O presidente Lula está sem rumo, não tem um projeto para o país e insiste em ignorar que está acabando o tempo para desarmar a bomba fiscal.
As afirmações foram feitas pelo economista e ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, em entrevista para as páginas amarelas da revista Veja que chega às bancas nesta sexta-feira (30).
Fraga recentemente voltou ao noticiário, a propor que, por seis anos, o salário mínimo seja corrigido apenas pela inflação, sem ganhos reais, para reduzir a pressão fiscal.
O economista, que nas eleições de 2022 declarou voto no presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fez duras críticas ao governo por ignorar os alertas de que a situação fiscal brasileira é grave.
“A questão fiscal está pegando fogo. Se Lula se reeleger, terá de lidar com a sua própria herança. Será difícil botar a culpa nos outros. O fato é que a situação já está difícil, e o ano que vem será de muita pressão de gastos, porque isso é típico de anos eleitorais. Além disso, pelo que já conseguimos ver, 2027 não será nada bom”, afirma Armínio.
Questionado pela revista se o arcabouço fiscal fracassou, Armínio Fraga disse acreditar que sim, que ele foi um bom ponto de partida, mas insuficiente.
“Lá atrás, minha primeira reação foi de que o arcabouço era uma boa notícia, porque o governo estava encarando o problema. Eu entendo que a Fazenda tinha a intenção de entregar um bom resultado fiscal, mas não depende só dela”, disse.
O novo arcabouço fiscal brasileiro virou lei em 31 de agosto de 2023, após ter sido aprovado pelo Congresso Nacional para substituir o antigo teto de gastos como a âncora fiscal nas contas públicas da União.
Crítica ao contingenciamento proposto por Lula
O ex-presidente do BC também falou à Veja sobre o contingenciamento de R$ 31 bilhões de reais do Orçamento anunciado pelo governo há alguns dias.
Para ele, a medida é mais um sintoma do desequilíbrio fiscal que o governo Lula e o país enfrentam no momento.
“Essa história já é conhecida. Diante do tamanho do desafio fiscal, é impossível não pensar que o governo não aborda os grandes temas que dariam uma certa paz econômica ao Brasil. Isso tem a ver também com o próprio Orçamento, que permite contingenciamento. Espero que, algum dia, tenhamos um Orçamento que seja definitivo, porque, para quem é um gestor público, é importante ter certeza de quanto recurso terá à disposição”, colocou.
Outro ponto abordado pela revista Veja na entrevista foi a decisão da equipe econômica do governo Lula de elevar o imposto sobre operações financeiras (IOF).
Para o economista, a decisão do governo de mexer no IOF foi “desastrosa”, e mesmo com o recuo, ficará na memória da população.
“Mostra que o foco do ajuste segue no cansado aumento de receitas. Além disso, o IOF é um imposto meramente regulatório, de péssima qualidade. Pressiona os preços e os juros, com impacto social cruel. Sinalizou também controles de câmbio, algo que assusta”, explicou Fraga.
“Tudo isso pegou mal para o ministro Fernando Haddad. Sem encarar o lado do gasto, o Brasil desperdiçará uma enorme chance de crescer mais. Há muito espaço na Previdência e nos gastos tributários”, completou.
Avaliação do atual presidente do Banco Central
Questionado ainda pela revista sobre a atuação do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, o ex-presidente da instituição classificou como “muito boa”.
Apesar da boa avaliação, Armínio Fraga disse o cenário atual é difícil para o presidente do BC, porque a política monetária carrega muito mais peso do que deveria se o resultado fiscal ajudasse.
“Galípolo faz o possível e está correspondendo às expectativas de atuar com independência”, destacou.
Por fim, o economista volta a defender a revisão dos incentivos fiscais, segundo ele, por enxergar uma excelente oportunidade para o Brasil mudar o jogo atual.
“Sem isso, não adianta ficar esperando por um milagre. Não adianta dizer que os juros vão cair. Não vão. Hoje o governo paga mais do que 7% acima da inflação em uma dívida de trinta anos. Esse é um sintoma grave desse paciente chamado Brasil”, alerta Fraga.
“O país está na UTI. Não dá mais. Não acho, contudo, que seja um paciente terminal”, conclui Armínio Fraga.