Na análise do cenário econômico atual, Gustavo Franco, ex-presidente do BC (Banco Central), destacou durante painel da Expert XP 2024, preocupações em torno da comunicação da autarquia monetária e a relação entre as políticas fiscal e monetária do país.
“Eu fico preocupado quando o BC tem um problema de comunicação, minha experiência em Brasília me ensinou que quando várias pessoas dizem para você que você tem um problema de comunicação, na verdade você não tem um problema de comunicação, você tem um problema”, disse.
O economista que também é um dos criadores do Plano Real e sócio da Rio Bravo Investimentos, enfatizou que o sistema de metas de inflação, crucial para a coordenação de expectativas, está sob pressão devido a inconsistências nas políticas econômicas.
Franco iniciou sua análise ressaltando a importância do sistema de metas de inflação como um mecanismo para alinhar as expectativas do mercado.
Segundo ele, o principal objetivo desse sistema é a formação de consenso entre os agentes econômicos, algo que pode ser comprometido quando há falhas na comunicação por parte do Banco Central.
“O sistema de metas é um sistema de coordenação de expectativas, isso não pode ser perdido de vista”, afirmou.
Inconsistência entre políticas fiscal e monetária
O ex-presidente do BC não poupou críticas à falta de harmonia entre as políticas fiscal e monetária. Ele apontou que a atual situação, em que a política fiscal parece ter mais força, pode levar a uma pressão excessiva sobre a taxa de juros. “Temos um problema, sim, que é de inconsistência entre a política fiscal e a monetária. Vamos falar a coisa pelo nome”, disse Franco. Ele alertou que, se essa discrepância não for corrigida, o resultado inevitável será um aumento das taxas de juros, intensificando os desafios econômicos do país.
Essa situação, conhecida como crowding out, ocorre quando a expansão fiscal empurra os juros para cima, reduzindo o espaço para investimentos privados. Franco explicou que a solução para esse desequilíbrio deve vir do lado fiscal: “Alguma coisa pelo lado do fiscal precisa vir para alterar esse balanço. Do contrário, a posição de que precisa subir o juros vai ganhar força e vai acentuar o problema.”
Desafios na comunicação do BC
Franco também comentou sobre a recente mudança no ambiente institucional do Banco Central, agora independente, mas ainda sujeito às pressões políticas. Ele lembrou que, antes, o presidente da República não podia demitir o presidente do Banco Central, o que impedia críticas públicas à taxa de juros.
Com a nova configuração, essas críticas se tornaram frequentes, criando um ambiente desafiador para a comunicação da autoridade monetária.
“Agora pode falar em público. Então fica horrível, porque o presidente da República fala que o juro está muito alto e reclama abertamente do Banco Central”, disse Franco, destacando o quanto essa mudança é delicada.