Sua primeira pergunta, provavelmente, diz respeito ao Triângulo do Amor. Afinal, o que é isso? Estamos falando de uma relação poligâmica? Um trio amoroso? Negativo.
Estamos nos referindo às regiões de Mersault, Chassagne-Montrachet e Puligny-Montrachet na Côte de Beaune, Borgonha, onde muito se debate sobre qual desses três vilarejos é o melhor. O nome se deve ao fato de que, além de estarem geograficamente posicionados de maneira triangular, os vinhos produzidos lá são, inegavelmente, as melhores expressões de Chardonnay do planeta.
Os pontos a serem destacados são os seguintes: Mersault é o maior vilarejo da Côte de Beaune, com uma história vitivinícola que remonta à época do Império Romano. Possui um solo macio, rico e com pedras esverdeadas, e há consenso entre os geólogos de que é o melhor dos três solos.
Em termos de denominações, Meursault é sede de dois dos melhores produtores de brancos do mundo: Roulot e Coche Dury. No entanto, o vilarejo não possui nenhum Grand Cru, o que naturalmente o coloca em desvantagem. No que se refere aos Premier Cru, ousaria dizer que apenas três realmente merecem aplausos, sendo eles Perrières, Charmes e Genevrières.
A seguir, entramos nos detentores dos vinhedos Grand Cru. O vilarejo de Chassagne-Montrachet, fundado em 1879, possui três deles, e dois deles são compartilhados com Puligny. Isso mesmo, parte do vinhedo de Le Montrachet e Bâtard-Montrachet está em um vilarejo, e outra parte em outro. Ou seja, Criots-Bâtard-Montrachet é o único vinhedo Grand Cru exclusivo de Chassagne.
Aqui temos uma curiosidade geológica. A maioria dos solos de Chassagne é mais adequada para uvas tintas, apesar de os brancos serem predominantes. Alguns produtores produzem vinhos tintos excepcionais, como Ramonet, mas ainda são mais conhecidos pelos brancos.
Os brancos tendem a ser menos aromáticos do que os de seus vizinhos. Comparados com Puligny, percebemos menos notas florais e uma maior densidade de fruta e mineralidade. Como acontece em outras partes do sul da Côte de Beaune, não vemos muitos produtores valorizando as uvas tintas e engarrafando vinhedos únicos. Pelo contrário, a maioria é utilizada para vinhos em maior volume.
Finalizando o Triângulo do Amor, chegamos a Puligny-Montrachet. Para a maioria dos críticos, este vilarejo detém o pódio da qualidade no triângulo. Quando bem elaborados, os vinhos de Puligny possuem dois aspectos inconfundíveis. Primeiro, há uma precisão absurda no bouquet, indiscutivelmente mais precisos do que Meursault e Chassagne, seguido pela acidez metálica que penetra na boca de maneira cortante.
Em contrapartida, no nível de vilarejo, os críticos afirmam que este é o mais fraco dos três. Em outras palavras, Puligny-Montrachet oscila entre extremos. Isso acontece porque a maioria dos vinhedos de nível de vilarejo está muito próxima do lençol freático, a camada superior das águas subterrâneas, e é alimentada pelas chuvas. O excesso de água também não é benéfico para as vinhas.
Com os três vilarejos abordados, quem é o “Outsider” do título? A resposta é Saint-Aubin (lê-se Santoban). Atualmente, este é um dos vilarejos mais importantes da região, e muitos afirmam que sua expressão é tão significativa que o triângulo deveria se transformar em um quadrilátero. Em minha opinião, essa perspectiva é um tanto exagerada, apesar de a região produzir vinhos excelentes.
Isso dito, quando falamos de “descobertas” ou “oportunidades de valor”, é evidente, do ponto de vista mercadológico, que as melhores aquisições em termos de custo-benefício na região são provenientes do vilarejo de Saint-Aubin. Arriscaria dizer que este deveria ser o ponto de partida para explorar esse triângulo. Como todo grande amor, tudo começa com uma fisgada no peito.