O que faz um vinho ótimo ser ótimo? Análise objetiva sobre uma bebida subjetiva

Acho que todo bebedor de vinho já pensou ou recebeu essa pergunta ao menos uma vez

Acho que todo bebedor de vinho já pensou ou recebeu essa pergunta ao menos uma vez. Curiosamente, escuto muitas respostas na linha da subjetividade. Você provavelmente já ouviu falar que “gosto não se discute” e que “vinho ótimo é aquele que eu gosto.” Será que essas opiniões devem ser tratadas como fatos?

Minha opinião é que não. Ao meu ver a degustação de vinho pede duas análises. Uma objetiva e uma subjetiva.

 Para traçar um paralelo, você não precisa gostar de Shakespeare para reconhecer o brilhantismo de sua escrita. Tampouco escutar Chopin para aceitar sua genialidade. Menos ainda investir como o Warren Buffet para admirar sua capacidade de ler o mercado.


Paralelamente, a sua eventual necessidade de comer Mc Donalds na madrugada não emana de um desejo por uma experiência gustativa de excelência. 

Ou seja, existe o seu gosto, que é válido, e existe a técnica, que é necessária. 



Existe sim uma métrica objetiva através do sistema EPIC para analisar um vinho. Tentarei explicar da maneira mais simples possível.

E – Equilíbrio (Harmonia entre acidez, corpo, álcool e aromas. Um vinho desequilibrado pode quase sempre ser sentido no nariz e dispensa prova gustativa)
P – Persistência (Quanto tempo o gosto é sentido após o vinho ser engolido, muitas vezes chamado de retrogosto. Grandes vinhos conversam com você por minutos após o gole.)
I – Intensidade (Grau de informação é fornecida pelo vinho, por exemplo, pense em dois músicos tocando uma música em contraste com uma orquestra de cinquenta pessoas).
C – Complexidade (Quantas dimensões o vinho possui. Pense nisto como uma cebola em que a cada segundo uma nova camada pode ser descoberta. Isso pode se materializar em termos de evolução em taça ou simplesmente quantidade de informação, neste caso entendido como aromas e notas).

Dito isso, vinhos ótimos são mais do que uma análise de laboratório. E esta é a parte subjetiva. Eles possuem o potencial de causar arrepios, lágrimas, enfim… emoção.

 Vinho precisa te fazer sentir, caso contrário, não faz sentido.

Recentemente eu descrevi um vinho da seguinte maneira, “ textura de cashmere da mais alta qualidade, intensidade de primeira paixão, complexidade como a relação de mãe e filho e a potência do som de silêncio.” A análise não era técnica mas o vinho era ótimo. Eu poderia facilmente usar a métrica EPIC descrita acima e dar nota máxima para todos os quatro elementos.

O ponto é que o ótimo não segue fórmula. Talvez por isso escuto argumentos que dizem que ele precisa necessariamente ser subjetivo. Não existe um único elemento capaz de tornar tudo ótimo, assim como é impossível reduzir a grandiosidade de um quadro do Monet a apenas uma pincelada ou cor. O conjunto da obra é ótimo. Isso é vinho, nem só A, nem só B, mas AB.