Política

Eleições 2022: por que Bolsonaro venceu no Japão no 1º turno?

Segundo José Niemeyer, essa vitória pode ser explicada por Bolsonaro representar o lado mais conservador nestas eleições

O segundo turno das Eleições 2022 se aproxima e a disputa parece muito indefinida entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Como cada voto é importante, o atual presidente sabe que deve contar com uma maioria significativa no Japão, onde ele alcançou mais de 65% dos votos. Mas por que o chefe de Estado venceu em território japonês?

De acordo com o Coordenador da graduação de Relações Internacionais do Ibmec-RJ e cientista político, José Niemeyer, essa vitória pode ser explicada por Bolsonaro representar o lado mais conservador nestas eleições, ganhando a preferência dos nipo-brasileiros. 

“No Japão, podemos perceber uma corelação entre uma sociedade que tem grupos muitos conservadores e, talvez, o brasileiro, que para lá emigra, meio que segue esse padrão de um voto conservador. A maior parte dos nipo-brasileiros [brasileiros com descendência japonesa] são grupos mais conservadores, e eles têm uma predileção em votar no presidente Jair Bolsonaro”, explicou Niemeyer em entrevista ao BP Money.

A preferência do eleitorado brasileiro, que reside no Japão, por candidatos da direita e/ou centro-direita ocorre desde o pleito de 1989, quando foi realizada a primeira eleição presidencial brasileira no exterior.

Em 2018, inclusive, Bolsonaro alcançou incríveis 90% dos votos válidos no Japão, com Haddad (PT), ficando atrás dos demais concorrentes, como Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), entre outros. 

O número de eleitores no Japão aumentou cerca de 25% em comparação a 2018, passando de 60 mil para mais de 76 mil. 

Eleições 2022: Lula leva a melhor em mais países

Apesar da ampla vantagem conquistada no Japão, Bolsonaro não conseguiu o mesmo êxito na maioria dos outros países. No Reino Unido e na maioria dos países da Europa – como França, Alemanha, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Suécia e Noruega –, o ex-presidente terminou em vantagem sobre o candidato à reeleição. 

Apesar de ter perdido no Japão, Lula obteve vantagem na China, principalmente pela vitória em Pequim e Xangai – enquanto Bolsonaro levou a melhor em Guangzhou e Hong Kong. O petista também venceu na Coreia do Sul, Malásia, Austrália, Nova Zelândia, Tailândia e Líbano.

“Europa, Oceania e América Latina são lugares que se têm uma emigração muito grande de jovens universitários. Geralmente esse perfil é crítico ao Governo Bolsonaro, e geralmente votam em partidos mais de centro-esquerda e esquerda. Por isso, analisando esse perfil, os votos no presidente Lula nesses lugares faz sentido”, afirmou o professor Niemeyer. 

A política internacional realizada pelo Governo Bolsonaro também explica ele ter vencido em países específicos, como Israel. Ele também terminou à frente nos Emirados Árabes, Grécia, Indonésia, Moçambique e República Dominicana.

“Uma política externa mais contraída, onde privilegiou alguns parceiros em específico, como Israel, Hungria e o Governo Trump, e que não manteve uma tradição do Itamaraty de uma política externa aberta, multilateral, que conversa com todos os países e organizações internacionais, esses fatores fazem com que o voto em Bolsonaro, na maioria desses países, tenha sido menos frequente”, destacou o cientista política.

Na contramão do que fez Bolsonaro, Niemeyer lembrou que Lula, em seus dois mandatos, sempre privilegiou essa boa relação diplomática com muitos países, e esse fator acabou influenciando na vitória petista. 

“O presidente Lula sempre fez algo que o presidente Bolsonaro não conseguiu fazer, que chamamos de ‘diplomacia presidencial’. Ele tinha até interesses particulares, e alguns muito justos, como o de que ele queria certificado para ser secretário-geral da ONU, então ele fez uma política diplomática muito forte. Esse passado de Lula ajudou muito na votação deste ano, enquanto que Bolsonaro fez totalmente o inverso disso”, analisou. 

Perfil de eleitores brasileiros que moram fora do País

Segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), mais de 697 mil brasileiros que vivem no exterior estavam em condições de votar nas eleições presidenciais do país – quem mora fora do Brasil só pode votar para presidente, e não para os demais cargos.

O número de eleitores registrados teve uma alta de 39% em relação a 2018. O contingente de eleitores no exterior corresponde a 0,45% dos 156,4 milhões de cidadãos que votam no Brasil. 

“Aumentou o número de emigrantes brasileiros e isso acabou impactando no aumento da base de eleitores aptos a votar no primeiro turno das eleições. Além disso, também tivemos uma eleição muito polarizada, engajada dos dois lados, o que fez, com certeza, que os brasileiros, mesmo fora do país, se dispusessem a ir votar e escolher o próximo presidente da República”, apontou Niemeyer.

Para ele, existem alguns perfis no eleitorado brasileiro que reside fora do País. “Quem geralmente vai morar em outro país é um brasileiro originário, na maior parte das vezes, de uma classe média, média alta. Uma pessoa de origem muito humilde não é o perfil daquele que vai morar em outros países”, destacou. 

“Geralmente esse brasileiro vai morar fora por buscar um novo trabalho, uma oportunidade, ou então por uma agenda educacional, alguém que vai fazer algum curso. Dentro desses que vão emigrar por conta da perspectiva profissional. E tem aquele outro que vai trabalhar pelo executivo, que já está em uma boa posição no Brasil, mas emigra no sentido de buscar, dentro da organização que já trabalha, uma nova oportunidade”, completou o coordenador do Ibmec-RJ. 

Assim como no Brasil, é possível perceber a diferença no eleitorado que prefere Lula aos que preferem Bolsonaro. 

“A tendência é de o eleitorado mais jovem, branco, de classe média e média alta, formado por estudantes, em sua grande maioria, irá votar em Lula. Já o perfil de eleitorado branco, de uma classe média alta, de executivos, ou mesmo de uma classe média baixa, daqueles que foram trabalhar fora do País, mas que já são ligados a grupos mais conservadores, até aqui no Brasil mesmo, deve votar no presidente Bolsonaro”, concluiu. 

Os brasileiros voltam às urnas no próximo dia 30 de outubro para definir o novo presidente do País, no segundo turno das Eleições 2022. Para Niemeyer, a tendência é que o petista vença novamente na maioria dos países. 

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