Quatro anos após o lançamento do Open Finance no Brasil, pelo BC (Banco Central), a popularidade da ferramenta ainda não decolou como se esperava. Enquanto metade dos brasileiros desconhecem o sistema que permite compartilhar informações entre bancos, a adesão das instituições financeiras também permanece aquém do desejado.
A última pesquisa do Datafolha que realizou uma pesquisa em todas as regiões do país, 55% nunca ouviram falar do Open Finance e outros 19% dizem estar “mal informados” e “não saber quase nada”.
Ao BP Money, Wagner Martin, VP de Relações Institucionais da Veritran, observa que o desconhecimento sobre o Open Finance pode ser explicado pelo fato de que, para a maioria das pessoas, o conceito por trás da ferramenta não é relevante no dia a dia.
“As pessoas não precisam conhecer o Open Finance em si, como instrumento de compartilhamento de dados e acesso às informações entre instituições. O que o mercado precisa oferecer são soluções que gerem vantagens para as pessoas e as estimulem a compartilhar seus dados”, afirma Martin.
O especialista acredita que o progresso do Open Finance está atrelado à capacidade das instituições financeiras em oferecer produtos e soluções atraentes para os consumidores.
Henrique de Barros, planejador financeiro especialista no modelo fiduciário, complementa, destacando que o incentivo para a adesão ao Open Finance vem da percepção de benefícios claros.
“Hoje, ganhamos pouco ou quase nada ao permitir que outras instituições financeiras tenham acesso aos nossos dados. No entanto, se houver simplificações ou vantagens tangíveis, como melhores condições de financiamento ou planos de independência financeira, a adesão poderá aumentar”, afirma Barros.
Felipe Negri, CEO do Pinbank, por sua vez, ressalta que o sucesso do Open Finance em outros países não foi seguido no Brasil devido a uma série de desafios técnicos e regulatórios.
“O cronograma ambicioso e as complicações técnicas impactaram a qualidade do produto, reduzindo a credibilidade da solução. A falta de padronização e problemas com a arquitetura descentralizada foram fatores cruciais”, explica Negri.
O paradoxo da adesão
O curioso é que, embora a maioria dos brasileiros ainda desconheça o Open Finance, observa-se um aumento no interesse por parte daqueles que já estão familiarizados com a ferramenta. No entanto, por outro lado, a adesão das instituições financeiras ao Open Finance permanece baixa.
Até fevereiro deste ano, apenas 1,1% (ou 211 mil) das companhias com conta bancária no país aderiram ao instrumento, segundo reportagem da Folha de São Paulo.
A adesão baixa das instituições financeiras ao Open Finance é vista por Martin como uma fase de transição.
“As instituições financeiras passaram por um processo de adoção regulatória e estão agora em um processo de construção de soluções com o ecossistema aberto. Isso irá gerar um mercado mais centrado no cliente e preocupado em fortalecer o vínculo com seus usuários”, afirma Martin.
Felipe Negri observa que o setor bancário enfrenta desafios adicionais, como o cronograma apertado e a falta de soluções práticas.
“As grandes instituições já possuem muitas informações e, portanto, o objetivo de captura de dados não é tão relevante para elas. Além disso, as fintechs, que poderiam impulsionar a inovação, enfrentam problemas devido ao cronograma e às exigências regulatórias”, explica Negri.
O papel do Banco Central
Para impulsionar a popularização do Open Finance, Martin acredita que o Banco Central tem desempenhado um papel crucial na adoção pelas instituições.
“O Banco Central vem fazendo um papel muito importante na adoção das instituições ao sistema. O regulador tem fornecido diretrizes e tem se empenhado na divulgação das soluções oferecidas pelo Open Finance”, afirma Martin.
Barros sugere que o Banco Central pode melhorar a tração do Open Finance ao aprimorar as políticas públicas e exigir que as instituições entreguem as informações de forma padronizada e rápida.
“Ainda existe uma falta de compreensão sobre o que é o Open Finance e quais são suas vantagens. O Banco Central pode contribuir para melhorar a experiência de adesão e a educação sobre o tema”, sugere Barros.
Quem ganha e quem perde?
A questão sobre quem está perdendo mais com a lenta adoção do Open Finance é complexa. Martin destaca que tanto os usuários quanto as instituições financeiras estão em uma posição de perda.
“Os usuários ainda têm uma lacuna significativa a ser preenchida com soluções que o mercado pode desenvolver. As instituições financeiras também podem ganhar mais, pois o custo de aquisição de um cliente nunca foi tão baixo”, explica Martin.
Por outro lado, Barros acredita que os bancos incumbentes são os grandes perdedores. “Os grandes bancos evitam fornecer dados porque produtos negociados fora das condições de mercado ficarão mais suscetíveis de serem migrados para outras instituições que apresentem condições melhores”, afirma Barros.
Perspectivas futuras para o Open Finance
O futuro do Open Finance no Brasil parece estar em um ponto de inflexão. Enquanto a adesão por parte das instituições financeiras e a conscientização dos usuários ainda são desafios, há potencial para que o mercado evolua.
Martin acredita que, à medida que as soluções e produtos oferecidos se tornem mais atraentes, o Open Finance ganhará tração. “A evolução das soluções e a oferta de produtos com valor agregado são fundamentais para a popularização do Open Finance”, conclui Martin.
Negri, por sua vez, vê uma oportunidade para o Open Finance crescer na área de pagamentos, especialmente com a integração com o Pix.
“O mercado segue ansioso para o aumento da adoção do Open Finance. A população brasileira é uma das mais adeptas a novas tecnologias, e o potencial para inovações ainda é grande”, finaliza Negri.
Os especialistas completam afirmando que o sucesso da ferramenta dependerá da capacidade de instituições financeiras e reguladores em superar obstáculos e oferecer benefícios reais aos usuários.