Em meio à volatilidade dos mercados financeiros, a relação entre o presidente Lula e investidores é cercada de rusgas. Essa relação tem sido marcada por reações intensas, especialmente quando o discurso sugere um aumento nos gastos públicos sem uma clara estratégia de controle fiscal.
É comum que as declarações de líderes políticos sejam frequentemente vistas como termômetros para medir a confiança dos investidores.
No caso do atual governo, o especialista em finanças e investimentos, Hulisses Dias, abordou que quando Lula adota um tom populista, que sugere maiores gastos públicos sem demonstrar um compromisso com o equilíbrio das contas, o mercado reage aumentando a percepção de risco. Isso leva os investidores a exigir juros mais altos como compensação.
“O governo Lula, ao adotar uma retórica que diminui a confiança na sua capacidade de controlar as contas públicas, acaba elevando a percepção de risco dos investidores”, explicou o especialista sobre o movimento que afeta diretamente o custo de crédito e os investimentos no país.
O relatório do Itaú BBA, assinado pelo especialista Victor Natal, reforça que nas receitas, o governo aumentou as projeções baseado no aumento de receitas extraordinárias. Nas despesas, além da diminuição da contenção total, houve aumento das despesas excluídas do arcabouço fiscal. Somados, subida de juros e fiscal menos restritivo, tiveram resultados líquidos negativos.
A relação entre o discurso e o comportamento do mercado é ainda mais evidente em momentos de volatilidade, como o registrado na última sexta-feira (11). Quando há incertezas sobre o compromisso do governo com a disciplina fiscal, a reação dos investidores é imediata.
Segundo Dias, seria mais prudente que, em momentos de alta arrecadação, o governo se concentrasse em “arrumar a casa”, controlando os gastos e criando uma margem de segurança para períodos de desaceleração econômica. Com isso, o governo poderia evitar ajustes fiscais bruscos no futuro.
Descompasso entre governo e mercado
Outro ponto destacado por Dias é a desconexão entre as expectativas do governo e as necessidades do mercado financeiro.
Enquanto o governo Lula coloca ênfase no papel do Estado como indutor do crescimento, o mercado busca um Estado eficiente, que mantenha um equilíbrio fiscal e uma dívida pública sustentável.
“O mercado tem lembranças claras do que ocorreu no segundo governo Dilma, quando essa visão estatal exacerbada levou ao descontrole fiscal”, explicou o especialista.
Essa divergência gera um padrão previsível nas reações dos investidores às falas do presidente.
Dias observou que, no início do mandato, o governo recebeu um voto de confiança. No entanto, a confiança foi se deteriorando à medida que a arrecadação bate recordes, mas os gastos públicos continuam crescendo em ritmo acelerado.
Questão estrutural do controle fiscal
Apesar da relação tensa, Dias acredita que ainda há tempo para o governo Lula recuperar a confiança do mercado. No entanto, para que isso aconteça, é necessário mais do que ajustes pontuais no discurso.
“Seria necessário um alinhamento entre discurso e prática, com ações concretas que garantam a sustentabilidade das contas públicas”, afirmou.
Entre as medidas que o especialista sugere estão reformas estruturais, como a reforma administrativa e a reforma da previdência, que englobaria servidores públicos e o Judiciário.
Embora sejam pontos politicamente sensíveis, ele enfatiza que essas ações são essenciais para garantir o equilíbrio fiscal a longo prazo.
Preocupações com o cenário fiscal e as reações do mercado
As principais preocupações dos investidores em relação ao cenário fiscal atual giram em torno do aumento dos gastos públicos, da sustentabilidade da dívida e da ausência de reformas estruturais.
Segundo Dias, as declarações de Lula, que frequentemente defendem maior intervenção estatal e aumento de despesas, reforçam esses temores.
“Quando o presidente faz declarações que indicam falta de prioridade para o controle fiscal, o mercado reage negativamente, temendo um descontrole fiscal no longo prazo”, pontuou.
Essa falta de controle aumenta a incerteza no mercado, levando os investidores a exigir prêmios de risco mais elevados, o que afeta diretamente o custo de crédito e o ambiente de investimentos no Brasil.
Além disso, ele destaca que, sem reformas e um comprometimento claro com a responsabilidade fiscal, o país pode enfrentar ainda mais dificuldades para manter a confiança dos investidores, especialmente em períodos de desaceleração econômica.