Essa é uma das inúmeras questões do mundo do vinho que se tornam objeto de discussões infinitas. Eu já pensei de uma maneira, mudei de opinião e hoje em dia — com uma litragem bastante vasta — honestamente não tenho mais certeza de nada. Quero dizer, acho que a famosa resposta de advogado conhecida como “depende” merece ser usada aqui.
Se eu fosse trazer para o mundo do mercado financeiro a comparação seria a seguinte: um ativo que já sobreviveu crises e que pode não performar como outros mas, mesmo em tempos sombrios, transmite segurança, ou um ativo volátil que, na clássica relação de risco e recompensa acarreta oportunidade de ganhos enormes ou perdas irreparáveis. Claro que estou fazendo uma análise simplista mas, como sempre, me preocupo primariamente com as provocações aqui postas.
Quanto mais eu provo, mais eu me convenço que essas ditas “regras” são muitas vezes disseminadas por uma simples necessidade de impor “verdades.” A experiência me mostrou que as variáveis são tantas que, para trazer uma resposta objetiva, precisamos de algo como um ChatGPT – assunto para outro momento. Aliás, a título de curiosidade, perguntei ao robô que – surpresa, surpresa – ficou em cima do muro alegando que “a escolha entre um vinho bom em uma safra ruim ou um vinho pior em uma safra boa é uma questão de preferência pessoal e do que você valoriza em um vinho. Ambas as situações têm seus prós e contras.” Em suma, continuamos sem resposta.
No fim do dia, a escolha é a seguinte: buscar entender a habilidade do produtor em lidar com desafios, menores rendimentos e muitas vezes vinhos magros e pouco complexos, e mesmo assim criar um vinho de qualidade. Por outro lado, significa ver qual é o limite do produtor com todos os fatores climáticos conspirando a favor.
Como estudioso, tendo a preferir esta última opção, pois de certa maneira você aprende sobre os “limites” de um produtor. Certo? Vou explicar, se o produtor não consegue produzir um grande vinho em perfeitas condições, imagina em safras complicadas. Difícil. Como degustador, porém, a experiência me leva a concluir que os melhores produtores tendem a se consagrarem vitoriosos, independentemente das dificuldades, quando comparado com produtores com menos experiência.
Para ilustrar meu ponto, terminarei com um clichê que, como quase sempre ocorre, também é um jeito tosco de dizer a verdade. Farei o argumento de que a verdade está no vinho, pois ele te conta o que você precisa saber. Não obstante, visto que cada vinho é único, e isso não é debatido, logo, toda verdade também precisa ser única de cada garrafa, certo? Depois dessa resenha, acho que vocês, grupo minúsculo e igualmente fiel de leitores, merecem um vinho. Saúde, de safra boa!