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Pix: Brasil é referência em 'tecnologia de pagamento'; entenda

Autoridades da América latina, Europa e África tem tentado entender a popularidade do Pix; O diferencial não é só pagamento instantâneo.

Foto: Marcello Casal/Agência Brasil
Foto: Marcello Casal/Agência Brasil

O Pix, método de pagamentos instantâneo criado pelo BC (Banco Central) em 2020, tem se popularizado cada vez mais. No início de 2024, a autoridade monetária revelou que, de janeiro a novembro de 2023, a modalidade registrou 141 milhões de usuários.

Com isso, em todo o ano passado, o volume de capital transacionado aumentou 57%, frente a 2022, chegando a R$ 17,1  trilhões, que fez o pix superar cartões de crédito e débito, chamando à atenção de outros países. 

Autoridades da América latina, Europa e África tem tentado entender a popularidade do Pix. 

“Muitas jurisdições nos procuraram para explicar a infraestrutura, seu design e seu sucesso”, disse uma das analistas por trás do Pix, Mayara Yano, ao “Valor Econômico”.

Atualmente, aproximadamente 50 países possuem suas próprias modalidades de pagamento. No Reino Unido existe o FPS (Faster Payments Service), que tem alta adesão pela população, mas não detém a praticidade do Pix.

Nos EUA, por sua vez, foi lançado em 2023 o FedNow, que, assim como no Brasil, pode ser usado tanto por pessoa física quanto por empresas. 

Na Europa, especificamente, o “crossborder” — processamento de pagamento com multimoedas — tem muita força. 

“Está tendo um movimento grande a nível de tecnologia na Europa, de buscar uma alternativa mais barata, mais tecnológica e mais atualizada”, disse, em entrevista ao BPMoney, Ticiana Amorim, CEO da Aarin Tech-fin, a primeira Fintech especializada em Pix e Open baking no Brasil.

A CEO explica que a principal característica, que tem chamando a atenção sobre o Pix, é que ele pode ser utilizado para pagamento de e-commerce, diferente dos tipos de transferências da região, que geralmente são somente entre pessoas físicas.

“A principal diferença é que esse tipo de transferência [processamento ‘crossborder’] que a gente conhece de lá, é uma transferência entre pessoas. Isso não é utilizado para pagamento no e-comerce, não é utilizado para um pagamento de uma compra. E o Pix, ele tem essa característica”. Essa característica chama muito a atenção, porque tira a característica de transferência e entra a característica de pagamento”, explicou Amorim.

O diferencial do Pix não é só o pagamento instantâneo

O tema “pagamento instantâneo” não é uma novidade que o Brasil traz para o mundo, já que o tópico é estudado há anos por diversas autoridades monetárias. O diferencial do Pix é a forma como o BC criou o produto. 

“Na prática, é como se existisse um grande ‘chat’ em que as pessoas entram e trocam mensagem em um ambiente controlado e isso facilita bastante a replicação de um ambiente como esse em qualquer país”, explicou a CEO. 

Amorim acrescenta que o fato de não ter nenhuma característica preexistente para a construção da modalidade facilita que ouros países, independe do sistema legal, consigam adotá-la.

No Brasil, o sistema usado é o SPB (Sistema de Pagamentos Brasileiro), criado em 2002. Basicamente, ele é um conjunto de regras pelos quais são executadas transferências de recursos, liquidação de pagamento para pessoas físicas e jurídicas e afins.

“O Brasil é referência em sistema de pagamento desde 2002, quando o então presidente do BC (Banco Central), Armínio Fraga, lançou o SPB, fazendo uma integração de todos os bancos com o BC”, explicou, ao BPMoney, Reinaldo Boesso, especialista financeiro e CEO da TMB Educação.

Além disso, os chamados “bancos múltiplos” fazem toda a diferença. As instituições oferecem uma gama de serviços bancários, como cartão de crédito, empréstimos, consórcios etc.

No grau comprativo, no Reino Unido, eles possuem uma espécie de “descentralização de serviços”. Ou seja, existe um banco de varejo, um banco de empréstimo e assim suscetivamente, diferentemente do Brasil.

Sendo assim, é comum que grande parte das transferências sejam realizadas entre pares (pessoa física com pessoa física, pessoa jurídica com pessoa jurídica). 

Nessa perspectiva, o Pix pode “habilitar” os empreendimentos a receberem as transações como forma de pagamento, o que já é comum no Brasil.

“O Pix é mais um gol de placa do sistema de pagamento brasileiro, ou seja, eles criaram um modelo que ‘caiu muito rápido nas graças do brasileiro’, que tem uma facilidade enorme por ser instantâneo e prático”, exaltou Boesso.

“Atualmente já existem transações de mais de R$ 1 bilhão ‘em cima’ de Pix, fazendo com que seja a transação mais utilizada hoje no Brasil”, acrescentou o especialista.