Política

Conheça grandes mitos sobre Lula que você já acreditou

Brasil fora do mapa da fome? Autossuficiente em petróleo? Entenda as verdades sobre o mandato do ex-presidente

Conhecido por um discurso forte e persuasivo, nem sempre as falas do ex-presidente Lula são totalmente verdadeiras, como, por exemplo, seu famoso “bordão” sobre o Brasil fora do mapa da fome durante o seu governo. Além disso, antes mesmo dos grampos da Operação Lava Jato exporem parte daquilo que ele realmente diz em privado sobre outros políticos e instituições, outros surtos de sinceridade já ajudaram a compreender o ex-presidente muito além dos discursos e palanques.

Em 2014, a FAO, organização da ONU para a agricultura, mudou sua metodologia para medir a fome e a quantidade de pessoas que passavam fome no Brasil despencou de 7% para 1,4%, tirando o país do mapa da fome pela primeira vez na história. Vale ressaltar que, atualmente, a FAO é comandada por José Graziano, ex-ministro de Lula e responsável por criar um dos programas mais conhecidos do governo, o “Fome Zero”.

Outro caso parecido aconteceu com os dados da recessão econômica de 2014. No ano eleitoral, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) alterou a metodologia de cálculo do Produto Interno Bruto (PIB), tornando o recuo econômico de 2014 em um “crescimento zero”, evitando que o Brasil registrasse pela primeira vez na história, 3 anos consecutivos de queda no PIB.
 
Confira agora grandes falácias de Lula sobre o seu mandato (2002-2010):

1: O Brasil autossuficiente em petróleo

O boom do petróleo, cujo preço do barril saltou incríveis 1.200% ao longo da década de 2000, fez explodir ao redor do mundo regimes financiados pelos ‘petrodólares’. Do Oriente Médio à América Latina, governos enriquecidos com o dinheiro do petróleo fizeram as mais absurdas aquisições, como uma Copa do Mundo no Qatar ou a força aérea mais moderna do continente, detida pela Venezuela.

Para o Brasil, que chegou a ter uma das 10 maiores empresas do mundo, o efeito foi também expressivo, apesar de a Petrobras não representar na economia brasileira o que representa o petróleo nestes outros países.

A consequência do aumento do preço do barril e da permissão para investimento privado não poderia ter consequências diferentes. Entre 1997 e 2010, a produção de petróleo no Brasil saltou de 741 mil para 2,271 milhões. Por volta de 2005, em termos numéricos, a produção e o consumo se igualaram, motivo que levou o governo a anunciar a ‘autossuficiência’.

Do ponto de vista técnico ou econômico, consumo e produção de Petróleo nunca se encontraram no Brasil.

2: A queda na desigualdade

Segundo um estudo do  Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a queda na desigualdade brasileira, iniciada em 2001, possui como principal causa, não a ação direta de programas sociais, mas o acesso ao mercado de trabalho. Para pesquisadores como Ricardo Paes de Barros, o acesso ao emprego explica mais da metade da queda no índice de Gini, que atesta a desigualdade de um país. Programas sociais foram responsáveis por menos de 1/5 na queda. 

Para outro estudo do Ipea, a ação do governo é diretamente responsável por 1/3 da desigualdade de renda no país. Apenas dois indicadores, a aposentadoria e os salários dos funcionários públicos, são responsáveis por todo este peso (ainda seria possível incluir o acesso desigual às universidades públicas, onde 59% dos alunos estão entre os 20% mais ricos da população, ou os subsídios estatais via BNDES).

Não há dúvida de que a década de 2000 tenha representado um período positivo para a economia brasileira. Porém, a economia brasileira cresceu menos que as demais no continente (confira a parte 3), mas se desenvolveu, mostrando como que um pequeno choque externo é capaz de animar a economia e dar novos ares a milhões de brasileiros.

3: O “crescimento” econômico

Entre 2002 e 2010, cerca de US$ 252 bilhões em superávits comerciais entraram na economia brasileira, inundando o país de riqueza.

A conjuntura onde este crescimento se deu, porém, foi daqueles fatos raros, poucas vezes presenciados na história brasileira. Para ser mais exato, apenas em 1902, no grande ciclo internacional da borracha, tivemos o Brasil saindo de ajustes internos no exato momento em que a principal especialidade brasileira começou a subir de preço. Para o Goldman Sachs, o aumento médio das commodities durante o período foi de 723%.

Vender o mesmo produto por quase 7 vezes mais foi uma das causas desta riqueza excessiva.

Fatores externos como o aumento médio de 723% nos preços de commodities, colaboraram também para irrigar o país com recursos externos. Somados ao investimento estrangeiro no país, a década de 2000 significou a entrada de US$ 183 bilhões no país, recursos com os quais o governo bancou inúmeros bens e serviços.  

O crescimento do crédito também é responsável pela sensação de riqueza que tomou conta do país. Poder financiar bens de consumo em 12 ou 24 vezes, algo que era inimaginável nos anos 80 ou 90, tornou-se comum, fazendo com que, apesar do pouco aumento na renda, cerca de 48% na média em 8 anos, a população estivesse consumindo muito mais do que antes.

O natural esgotamento da capacidade das famílias brasileiras de se endividar foi um dos principais responsáveis para que o governo levasse os bancos públicos a ampliar a oferta de crédito. Receosos de que as famílias não iriam mais ter condições ou interesse em ampliar seu endividamento, os bancos privados pisaram no freio, mas o governo insistiu na fórmula.

