A última semana foi marcada pelo quadro político dos EUA, repercutindo o atentado sofrido pelo candidato republicado, Donald Trump. Economistas consultados pelo BP Money analisaram como fica o cenário das eleições, com impactos também no mercado de capitais e câmbio brasileiro, que podem operar mais instáveis.
As apostas em uma possível vitória de Trump se fortaleceram após o ocorrido, quando um homem atirou no político durante um comício e acertou sua orelha de raspão. Antes disso, especialistas já indicavam que Joe Biden, presidente dos EUA, está mais fraco que o republicano, sobretudo por sua desenvoltura considerada ruim no primeiro debate entre os dois.
Em um possível retorno de Trump à Casa Branca, o mercado brasileiro pode ser afetado de forma “radical”, com dólar mais valorizado sobre as moedas emergentes, pela tendência do governo trumpista a promover o desenvolvimento da economia norte-americana, afirmou Alex Andrade, CEO da Swiss Capital.
“De todas as políticas que o Trump indicou que vai implementar, a que deve ser sentida de forma mais ampla globalmente num primeiro momento diz respeito às tarifas protecionistas”, indicou Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital.
O candidato à presidência pretende implementar tarifas de 10% para importações de todos os países, a exceção da China para a qual essas tarifas seriam de 60%.
“Isso levará a um rearranjo global no comércio exterior com impactos positivos e negativos, dependendo do setor”, disse Vasconcellos.
Além disso, as divergências políticas e ideológicas entre o governo de Trump e o governo brasileiro atual, podem gerar incertezas adicionais.
Sidney Lima, analistas CNPI da Ouro Preto Investimentos, explicou que o “efeito Trump” pode, sim, aumentar o apetite global por risco, pelas expectativas de crescimento dos EUA, que ainda é a maior economia do mundo. Mas não traria apenas resultados negativos.
“As políticas pró-negócios poderiam desencadear um efeito cascata de lucratividade, ou, ao menos, uma melhor percepção dela sobre boa parte das empresas listadas, beneficiando as bolsas mundiais, incluindo a brasileira”, apontou.
Porém, apesar da relevância mundial que exerce a escolha do próximo presidente dos EUA, os residentes do país norte-americano, na verdade, não se importam tanto como o nome que ocupará essa frente, pois a economia e o mercado seguem trabalhando como sempre, ponderou Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos.
“Sendo o Trump ou sendo o Biden, a Bolsa faz máximas, a Bolsa cai e assim por diante. Então a opinião dele [Trump] não muda nada para os EUA, em termos de política, de economia e em relação ao mercado”, disse ele.
“Efeito Trump” pode prejudicar custos de financiamentos dos países emergentes
Uma vitória republicana, segundo Cohen, traz maior contenção de gastos aos EUA. Consequentemente a confiança na economia aumenta e o investidor sai da renda fixa.
“Os juros caem, com uma inflação menor, e as pessoas saem da renda fixa e vão para tipos [de investimentos] de riscos, como as commodities, as Bolsas e as criptomoedas”, comentou.
Para Cohen, a eleição de governos de direita costumam ser mais voltados para o mercado e animam as Bolsas, fazendo-as subir, enquanto o movimento do dólar deve seguir a tendência de valorização.
Sidney Lima reiterou ainda que isso pode ocorrer em um cenário de aumento nas taxas de juros dos EUA, como consequência das expectativas com políticas fiscais expansionistas.
O que significa, para os emergentes, maiores custos de financiamento. “Para se protegerem, os países emergentes devem focar em políticas econômicas mais robustas, diversificação de mercados e redução da dependência de capitais voláteis”, afirmou.
Construir políticas fiscais que gerem extrema credibilidade e uma política monetária que proteja a estabilidade econômica interna seriam outros pontos para explorar como medidas de proteção.
“Contudo, na prática essa é uma missão bem complexa de se alcançar com maestria, finalizou Lima.
Em caso da confirmação da vitória de Trump em novembro, Cohen indicou que, mesmo sendo difícil prever, os setores mais atrativos aos investidores serão o financeiro “com certeza”, que se beneficia na alta ou corte de juros, bem como as empresas de tecnologia e, possivelmente, o setor de construção dos EUA.