
*Luiz Felipe Bazzo é CEO do transferbank, uma das principais soluções de pagamentos e recebimentos internacionais do Brasil.