Política

Congresso não deve ser “pedra no sapato” de Lula, dizem analistas

Bancada de partidos considerados mais conservadores, como PL, é maioria no Congresso Nacional

Os resultados das urnas para o Congresso Nacional e para o Palácio da Alvorada foram, para muitos, considerados opostos. A Bolsa, inclusive, no primeiro pregão pós-primeiro turno reagiu positivamente às eleições que colocaram parlamentares “mais à direita” na Câmara e no Senado. Na contramão, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), “à esquerda”, foi eleito, no último dia 30, Presidente da República. Por mais que o Congresso tem sido considerado um desafio para o governo petista, especialistas entrevistados pelo BP Money apontam que parlamentares não devem ser “pedra no sapato” de Lula. 

Para José Trigo, cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Lula é um grande articulador político. “É provável que ele consiga trazer o centro para ele com muita facilidade”, explicou o professor. “Quando dizem que elegemos um Congresso mais à direita, pode até ser verdade. Mas na prática, não funciona assim”.

Segundo Trigo, governos completamente de esquerda e de direita no Brasil o parecem fictícios. Isso porque os políticos no País transitam muito entre partidos. “Não temos esquerdistas e direitistas radicais no Congresso. Por isso, vejo a Câmara e o Senado como negociáveis hoje”, apontou. 

Mariah Sampaio, professora de ciências políticas da Universidade do Distrito Federal, vai na mesma linha, mas aponta que, por conta da composição do Congresso, as negociações não serão mansas. “Mesmo assim, sabemos que as negociações não são ideológicas, elas acontecem em cima de interesses”, completou a analista. 

Congresso será a maior dificuldade do governo Lula?

Para Trigo, a maior dificuldade para o governo Lula não está no Congresso e sim na população, já que a diferença entre o petista e Jair Bolsonaro (PL) foi apertada. A realidade que o futuro presidente enfrentará, portanto, é bem diferente do cenário de seus outros dois mandatos (2002-2006 e 2006-2010), quando tinha uma grande simpatia, segundo o analista. “Maior problema na população do que na classe política, que se molda”, disse.

Sampaio concorda. “Todo o campo político aguarda a posição do atual mandatário, pois ele teve quase 50% de votos, ou seja, metade da população não queria o governo de Lula. Por ser um começo de governo provavelmente difícil, não é muito provável que o petista implante todas as suas propostas”, disse. 

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Ela ainda mencionou que um ponto a se observar é a relação com governadores eleitos contrários a Lula. Trigo observou o mesmo ponto. Para ele, Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, deve protagonizar uma oposição ao governo petista. 

PL, de Bolsonaro, tem maior bancada no Congresso

Mesmo com uma aproximação de Bolsonaro, analistas apontam que, historicamente, o PL é um partido que compõe o chamado “centrão”. O Partido Liberal, de Jair Bolsonaro, teve grande expressão nas eleições para o Congresso. Para o mandato que se inicia em 2023, a Câmara será composta por 99 parlamentares do partido. No Senado, 14 assentos serão ocupados pelo PL. Em ambos os casos, são as maiores bancadas. 

“Nos últimos anos, o PL, de fato, por causa da movimentação do Valdemar Costa Neto – líder do partido – junto com Bolsonaro, deu uma guinada ideológica, mas historicamente sempre foi um partido que compunha o centrão”, explicou Sampaio. “Não será incomum se virmos um distanciamento do partido com Bolsonaro e um retorno ao centro, podendo negociar com o governo Lula”.

Ainda assim, Costa Neto disse na terça-feira (8), em entrevista coletiva em Brasília, que o partido fará oposição a Lula no Congresso Nacional e que convidou o atual presidente para ser presidente de honra da sigla.

Nesse sentido, Mariah relembra que o PL não é um partido uniforme no Congresso. “Nós temos diferentes perfis nessa bancada e acompanharemos alguns embates dentro do partido”, apontou a professora.

Para Trigo, a lógica é a mesma. O cenário do Congresso negociável ainda é realista mesmo com nomes mais ideológicos eleitos, como o de Carla Zambelli, deputada federal pelo PL. Ainda assim, a ala “ideológica” é mais exceção do que regra. “Não tenho muitas dúvidas de que a grande maioria pode ser, sim, negociável no PL”, apontou.