Política

Guerra pode afetar IPCA e cortes na Selic? Analistas opinam

Analistas dizem que ainda é cedo para prever se guerra causará impactos imediatos na economia brasileira

Desde o último dia 7 de outubro o mundo anda aflito por conta da eclosão da guerra entre Israel e Hamas. Além do desespero causado pela violência do conflito, que já contabiliza milhares de vítimas, existe também preocupação de ordem econômica.

O Oriente Médio é uma das regiões mais importantes na produção do petróleo, o que de imediato causa o temor de que o preço da commodity suba de forma a afetar preços nos quatro cantos do globo.

No Brasil, por exemplo, a alta da gasolina foi o principal fator a impulsionar o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de agosto, que avançou 0,26%, valor menor que o consenso Refinitiv, que estimava inflação de 0,34%.

Analistas ouvidos pelo BP Money dizem que ainda é cedo para prever se a guerra causará impactos imediatos na economia brasileira, mas avaliam que a possibilidade existe e aumenta caso o conflito se intensifique.

André Meirelles, diretor de alocação e distribuição da InvestSmart XP, lembra que, além de países como Irã, Iraque e Arábia Saudita reunirem quase 20% da produção diária de petróleo, Israel é produtor importante de itens utilizados principalmente no agronegócio, que se for afetado, pode trazer problemas para o Brasil.

“É preciso avaliar se haverá paralisação das atividades produtivas em Israel, dado que o país é exportador de produtos utilizados em fertilizantes, o que também pode influenciar no preço desses insumos”, afirmou.

Hulisses Dias, especialista em finanças e investimentos, observa que a escala da guerra pode trazer consequências irreversíveis. “Caso a guerra ganhe maiores proporções, não só o Brasil como outros países serão impactados com inflação maior, resultado da alta das commodities, principalmente o petróleo. O petróleo vem em tendência de alta desde julho, com o Brent cotado agora a 89 dólares. O rompimento de uma resistência nos 95 dólares deve fazer a commodity buscar patamares ainda mais altos”, alertou.

Já Luiz Felipe Bazzo, CEO da Transferbank, é mais otimista e entende que os efeitos do conflito podem afetar de forma indireta a economia local. Porém, ele acredita que a política monetária do BC (Banco Central) é eficaz o suficiente para o controle da inflação.

“Enquanto os eventos no Oriente Médio podem afetar a inflação no Brasil, eles não são o único fator determinante. A capacidade do Banco Central de implementar políticas eficazes e a dinâmica econômica interna também desempenham papéis importantes na determinação da inflação. O Brasil ainda pode trabalhar para atingir suas metas de inflação, mesmo em um ambiente global instável”, analisou.

Selic

Sobre os possíveis impactos na taxa de juros, os analistas seguem em linha com o pensamento do diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, que, na semana passada, garantiu que a guerra não afetará o ritmo de cortes na Selic imposto pelo Copom (Comitê de Política Monetária).

“Por ora, não entendo haver qualquer sinal de efetivamente haver um cenário inflacionário por conta do conflito e eventual influência nas decisões do Copom”, disse Luiz Felipe Bazzo. “Este é um risco que o Banco Central já incluiu no radar. Pela minha leitura, os acontecimentos recentes não inviabilizam os cortes projetados para a Selic”, complementou Hulisses Dias.

Por sua vez, André Meirelles avalia que não há indicativos significativos na inflação que influenciam pausa nos cortes, porém cita um fator que pode contribuir para uma revisão do Copom.

“Outro efeito da guerra pode ser o aumento da aversão ao risco dos investidores, o que poderia aumentar ainda mais a taxa de juros dos títulos americanos, diminuindo o espaço para queda na Selic, uma vez que reduziria o diferencial de juros entre o Brasil e os Estados Unidos”, comentou.

A previsão é que o Copom promova mais duas reduções de 0,5 ponto percentual da taxa Selic até o fim do ano.