Em 2013, cerca de 51% do crédito no país teve a mesma origem: os bancos públicos. Como resultado, famílias, governo e empresas encontram-se hoje endividados e sem condições de consumir ou produzir, diante da incerteza do governo.

Em suma, o crescimento do Brasil sob o governo Lula em momento algum pode ser considerado um milagre. Como em outros períodos da história brasileira, o país cresceu exatamente o mesmo que a economia mundial, e foi o segundo país que menos cresceu no continente, à frente apenas do México.

4. O Brasil pagou a dívida externa.

Ao realizar a aquisição da cervejaria SAB Miller, os brasileiros donos da AMBEV, liderados por Jorge Paulo Lemann, recorreram a um empréstimo de US$ 47 bilhões, pagando juros de 4,25%. O número é expressivo, a segunda maior captação de dívida já realizada por uma empresa no mundo, significando um valor maior do que a atual dívida externa brasileira a um custo mais baixo.

Para Lula, porém, aumentar o endividamento não pareceu uma boa ideia. Entre 2002 e 2010 o governo brasileiro procedeu no sentido contrário, vendendo títulos da dívida interna, com juros que hoje giram em torno de 14,25%, para pagar a dívida externa, cujos juros ficam em torno de 4%. Para o governo, realizar esta operação significou “menos turbulências”, uma vez que a dívida externa não está sujeita à variação do dólar.

Composta por inúmeros credores, a dívida externa brasileira foi por muito tempo associada a um único deles: o FMI. Como não possui bom histórico de crédito, apenas uma entidade se dispôs por um bom tempo a emprestar quantias consideráveis ao Brasil, o próprio FMI. Isso ocorre porque a entidade é financiada por outros governos, e empresta com o intuito de influenciar a adoção de políticas comuns aos países como exigência aos empréstimos.
 
O ato político de Palocci, Ministro da Fazenda na época, representou o pagamento da dívida relativa apenas ao FMI, de US$ 15 bilhões, com recursos oriundos da criação de uma dívida ainda mais cara, a interna. Para a população em geral, o que contou foi livrar-se do “grande credor”. 
 
5. O Brasil foi o último a entrar e o primeiro a sair da crise

Uma análise da crise de 2008, a crise do mercado imobiliário norte-americano que se alastrou pelo mundo, mostra que há pouco ou nenhum paralelo com a maior parte das crises já enfrentadas pelo Brasil. Trata-se da maior crise do capitalismo desde 1929, e desta vez, nossa economia não sofreu um abalo tão grande. Em 1930 e 1931, o Brasil registrou pela primeira vez uma queda de 2 anos seguidos no seu PIB, e isoo porque a crise de 1929 fez desabar os preços do café, nossa commodity na época. Desta vez, porém, a crise não impactou nos preços de mercadorias comumente vendidas pelo Brasil.

A crise de 2008 foi especificamente uma crise originada pelo sofisticado sistema financeiro internacional, um clube no qual o Brasil, até o mesmo ano de 2008, não estava autorizado a participar. Sem o grau de investimento, nossa participação junto ao sistema financeiro internacional era pouca ou quase nula. Nossa pouca participação no epicentro da crise, de fato nos garantiu ser um dos últimos a entrar. 
 
O motivo de termos “saído” em 2010 é a causa mal explicada na história.

Em 2008, demos início à chamada “política dos campeões nacionais”. Cerca de R$ 450 bilhões foram injetados no BNDES para financiar grandes obras, e o governo se tornou um personagem mais presente na economia. O crédito por parte de bancos públicos chegou a 52% do total. 

Você já deve ter visto estas medidas em uma análise do que é a “Nova Matriz Econômica”. A aposta no crédito para induzir o crescimento na economia nasceu justamente como resposta “anticíclica” à crise. O Brasil saiu de uma crise utilizando capacidade ociosa para gerar consumo e um aparente clima de crescimento.

O PIB de 2010, porém, que chegou a 7,2% de crescimento, não tardou a diminuir. Entre 2011 e 2014, registramos dia após dia uma queda no nível de crescimento, até chegar a zero em 2014, e então os -3,8% de 2015. Em suma, nós saímos da crise americana criando a nossa própria crise.

6. Os programas sociais e o mito da criação de universidades

Para Lula, sua gestão criou 16 universidades. Uma breve pesquisa revela que se trata na realidade de seis, ou quatro se você não considerar que alterar o nome de “Escola de Farmácia e Odontologia de Alfenas” para “Universidade Federal de Alfenas” não é de fato criar uma universidade (sim, Lula alega ter criado uma universidade aí, onde desde 1914 existia uma outra instituição já estabelecida).
 
Prática comum de políticos brasileiros, alterar o nome de programas para tratá-los como novos ou seus, tornou-se regra durante sua gestão. Atribuir para si programas de décadas de existência, como, por exemplo, o FIES. Substituir nomes como o ‘Luz no campo’ para “Luz para todos”, virou praxe. Alterar ou reagrupar programas sociais como o Bolsa Família, que substitui inúmeros outros programas anteriores, foi a sacada da reengenharia criada pelo mito Lula.

Uma breve análise dos programas sociais de Lula, mostra que os maiores sucessos encontram-se exatamente onde o governo não é responsável por nada além de repassar a verba. Enquanto as universidades federais tiveram queda no número de formandos, entre 2008 e 2013, nas universidades privadas o número explodiu. Enquanto o Bolsa Família foi um sucesso, o Fome Zero foi um fracasso retumbante.

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