Startups bem estruturadas já nascem prevendo cenários para o “momento de saída” dos founders em seus planos de longo prazo. Conhecido também como exit, esse estágio final pode ser comparado à linha de chegada de uma longa maratona, onde, em um caso bem-sucedido, os empresários conseguiram atingir patamares de grande valorização da startup no mercado através da consolidação do negócio, o que tem como consequência direta a geração de expressivos retornos financeiros tanto para os fundadores, quanto para os investidores.
No atual mercado brasileiro, é muito mais comum que se encontrem investidores com estratégias de exit bem definidas, ao contrário do que acontece entre os empreendedores. É claro que o foco total de um fundo de Venture Capital é atingir a maior rentabilidade possível de cada investimento, de modo que tais players terem essas estratégias muito bem estruturadas é mais do que esperado. Por outro lado, o olhar dos fundadores sobre esse aspecto do negócio ainda necessita de bastante amadurecimento.
Na esteira do que já vem sendo debatido nessa coluna, acredito que não seja surpresa o posicionamento de que a necessidade de amadurecimento de gestão das startups brasileiras é urgente, e que essas lacunas reverberam desde o início até o fim da trilha das empresas. Antes de voltar ao exit, contudo, vale um disclaimer: a análise crítica feita sobre as problemáticas do mercado tech nacional não são, nem de longe, uma generalização. Existem excelentes iniciativas, empresários, empresas. Mas a disparidade entre preparo e despreparo ainda é desproporcional.
De volta à esperada linha de chegada, existem aquelas rotas que são largamente utilizadas no mercado, como um processo de fusão e/ou aquisição a abertura de capital na Bolsa de Valores (os chamados IPOs). Igualmente utilizados temos também os exits que ocorrem durante as rodadas de investimento da startup, podendo ser parciais ou totais. Como é de se esperar, cada estratégia terá suas vantagens e desvantagens, pelas quais caminharei brevemente.
Quando falamos em um processo aquisição (aqui vou intencionalmente pular as fusões, pelo pequeníssimo volume de transações desse tipo ocorrendo no Brasil), os investidores e fundadores terão como resultado a obtenção de liquidez, que, a depender do deal, vai ser mais ou menos expressiva, o que é justamente um dos pontos mais delicados dessas operações: o valuation da startup, sempre apontando para o céu na visão do vendedor, e para a terra no olhar do comprador. Essa dinâmica é normal, até esperada, e muito provavelmente será o maior ponto de desgaste entre as partes. No que tange ao empresário, essas transações muitas vezes possibilitam a ele que assuma um papel de executivo na empresa adquirente, trabalhando diretamente com o seu negócio ou não. Vale referir ainda que a empresa passa a ser propriedade da adquirente. Isso quer dizer que, concluída a transação, é a estratégia da compradora que passa a ser a única levada em consideração, de modo que a startup adquirida poderá ser tanto potencializada, quanto desmembrada, se esse for o objetivo final da estratégia de aquisição.
Se a meta for o IPO, os acionistas ficarão vulneráveis no momento da venda de suas participações, uma vez que aqui estamos falando de oferta na Bolsa de Valores, logo, o preço estará diretamente ligado às oscilações do mercado. Por outro lado, se a abertura de capital da empresa for bem-sucedida, os retornos do capital investido serão estrondosos. A abertura em bolsa traz para a empresa a chance de captar grandes volumes de capital, além de aumentar sua visibilidade e credibilidade no mercado, sendo possível aos fundadores, a depender de como está seu captable, seguirem com o controle acionário do negócio.
Já quando a startup, dentro de sua trilha de crescimento, realiza novas rodadas de investimento, há a possibilidade de venda parcial ou total de participação. Nesses casos é bastante incomum o exit total dos empresários, sendo mais usual uma venda parcial, muitas vezes perseguida por founders que precisam de recursos financeiros. Essa estratégia tem grande aderência no mercado, pois é uma tática que traz dinamismo, muitas vezes sendo as participações negociadas entre investidores, com um comprando a posição do outro dentro da empresa.
Nesse caso, o exit é um ótimo aliado para as reestruturações de captable, entradas de investidores estratégicos ou saídas daqueles que chegaram quando a ideia não passava de um pitch deck e estão procurando desinvestir para se capitalizarem.
Aqui o entrave podem ser os alinhamentos prévios feitos entre empresa e vendedor, que por vezes acabam engessando o processo. Há, ainda, que ser feita a análise do quadro societário final da startup, pois movimentações como essas podem causar, por exemplo, a perda do controle estratégico por parte dos founders.
Como todo o processo decisório, cada escolha carrega vantagens e desvantagens, mas é fato que ter um entendimento profundo desses diferentes caminhos, qual será mais proveitoso e que alternativas são aceitáveis caso o plano inicial não dê certo pode ser decisivo num momento que é, de forma geral, o mais aguardado tanto entre fundadores quando investidores.