Política monetária

Galípolo afirma que decisões institucionais são independentes

Presidente do BC destacou ser legítimo Haddad discordar da aumento da taxa Selic

Gabriel Galípolo
Gabriel Galípolo / (Reprodução: Jose Cruz/Agência Brasil)

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou em entrevista ao jornal O Globo que é legítimo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, manifestar discordância em relação aos recentes aumentos da taxa Selic. No entanto, ressaltou que a relação pessoal entre ambos não influencia suas decisões institucionais.

“É muito mais sexy explorar que existe uma divisão entre dois caras, que eram amigos, trabalharam juntos. O Fernando (Haddad) pode falar assim: eu não concordo com a decisão na taxa de juros. É totalmente legítimo, normal. Ele, o Rui (Costa, ministro da Casa Civil), qualquer pessoa”, afirmou Galípolo.

“Dizer isso de maneira nenhuma confunde as relações pessoais, assim como as relações pessoais de maneira nenhuma permeiam as decisões institucionais que cada um de nós tem de tomar. A partir do momento que eu vim para o Banco Central, tenho um outro mandato, uma outra obrigação”, completou o presidente do BC.

Em um extenso perfil dedicado ao presidente do Banco Central, o texto relembra a polêmica envolvendo o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Na ocasião, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, afirmou que a medida contava com o aval de Gabriel Galípolo — uma declaração que foi prontamente negada de forma categórica pelo chefe da autarquia.

O texto também recorda que, durante a crise envolvendo o aumento do IOF, Galípolo levou a questão diretamente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tratando do assunto de forma pessoal com o chefe do Executivo.

Galípolo revelou ao jornal que sua principal referência intelectual é o economista John Maynard Keynes. No entanto, ao assumir a presidência do Banco Central, passou a adotar como lema uma frase do ex-presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke.

“Não existem ateus em trincheiras de guerra, nem ideólogos à frente de bancos centrais em momentos de crise. Lá, você faz o que tem de fazer”, disse.

Galípolo prevê atingir meta da inflação só em 2026

Em carta enviada nesta quinta-feira (10) ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o presidente do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, admitiu o descumprimento da meta de inflação por seis meses consecutivos e projetou que o alvo só deve voltar ao intervalo de tolerância no fim do primeiro trimestre de 2026.

“O Banco Central espera que a taxa de inflação acumulada em doze meses […] retorne aos limites estabelecidos no intervalo de tolerância a partir do final do primeiro trimestre de 2026”, diz a carta.

A meta de inflação fixada pelo CMN (Comitê Monetário Nacional) é de 3% com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Ou seja, para considerar que o BC alcançou o alvo, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) não pode ser menor de 2,5% ou maior de 4,5% num intervalo de seis meses.