Política

100 dias de Lula: mercado reage mal e varejo é o mais prejudicado

O presidente Lula chegou ao 100º dia de seu terceiro mandato na última segunda-feira

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou ao 100º dia de seu terceiro mandato na última segunda-feira (10). O período, que costuma ser conhecido como “lua de mel”, foi marcado por diversas polêmicas. Desde que assumiu, Lula critica veemente atuação do Banco Central brasileiro e já deu sinais de que seu governo irá gastar mais que os anteriores. Além disso, o presidente deu poucos detalhes sobre o novo marco fiscal até aqui, algo que tem incomodado o mercado financeiro.

No ano, o Ibovespa já acumula queda de 7,9%, considerando o fechamento até 5 de abril. É o pior desempenho do índice desde o primeiro mandato de FHC. De acordo com Leonardo Piovesan, CNPI e analista fundamentalista da Quantzed, o setor de consumo é um dos que mais está sendo prejudicado no início de governo do petista, por conta do aumento da inflação e do atual patamar da taxa básica de juros.

“Certamente o setor que mais está sofrendo neste início de mandato do Lula é o setor de consumo. Somado à taxa de juros, que já estava alta, o aumento da inflação neste início de 2023 tem impactado bastante o varejo, por conta da alta dos custos. Além disso, houve uma queda nas receitas, pois os consumidores estão deixando de consumir por causa do atual patamar da Selic”, explicou o analista da Quantzed ao BP Money. 

Assim como Piovesan, Cesar Beck, advogado constitucionalista e mestre em direitos humanos, afirma que o setor de varejo tem sido fortemente prejudicado neste começo de Lula 3. O especialista diz que empresas como Magalu (MGLU3) e Via Varejo (VIIA3) têm sofrido com falta de fluxo de caixa e tido dificuldades em conseguir empréstimos dos bancos, por conta do patamar da taxa Selic.

“O setor de varejo foi um dos que performaram pior nesses 100 dias de governo Lula. Com a atual crise de credibilidade de crédito e alta dos juros, os bancos não querem emprestar para grandes empresas, prejudicando varejistas como Magalu e Via, que têm apresentado números negativos consistentes. Elas precisam melhorar seu fluxo de caixa, mas está cada vez mais caro adquirir um empréstimo”, disse Beck.

100 dias de Lula: quais setores foram beneficiados?

Apesar de reconhecer o estresse do mercado com o início do terceiro mandato de Lula, Piovesan afirma que tanto o setor imobiliário quanto o de construção civil estão conseguindo se beneficiar nestes primeiros meses de governo Lula.

“Poucos setores estão indo bem neste ano até agora. Um dos poucos que eu destacaria seria o imobiliário, que compreende os construtores de shoppings. Com a retomada dos shoppings e do consumo das lojas físicas em 2023, as incorporadoras estão conseguindo cobrar os aluguéis e repassar os aumento do IPCA e do IGPM. É um setor que está indo bem em 2023”, destacou.

“O setor de construção civil também tem sido resiliente nesse ano. Apesar dos juros estarem em um patamar mais alto, a demanda está aquecida. O Governo Federal, com o programa ‘Minha Casa, Minha Vida’, tem ajudado as construtoras. Além disso, o governo Lula está facilitando o acesso ao crédito imobiliário. O setor não tem parado”, acrescentou o analista da Quantzed.

Quais setores irão se destacar no acumulado de 2023?

Neste primeiro ano de mandato do governo Lula, Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos, prevê que a taxa de juros – atualmente em 13,75% – continuará alta e não irá cair em 2023. Por conta disso, o analista acredita que as seguradoras serão as empresas brasileiras mais beneficiadas ao longo de 2023.

“Para o restante de 2023, acho que as seguradoras terão um grande destaque. Levando em conta que a atual taxa de juros não irá cair tão cedo e continuará alta, empresas como BB Seguridade (BBES3), Caixa Seguridade (CXSE3) e Sul América (SULA11) irão se beneficiar com o atual patamar da taxa Selic”, afirmou Brasil.

Na avaliação de Piovesan, empresas do setor do agronegócio terão um grande 2023, impulsionadas por um provável recorde de safra de soja e de milho. Além disso, o analista acredita que o setor petrolífero também terá um resto de ano positivo, beneficiado pela alta do barril de petróleo Brent, que se encontra em um patamar acima dos US$ 80,00.

“O setor do agronegócio deverá ter um resto de 2023 positivo, pois ele deve ter um recorde de safra de soja e milho neste ano. O PIB do agronegócio crescerá bem, logo as empresas do agro que estão na B3 podem apresentar um desempenho positivo neste ano, salvo algum risco de quebra de safra”, relatou.

“Outro setor que deverá se destacar no resto de 2023 é o petrolífero. O petróleo tem sido resiliente mesmo com o risco de recessão global. Além disso, por conta de um desequilíbrio global da oferta e demanda, o barril de petróleo Brent tem se mantido em um patamar relativamente alto, acima de US$ 80. A tendência é que empresas como 3R Petroleum (RRRP3) e PRIO (PRIO3) se beneficiem desse preço”, complementou o analista da Quantzed.

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