Com 4% das reservas e apenas 2% da produção global, Brasil vê no rali do ouro a chance de destravar projetos e ampliar a mineração.
Ouro/ Foto: Freepik

A disparada do ouro abriu um novo capítulo para a mineração brasileira, recolocando o País no radar das grandes produtoras globais e impulsionando uma expansão que parecia adormecida.

Mesmo respondendo por apenas 2% da produção mundial, o Brasil guarda um patrimônio geológico muito maior: 4% das reservas globais, equivalente a 2,4 mil toneladas ainda pouco exploradas.

Esse descompasso histórico (entre potencial e produção) voltou ao centro do debate à medida que o metal encontrou um novo patamar de preço. Na última década, o ouro valorizou 155%, sendo 60% apenas em 2025, negociado a cerca de US$ 135 por grama.

Um rali alimentado, principalmente, pela forte demanda dos Bancos Centrais, que vêm trocando parte de suas posições em dólar pelo metal, em meio à piora dos indicadores fiscais dos EUA e a tensões geopolíticas crescentes.

Preço do ouro impulsiona novos investimentos

Com o avanço consistente das cotações, o mercado local reagiu rápido. O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) revisou suas projeções e elevou em 39% a previsão de investimentos destinados à extração do metal.

O plano para 2024–2028 passou de US$ 1,4 bilhão para US$ 2,1 bilhões, o maior salto entre todos os minerais, superado apenas por terras raras, cuja busca cresceu diante da estratégia dos EUA de reduzir a dependência da China.

Para especialistas, a movimentação reflete um momento raro. “O Brasil possui grandes reservas geológicas de ouro no subsolo, e uma parte significativa ainda não está explorada”, afirmou Rafael Marchi, diretor de Infraestrutura da Alvarez & Marsal. A combinação entre preço elevado e novas tecnologias torna economicamente viável avançar para áreas mais profundas e complexas.

Por que mais preço não significa mais produção

Apesar da empolgação, o avanço da oferta não acompanha o rali do metal. Mineração é um jogo de longo prazo: projetos demoram anos para ficar prontos. Para produzir os 6 gramas de ouro que cabem em uma aliança, é preciso explodir ao menos uma tonelada de rochas. Em suma, não há solução rápida.

Com isso, mesmo com a alta de 45% no preço entre o terceiro trimestre de 2024 e o mesmo período de 2025, a produção global subiu apenas 2%. A operação Cuiabá cresceu um pouco mais, 6%, mas ainda distante do ritmo sugerido pelo mercado.

Esse descompasso ajuda a sustentar o preço e a justificar o apetite por novos projetos.

A estratégia das mineradoras: reposicionar ativos

Assim como o setor de petróleo, a mineração de ouro movimenta um mercado ativo de compra e venda de ativos entre companhias de diferentes portes. O exemplo mais recente envolve justamente a AngloGold, que decidiu vender a operação Mineração Serra Grande, em Crixás (GO), para a canadense Aura Minerals.

Sendo assim, o ativo, responsável por 2,5 toneladas em 2024, já não fazia parte do foco estratégico da gigante sul-africana, que concentra 77% de sua produção brasileira em Minas Gerais. A transação (de US$ 76 milhões mais 3% de royalties), reflete essa reorganização.

Curiosamente, a empresa segue explorando a mesma região onde iniciou suas operações em 1834. Isso porque, nessa época, o ouro valia US$ 20,67 por onça, o equivalente a cerca de US$ 760 em valores atuais. Hoje, supera os US$ 4,2 mil. Uma fotografia clara da virada histórica que reacendeu o interesse pelo metal.